Desde que o novo coronavírus começou a infectar pessoas na região, a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS), que abrange 49 municípios da Serra, Campos de Cima da Serra e Hortênsias, recebeu 25 denúncias por meio da ouvidoria e uma requisição de inspeção encaminhada pelo Ministério Público (MP) Estadual. E foi justamente esta última que resultou em uma vistoria e recomendações de adequações no Hospital Nossa Senhora da Oliveira em Vacaria.
A solicitação feita pela Promotoria Especializada de Vacaria à 5ª CRS foi provocada por uma denúncia da comunidade que referia irregularidades ou falta de adoção de procedimentos no hospital. Ela ocorreu depois que uma paciente morreu e teve resultado positivo para covid-19. A informação que chegou ao MP foi que, à época da internação, a mulher de 75 anos teria ficado fora da área de isolamento e isso poderia ter causado contaminação no local. Diante da suspeita, o promotor Luis Augusto Gonçalves Costa enviou uma série de quesitos à 5ª CRS, para saber se o plano de contenção realizado pelo hospital tinha sido o adequado, assim como se os procedimentos estavam de acordo com o que determinam as normas e protocolos relativos à covid-19. Além disso, perguntava sobre o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e sobre a disponibilidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em isolamento para pacientes de covid-19.
A inspeção foi realizada pela Vigilância Sanitária da 5ª CRS no dia 14 deste mês. A equipe verificou conformidades e inconformidades que foram apontadas em um relatório emitido no dia 18. De acordo com a diretora do hospital, irmã Adelide Canci, a maioria das adequações já foi feita e outras foram encaminhadas.
Para o promotor, que integra o comitê de combate à covid-19 no município, faltou comunicação.
– O problema que detectamos e estamos tentando corrigir é a falta de comunicação entre os órgãos municipais, vigilância, Secretaria de Saúde e hospital, e por parte deles com a comunidade – ponderou o promotor.
A partir desse diagnóstico, foi designado um servidor do hospital e um da prefeitura que ficarão responsáveis por abastecer de informações os boletins diários, chamados de "covid Vacaria", que começaram a ser divulgados nas redes sociais nesta quarta-feira. Sobre as recomendações feitas pela vigilância, elas foram encaminhadas pela Promotoria ao hospital.
– Recomendei ao hospital que se ajuste conforme os apontamentos em desacordo e eles já estão se adequando – disse o promotor.
Único pedido
De acordo com a coordenadora regional de Saúde, Tatiane Fiorio, este foi o único pedido que chegou à 5ª CRS, relativo a hospitais nesse período.
– Os técnicos, quando retornaram da inspeção, me relataram que tiveram uma surpresa muito positiva (sobre o hospital) – disse Tatiane.
As 25 denúncias recebidas pela 5ª CRS vindas da ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS) referentes ao novo coronavírus foram sobre aglomeração de pessoas no comércio e em cultos religiosos, não oferta de álcool gel em locais públicos e não uso de máscaras. Algumas situações pontuais também foram registradas, como comercialização irregular de álcool por exemplo. Neste último caso, a fiscalização é feita pela própria coordenadoria.
– Em casos normais, como situações de EPIs e aglomerações, encaminhamos ao gestor municipal, conforme a cidade que veio a denúncia para que faça a investigação. Depois, ele tem que nos retornar para que façamos o fechamento dessa denúncia na ouvidoria e possamos dar o retorno ao reclamante – explicou a coordenadora.
Como acessar a ouvidoria
:: Envio de manifestações para denunciar irregularidade, fazer reclamação, sugestão, solicitação, elogio ou pedir informações relativas à saúde.
:: Pela internet: no link ouvidoria SUS na página da Secretaria de Saúde do Estado.
:: Pelo telefone: ligar para o 0800 6450 644 ou para (54) 3221-1969, na 5ª CRS.
O que apontou a inspeção
Conformidades:
:: O plano de contingência do hospital é atualizado conforme as normas estaduais e federais.
:: Há uma unidade destinada para atendimento de pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19 com dois leitos semi-intensivos e um leito de UTI adulto de isolamento.
:: A instituição tem uma área onde pode abrir uma UTI com oito leitos, mas que não foi montada ainda por falta de recursos para aquisição de camas e equipamentos.
:: O hospital adota as medidas mínimas previstas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para prevenção de surtos, como restrição de visitas, informações aos pacientes e acompanhantes, uso obrigatório de máscaras, fornecimento de EPIs adequados aos profissionais e condições de higienização de mãos, distanciamento em ambientes coletivos e atendimento em ambiente específico para pacientes suspeitos ou confirmados de covid-19.
:: Foram realizados testes nas pessoas que tiveram contato com a paciente que morreu.
:: O hospital apresentou ainda documentos que comprovam a testagem dos profissionais, algo que também foi questionado pela comunidade.
Inconformidades:
:: Falta de sinalização visual sobre higiene respiratória e etiqueta da tosse.
:: Falta de registros sobre monitoramento do uso adequado dos equipamentos de proteção.
:: Falta de janelas ou sistema de exaustão na sala de observação do ambulatório que tem quatro leitos.
:: Falta de antecâmaras ou vestiários de barreira, com áreas onde os profissionais se paramentam ou retiram as roupas de proteção, no acesso à unidade de covid-19.
:: Falta de orientação visual sobre o uso adequado de EPIs na UTI e unidade de covid-19.
:: O quarto de isolamento da UTI não tem janela.
:: Necessidade de isolar parte da UTI para poder receber pacientes infectados pelo novo coronavírus, o que poderia ser realizado por meio da instalação de divisórias físicas de vidro ou material rígido ou marcação no chão. A UTI tem 10 leitos, sendo um deles de isolamento. Sobre isso, a administração informou à vigilância que dispõe de espaço em um setor de isolamento para atender aos pacientes de covid-19 e que só receberá pessoas infectadas na UTI caso não haja outra alternativa.
O que diz o hospital:
:: Foram dispostos cartazes sobre higiene respiratória e etiqueta da tosse nos locais que não tinham.
:: Foi feita uma ficha que já está sendo usada para auditoria interna sobre uso de EPIs.
:: A sala de observação do ambulatório possui janela para o corredor (não para fora do prédio) e possui ar condicionado. A sala será transferida para uma parte que atualmente está em obras e abrigará a ala de urgência e emergência, quando a reestruturação for concluída. Previsão é em 90 dias.
:: Uma empresa foi contratada para instalar as antecâmaras. O serviço deve ser concluído até sexta-feira.
:: Foram colocados cartazes sobre o uso adequado de EPIs nas unidades.
:: Há uma janela no quarto de isolamento que antes estava lacrada porque era a determinação que vigorava até então para UTIs. Após a inspeção, ela foi aberta.
:: Parte da UTI foi isolada com marcações no chão.
Paciente foi para isolamento dias depois de internação
A moradora de Vacaria de 75 anos que teve a morte confirmada pela Secretaria Estadual de Saúde como sendo causada pelo novo coronavírus foi internada no dia 28 de abril no Hospital Nossa Senhora da Oliveira. Segundo a instituição, ela chegou com sintoma de insuficiência cardíaca e o hospital não foi informado que ela estava em isolamento. Assim que soube, ela foi isolada. Tanto os familiares quanto as pessoas que tiveram contato com ela no hospital foram testados e os resultados foram negativos.
A Secretaria de Saúde do município investiga se outras pessoas da comunidade que tiveram resultado positivo tiveram contato com ela antes de ela ser internada.
A ordem de isolamento foi dada à paciente em 17 de abril, quando procurou uma UBS com sintomas.