:: ESPANHA
A situação por aqui é muito grave, são cerca de 120 mil infectados e quase 11 mil falecidos, números assustadores infelizmente. Estamos passando por um momento muito delicado, desde o dia 15 de março o governo decretou estado de alarme em todo o país e o fechamento de vários setores como no meu caso, a hostelería (bares e restaurantes). Aqui não podemos sair de casa sem um motivo específico como para trabalhar, ou ir a farmácia e supermercado. Caso não se cumpra, estamos sujeitos a multas e, dependendo do caso, prisão.
É muito triste passar por tudo isso, jamais pensamos que isso aconteceria, acredito que poderíamos ter evitado muitos contágios se tudo isso fosse feito com mais antecedência e preocupação com a pandemia, não é uma gripezinha como escuto pessoas falando, é altamente contagioso e somente quem está no meio da tormenta pode falar efetivamente como é! Na Itália, em 24 horas, chegam a morrer milhares de pessoas, ou seja, meu conselho: se cuidem brasileiros e desejo que no Brasil não chegue nem perto do que estamos vivendo aqui; estamos no meio de uma legítima guerra lutando contra um inimigo invisível. Para combater este inimigo é preciso evitar ao máximo o contato com outras pessoas, nada mais!
Todos os dias, às 20h, nós e todos os espanhóis saímos à sacada para aplaudir os profissionais que estão na linha de frente do combate à pandemia. Isso inclui profissionais da saúde e também as Forças Armadas, bombeiros, funcionários de farmácia, transportadores, etc... É muito bonito o apoio popular, somente unidos vamos sair desta crise sanitária que também é, consequentemente, uma crise econômica.
Antonio Natalio, 37 anos, empresário de Garibaldi que mora em Irún.
:: ÍNDIA
A Índia é um país conhecido por ter uma cultura ímpar, com uma grande diversidade populacional e crenças em diversos deuses. Talvez por ter esse pensamento de que tudo é um "karma", demorou para o indiano dar se conta da gravidade e do risco iminente que todos estavam expostos, sendo o vírus algo passageiro e sem consequências maiores. Entretanto, com o passar do tempo e com a velocidade das informações, o indiano viu que o que parecia impossível estava muito perto de se tornar realidade. Em janeiro, quando retornamos ao Brasil para visitar familiares, o cotidiano continuava igual, não se ouvia falar da pandemia mundial que estava acontecendo, tanto que nenhuma medida preventiva tinha sido tomada pelo autoridades indianas.
Uma semana antes do Holi — festival que celebra a chegada da primavera com quatro dias de comemorações — as autoridades proibiram que as pessoas saíssem às ruas. No dia 22 de março, o Primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, determinou que ninguém poderia circular nas ruas das 7h às 21h. No dia 24, uma medida ainda mais drástica foi tomada: a Índia foi colocada em lockdown por 21 dias, uma vez que os casos de coronavírus triplicaram em um espaço de quatro dias. Não tem se um caos instaurado ou pânico na população, dado que as condições mínimas de sobrevivência estão sendo garantidas. Vale salientar que aeroportos, portos, rodovias e metrôs estão parados.
Os aplicativos de mobilidade urbana estão inativos no momento. Somente hospitais, farmácias e supermercados estão funcionando. A embaixada brasileira está dando todo apoio e suporte necessário aos viajantes, o que gera uma certa segurança aos que estão aqui nesse momento de turbulência. Muitos turistas brasileiros estão aqui, outros a trabalho, sendo que todos os vôos de volta foram cancelados. Temos a convicção que o lockdown foi a melhor decisão a ser tomada, pois como controlar a disseminação de um vírus, em um país com uma população de 1,3 bilhões de habitantes? Não sabemos se os casos de Covid 19 informados pela imprensa estão corretos, mas temos a certeza que nessa fase difícil que o mundo vive, a melhor saída é ficarmos em casa.
Kelen Adami da Silva, 36 anos, administradora de empresas de Caxias do Sul que mora em Gurgaon.
:: PORTUGAL
Moro em Lisboa há dois meses e já percebo uma diferença brusca no modo de viver em virtude da pandemia. Vim fazer um semestre acadêmico e nunca imaginei passar por uma situação como essa. Quando cheguei, as ruas estavam cheias, havia turistas por todos lados, a cidade não parava. Seguindo exemplos de outros países europeus, antes mesmo do decreto de estado de emergência, começamos a fazer quarentena voluntária.
Quando decretado, diversos estudantes voltaram aos seus países. Não há mais turistas nas ruas e permanecemos o máximo possível em nossas residências. As atividades escolares foram encerradas e as universidades passaram a ter aulas online. Os mercados e as farmácias continuam abertos, porém com o horário de atendimento reduzido. Não vi policiais próximos a minha residência, mas há bombeiros que passam desinfetando as ruas. Pessoas fazem filas para entrar em lugares fechados e a regra de manter-se a pelo menos um metro de distância está sendo cumprida.
Tenho saído apenas para ir ao mercado e exercitar-me. Até o momento não tivemos notícias de descumprimento das regras. Porém não sei o que acontecerá nas próximas semanas/meses, pois, com o verão chegando, os dias passam a ficar mais longos e creio que isso despertará a vontade de sair das residências. Não é a experiência que eu imaginava quando sonhava com intercâmbio, mas vejo a situação como uma oportunidade de ser resiliente.
Caso queiram acompanhar as novidades, estou relatando tudo o que estou vivendo por meio do canal no Youtube.
Rafael Paese Gregolon, 19 anos, estudante de publicidade e propaganda de Caxias do Sul que mora em Lisboa.