:: MALTA
"A ilha que eu moro é um país bem pequeno da União europeia, menor que Caxias, em território e em população. Há duas semanas, já aconteceram os primeiros episódios de caos coletivo, com liquidação dos estoques dos supermercados, fim do álcool gel e máscaras, pessoas fazendo estoque de remédios sem nem estarem doentes. A proximidade com a Itália deixou todo mundo paranóico e até hoje ainda temos pessoas entrando e saindo do país, o presidente entende que as pessoas que querem sair, devem sair e as pessoas que querem voltar, têm esse direito. A ilha não tem estrutura alguma para suportar uma crise de doenças altamente contagiosas como a Covid-19. Trabalho em uma companhia internacional, que já ofereceu desde a última sexta feira a possibilidade de home office para a equipe.
Eu, felizmente, consegui me adaptar com isso no apartamento onde moro. O perigo real é a falta de noção, egoísmo, ignorância e total alienação da população, onde entendem que uma quarentena sem obrigatoriedade do governo se transforma em feriado. Praias cheias de pessoas pelo simples fato de que tem sol, sendo que em Malta, temos 347 dias de sol por ano — uma das maiores incidências solares do Mediterrâneo. Na minha rotina, pouca coisa mudou e eu estou de fato fazendo a minha auto quarentena, por respeito e por uma simples decisão de não me tornar um agente de disseminação do vírus. O medo das pessoas gira em torno de não ter mais papel higiênico, ou água, ou massa e molho de tomate.
O meu medo é estar longe das pessoas que eu amo e, consequentemente, me sentir impotente em poder ajudá-los caso a situação fique tão crítica quanto tudo indica que vai ficar. Se eu puder dar só um recado para Caxias e para a Serra de uma forma geral, é que não esperem as decisões da iniciativa privada para se proteger. Não sejam passivos. É da mesma forma, entendam que essa epidemia veio para ensinar coisas que ainda não estávamos preparados para aprender, o ser humano desaprendeu a viver em comunidade e esqueceu o que é ter empatia. Quem puder, respeite a vida dos seus amigos e familiares e fique em casa. Simples assim. Sem drama, não é pedir demais, né?"
Andressa Rigotti, 32 anos, relações públicas de Caxias do Sul que mora em San Gwann.
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:: ITÁLIA
"A gente está na região mais devastada da Itália. Mas toda a família está bem. Tem muita gente doente, os hospitais estão lotados. Estou trabalhando de máscara e a cidade está parada, circula só quem necessita, e com documentação. A Monique (esposa) e o Gabriel (irmão) trabalham de casa. Infelizmente, aqui na Itália tomaram a decisão muito tarde, mas não é o fim do mundo. Porém, devemos nos comportar de maneira inteligente. O vírus tem um contágio muito fácil e a indicação é de evitar aglomerações e ambientes fechados, cobrir o nariz e a boca ao tossir ou espirrar, manter a higiene das mãos, os ambientes bem ventilados, não compartilhar objetos pessoais. Aqui também chega muita fake news, muita informação errada sobre o assunto. Enfim, o governo italiano está tomando todas as medidas de contenção do vírus, lavando as ruas das cidades e pedindo à população para permanecer em casa o maior tempo possível, não pelo grau de mortalidade do vírus, mas pela facilidade de contágio".
Klisman Dorigan Eberle, 29 anos, inspetor de qualidade de Caxias do Sul que mora em Bérgamo.