O uso do celular é a terceira maior causa de mortes no trânsito no Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet). Cerca de 150 pessoas morrem todos os dias no país em acidentes envolvendo o uso do aparelho. O assunto traz números alarmantes, mas ainda gera dúvidas (leia mais abaixo). Pode-se pensar, por exemplo, que o viva-voz não apresenta tanto perigo, uma vez que ele deixa as mãos do condutor livres; no entanto pesquisas mostram o contrário. A Abramet realizou um estudo que comparou o desempenho dos motoristas: sem o celular, eles levaram 3min48seg para percorrer o percurso proposto. Com o viva-voz, eles demoraram 4min17seg para concluir o mesmo trajeto.
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Para a psicóloga Patrícia Prigol, a explicação da diferença de resultado pode estar no acúmulo de comandos dados ao cérebro. Fazendo o uso do aparelho, sobem os níveis de cortisol, principal hormônio relacionado ao estresse. Ele, inclusive, coloca as defesas do organismo em alerta e diminui consideravelmente a capacidade do cérebro de administrar essa multiplicidade de informações e reações:
— Nosso cérebro funciona assim: na sobrecarga de informações, ele tende a bloquear parte desses comandos para não entrar em "curto". Assim acontecem os chamados "apagões" momentâneos ou perda de memória recente, levando à distração.
Para tentar retomar o controle da situação, conforme a especialista, ativamos uma defesa psicológica chamada de formação reativa, que confunde o motorista. Na hora de usar o freio, por exemplo, ele pode acabar pisando no acelerador.
O ato de conversar com alguém prejudica muito a concentração necessária para andar pela rua, por exemplo, como explica Eduardo Biavati, sociólogo e consultor de segurança no trânsito. Isso vale também para o uso do viva-voz ou em diálogos com quem está dentro do próprio carro:
— A conversação é um processo cognitivo. Precisamos visualizar mentalmente a pessoa com quem estamos falando, mesmo que isso seja irrelevante para a conversa. Imagina então quando é uma pessoa conhecida, que te liga nervosa para contar algo importante. Fica impossível interagir, olhar para a frente e prestar atenção no trânsito ao mesmo tempo.
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Biavati reforça que essa dificuldade é parte de uma limitação do cérebro humano — capaz de realizar tarefas de maneira rápida, mas não simultânea — e reflete:
— As distrações não são inofensivas. Elas diminuem a sua atenção visual, auditiva e cognitiva e o quanto você será capaz de preservar a integridade das pessoas com quem você compartilha a rua.
Provocar um acidente certamente não é a intenção de quem dirige usando o celular. Mas, como lembra Patrícia, quem se envolve em situações assim precisa aprender a lidar com um marco definitivo na vida, uma vez que não há reversão do acontecimento:
— As pessoas que passam por essa experiência dolorosa, muitas vezes envolvendo a morte de outras por sua negligência, apresentam um quadro de estresse pós-traumático e podem precisar de medicação e anos de terapia. Existem reparações jurídicas e monetárias, mas o dano psicológico é irreversível.
Gastos com internações são altos
De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2017, no Brasil, 35,4 mil pessoas morreram em decorrência de acidentes de trânsito e 182.838 foram internadas. Os gastos com as internações foram de R$ 260,8 milhões.
Pode ou não pode?
A penalidade para quem é autuado segurando o celular ou usando fones de ouvido é a mesma? Não. O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que dirigir com fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou telefone celular é infração média, com quatro pontos na CNH e multa de R$ 130,16. Para quem manuseia ou segura o aparelho, a infração é gravíssima, com multa de R$ 293,47 e sete pontos na CNH.
E atender ligações pelo viva-voz ou dispositivo bluetooth do carro pode? Também não. Em reportagem veiculada pelo Pioneiro no ano passado, o instrutor da Fiscalização de Trânsito da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Estado, Marcelo Saturnino, afirmou que, ao prever como infração o fato de o motorista usar o celular ao dirigir, a legislação deixa subentendidas também as formas de uso como o viva-voz e bluetooth. O Detran-RS tem o mesmo entendimento. Essa é uma questão tratada como infração, muito mais porque o uso do celular causa distração e aumenta o risco de acidentes do que por previsão legal, já que a legislação ainda é genérica e não menciona o uso da ferramenta.
Estou parado na sinaleira. Posso usar o aparelho? Aqui a resposta também é não. Mesmo com o veículo parado em semáforos ou pedágios, a utilização do celular não é permitida.
E quanto ao uso do GPS? Pode, sim. Mas você deve programar a sua rota com o veículo estacionado, antes de sair dirigindo.