Os R$ 18,5 milhões a menos no orçamento do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), confirmados na semana passada, não dimensionam o impacto que isso terá no cotidiano de 22 mil estudantes, de 1,2 mil professores e das milhares de pessoas beneficiadas direta ou indiretamente pelo trabalho da instituição em 17 cidades gaúchas. É preciso ir além dos muros dos estabelecimentos de ensino federal para entender o efeito do contingenciamento de 30% de verbas anunciado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, semana passada.
O corte pode significar o fim de aulas gratuitas de inglês ofertadas todos os anos no campus de Caxias do Sul para donas de casa, metalúrgicos, desempregados ou qualquer pessoa disposta a se qualificar. Pode ser o fim do reforço, também gratuito, no aprendizado para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em aulas conduzidas por doutores e mestres. Ou o fim definitivo de atividades de estudantes do Ensino Fundamental da rede pública de Farroupilha que aprimoram o conhecimento em laboratórios com equipamentos do IFRS. A partir do segundo semestre, a projeção é de comprometimento das atividades internas.
O instituto, que tem unidades em seis cidades da Serra, teve o orçamento reduzido de R$ 61, 8 milhões para R$ 43 milhões em 2019, segundo cálculos da reitoria. Isso significa que cada campus no RS perderá R$ 1,09 milhão em média no orçamento para este ano. Faltará dinheiro para gerir uma estrutura que já sofria com déficit de verbas, o que impactará inicialmente no custeio. A partir dos próximos meses, a reitoria diz que não terá como honrar compromissos assumidos com prestadores de serviço.
– Tomamos as primeiras medidas de gastos que podem ser suspensos, mas não temos garantia dos contratos continuados. Assumimos para 2019 compromisso com vigilância, limpeza e manutenção e não teremos como honrar o contrato a partir do início de outubro – projeta o reitor do IFRS, Júlio Xandro Heck.
O instituto já determinou a primeira contenção de gastos para os próximos 60 dias, que suspende o transporte usado para visitas técnicas de estudantes a empresas e a compra de materiais para aulas em laboratórios – por enquanto, será utilizado o que tem de estoque.
– É o recurso do dia a dia, não é só de obra como o governo está divulgando. Tudo está em risco, as bolsas dos estudantes de pesquisa e extensão, o funcionamento geral da instituição – diz Heck.
Mobilização em Brasília, protesto em Caxias do Sul
O reitor do IFRS diz que a primeira reação diante do corte de recursos é a mobilização para sensibilizar e reverter a medida no Ministério da Educação. Ele embarcou ontem para Brasília para se unir a outros reitores e ao Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif).
– Não podemos aceitar os cortes passivamente porque não são cortes republicanos, não é o esperado de um ministério que deseja que a educação se desenvolva – critica Heck.
Em Caxias do Sul, o Diretório Central de Estudantes (DCE) do IFRS programou um ato de protesto na Praça Dante Alighieri para as 17h30min do dia 15 de maio. No mesmo dia, às 8h, um ato semelhante ocorre na Capital. Antes dos protestos, serão convocadas assembleias entre os estudantes para instituir comitês em defesa do IFRS.
ABRANGÊNCIA
* O IFRS tem cerca de 22 mil alunos de graduação, pós-graduação, extensão e Ensino Médio no Rio Grande do Sul. Desse total, cerca de 2 mil são adolescentes matriculados em cursos técnicos do Ensino Médio. Somente em Caxias, são 1,6 mil alunos matriculados.
* A Serra tem 8 mil estudantes distribuídos nas unidades de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Feliz, Vacaria e Veranópolis. Metade deles é do Ensino Médio.
* O instituto oferece cerca de 200 cursos em 17 unidades no Estado e trabalha fortemente com pesquisas. Em Caxias do Sul, são cinco cursos de graduação, dois cursos de pós-graduação e quatro cursos técnicos. No ano passado, o campus de Caxias ofertou 350 vagas em cursos de extensão variados.
* Como todos os cursos são gratuitos e o conceito do IFRS alcançou notas 4 e 5 em alguns cursos na avaliação do MEC do ano passado, a procura por vagas é sempre grande. O processo seletivo em Caxias do Sul, por exemplo, é acirrado: médias de 40 a 50 pessoas que disputam uma vaga.
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