Integrantes de duas cooperativas habitacionais de Farroupilha estão se mobilizando para destituir o atual presidente, Raul Herpich, do cargo. Os membros das associações Terra Nossa e Meu Pedaço de Chão se dizem insatisfeitos com a ausência de informações sobre as finanças dos conglomerados e a demora na entrega dos terrenos que são parte do consórcio firmado em meados de 2008.
As duas cooperativas contaram com aproximadamente sete mil adesões desde que foram constituídas. Para se associar, era necessário comprovar uma série de critérios, entre eles, residir no município há mais de três anos, não possuir imóvel e ter uma renda de até cinco salários mínimos. A partir daí, cada morador arcou com parcelas de R$ 50 e R$ 100 mensais, conforme o modelo de consórcio escolhido.
Cerca de onze anos depois e desistência de cerca de quase metade dos associados – hoje são cerca de 3,7 mil que ainda pagam as parcelas – os terrenos não estão em condições de serem entregues e ainda não existe uma data para isso acontecer. Em 2013, todas as parcelas passaram a custar R$ 100.
O encaminhamento pela saída do presidente foi resultado de um encontro realizado na tarde do último sábado (30), quando cerca de 600 integrantes de ambas as associações se reuniram na prefeitura de Farroupilha e firmaram uma comissão de quatro representantes para encaminhar uma assembleia extraordinária. A ações dos moradores visa garantir a prestação de contas e firmar um prazo para que os terrenos possam ser ocupados. Para isso, precisam garantir a adesão de 1/5 dos integrantes de cada uma das associações e votar pela eleição de uma nova diretoria.
— Ele administra as contas sozinho, sempre movimentou as contas de casa e tem contas particulares do dinheiro. As pessoas que aguardam pelos terrenos e desistem não têm uma garantia de que o dinheiro efetivamente foi investido na cooperativa. Quando as pessoas abriam mão de sua parte, ele pegava esse carnê e saía vendendo como um terreno que existia, mas é apenas uma quota. O nosso problema é o fato de sabermos que ele trabalha sozinho, que ele tem as contas no banco em seu nome. Ninguém sabe o que ele faz com o dinheiro — explica um dos representantes da cooperativa Terra Nossa, Ademir Wermeier.
Segundo Wermeier, o número de adesões mínimas já foi obtido pelas associações, mas os moradores querem obter mais assinaturas para reforçar a mobilização. Outro integrante, Luiz Ferdinando Nunes Aguiar, ex-secretário municipal de Habitação, reforça o coro de desconfiança com relação à gestão das associações.
— Ele se elegeu presidente das cooperativas e as pessoas têm muita desconfiança em relação a sua gestão. Já chegou a ser sete mil associados e hoje é metade. Tem que afastar o presidente – aponta Aguiar.
— Eu fui várias vezes procurar o Raul e ele sempre se afasta e não dá explicação, e nunca tive um convite para participar de reunião nenhuma. Lembro de uma reunião que aconteceu em 2017 e, depois disso, nada. Faz anos que estamos pagando e não temos resultado nenhum. Queremos tirar ele da diretoria — explica Clonir Worm, que está na cooperativa desde 2013.
“Não tem prazo mesmo para a entrega”, diz presidente
O presidente das associações, o também vereador Raul Herpich (PDT), nega que as contas não sejam apresentadas de uma forma transparente e que os moradores passem dificuldade para a devolução dos valores. Ele diz que foram devolvidos à população cerca de R$ 18 milhões das pessoas que desistiram dos terrenos. Confome Herpich, foram comprados até agora cerca de 117 hectares que estão situados dentro do perímetro urbano de Farroupilha. Cada terreno vai custar cerca de R$ 40 mil. Segundo ele, o valor total pago pela área é de R$ 70 milhões. Sobre as reclamações da comunidade em relação a sua gestão, ele argumenta que o cargo está à disposição.
— Não tenho nem opinião (sobre o pedido de destituição). Em 2012 fiz uma grande assembleia para eleição de uma nova diretoria e ninguém se apresentou a até agora ninguém o fez. É um trabalho comunitário pelo qual eu não recebo salário e estou me desgastando com essas polêmicas — afirma.
Herpich diz que um balanço das finanças será publicado nesta sexta-feira (5). Segundo ele, os valores de cada área aumentaram, foram sendo corrigidos na medida dos anos e isso prejudicou a entrega dos lotes prometidos.
— Não tem prazo mesmo para a entrega, porque ainda tem que construir pavimentação, água, luz, esgoto pluvial, estação de tratamento de afluentes, boca de lobo, calçamento e escola, individualizar os lotes e publicar isso em um jornal de grande circulação. Tínhamos uma expectativa que mudou com o decorrer dos anos — destaca.
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