Nem bombeiros, nem outra atividade qualquer. A estrutura erguida na margem da RSC-453, no bairro Pôr-do-Sol, para ser sede da unidade do Corpo de Bombeiros na Zona Norte está desocupada há quase três anos. A fachada ainda preserva o letreiro e o logotipo originais de quando o quartel foi entregue à comunidade, em 27 de junho de 2011. Em um pequeno depósito de lixo, caprichosamente amontoado na lateral direita na entrada do prédio, fichas que serviriam para avisos de ocorrências se misturaram a restos de colchões, madeiras, roupas e outros entulhos. No entorno, o mato alto é só mais um entre os vários sinais do abandono.
Na parte construída, muitas das portas e todas as maçanetas foram arrancadas, assim como as caixas de disjuntores, tomadas, luminárias e parte do forro. As pias e sanitários que restaram foram quebrados. Da mesma forma, quase todos os vidros das janelas. A frase "CB Zona Norte" escrita no canto superior do espelho de um dos banheiros é um dos poucos vestígios de que um dia o prédio sediou uma das guarnições do 5º Batalhão de Bombeiro Militar (5º BBM). Planejado para atender a 32 bairros e loteamentos da parte norte da cidade, o quartel funcionou por cerca de cinco anos, até encerrar as atividades por falta de efetivo em 16 de março de 2016.
A edificação de 530 metros quadrados custou, à época da construção, R$ 550 mil. Os recursos vieram do município e do Fundo de Reequipamento do Corpo de Bombeiros (Funrebom). O prédio nem chegou a ser concluído. No segundo andar, não há divisórias e as paredes não têm reboco e acabamentos. Desde a desocupação, o prédio ficou à mercê do vandalismo e da depredação.
No início deste ano, a corporação da Serra recebeu um incremento de 20 dos 32 soldados previstos inicialmente. A chegada do efetivo possibilitou a reabertura, em maio, do quartel do bairro Desvio Rizzo, que também estava fechado. Contudo, o quantitativo foi insuficiente para reabrir o posto da Zona Norte. Para manter o funcionamento, são necessários dois bombeiros por dia, num total de sete servidores. Um concurso para 150 novos bombeiros está em fase inicial e a previsão de formatura é para outubro de 2019. Só depois disso, os novos soldados serão distribuídos para as corporações do Estado.
Por enquanto, a guarnição do Centro, que fica a cinco quilômetros do quartel fechado, desloca-se para atender a incêndios, acidentes ou qualquer outra ocorrência na região norte.
— O ideal é que o Corpo de Bombeiros chegue nos locais das ocorrências o mais rapidamente possível. Quanto mais unidades tivermos na área de ação, menor será o tempo resposta e mais eficiente serão os resultados de nossa intervenção. Seja no combate a incêndio ou no atendimento pré-hospitalar, nossos atendimentos de urgência sempre necessitam agilidade e pronta resposta — avalia o major Maurício Ferro Corrêa, do 5º BBM.
Líderes comunitários pedem reabertura ou ocupação
O 5º Batalhão de Bombeiros Militares (5º BBM) calcula em cerca de 90 mil moradores o raio de atuação da unidade fechada na região norte. Muitas das famílias vivem em situação de vulnerabilidade social, com ligações irregulares de energia elétrica e uso de fogões a lenha, entre outras condições que as tornam mais suscetíveis a incêndios.
Entre os bairros que eram atendidos pela unidade estão Santa Fé, Vila Ipê, Belo Horizonte, Pioneiro, Pôr-do-Sol, Monte Castelo, São Luiz e Vila Maestra. Para Joevil Reis da Silva, presidente da Associação de Moradores do Santa Fé, além da importância de ter uma unidade dos bombeiros na Zona Norte, o abandono do prédio representa um descaso com o dinheiro público.
— Para a gente é importante porque aqui é longe do posto dos bombeiros do Centro. E ali eles ficavam na margem da rodovia, tem saída rápida para toda a região. Além disso, é o patrimônio público que está sendo destruído com o tempo. É dinheiro nosso — argumenta o líder comunitário.
Na ocorrência mais grave registrada recentemente na região norte, um homem morreu devido a um incêndio no bairro Belo Horizonte. O fato aconteceu na madrugada de 26 de agosto. O fogo consumiu a residência de madeira localizada na Rua dos Tanoeiros, onde estava a vítima. Os bombeiros levaram cerca de duas horas e meia para combater as chamas.
— Santa Fé, Vila Ipê, Belo Horizonte e Cânyon são mais vulneráveis em caso de incêndio porque são casas de madeira — pondera Silva, que também considera que a presença da unidade no local resultaria em uma resposta mais rápida em casos de acidentes na Rota do Sol.
Já José Gonçalves da Silva, presidente da Amob do Pôr-do-Sol, bairro onde fica localizada a estrutura, espera uma definição sobre o uso da edificação, mesmo que não seja para os bombeiros. Ele diz que procurou a prefeitura para ver a possibilidade de instalar uma escola no prédio.
— Se não der para os bombeiros, pelo menos que façam outra coisa. Fizeram aquilo ali e ficou perdido, abandonado. Roubaram todas as coisas, quebraram tudo. Foi colocado dinheiro público ali — lamenta.
Prefeitura e bombeiros respondem pela estrutura
Questionada sobre a segurança e possível destinação do prédio, a prefeitura informou, por meio da assessoria de imprensa, que há uma destinação para o Corpo de Bombeiros e que, na última semana, a Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social enviou um documento questionando o comando local se tem interesse de usufruir ou não do prédio. Caso eles retornem formalmente relatando que não têm interesse, a prefeitura irá estudar uma nova destinação para o espaço.
O comandante do 5º BBM, coronel Julimar Fortes Pinheiro, diz que o prédio pertence ao patrimônio do município, mas bombeiros e prefeitura têm responsabilidade conjunta sobre a segurança e manutenção do local, que só deve ser reformado quando estiver garantido o efetivo necessário para ocupá-lo.
— É uma preocupação (a reativação da unidade). Primeiro, temos de realizar ações no sentido de empregar maior segurança àquilo que restou da edificação para evitar uma total depreciação. Estamos buscando isso até chegar às condições adequadas de efetivo e equipamentos para reativar aquele posto, porque ele é, sim, uma conquista — disse o coronel.