O Hospital São Carlos, única instituição de Farroupilha que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), protagonizou nos últimos cinco anos uma situação financeira dramática, com o risco de fechar as portas e encerrar o atendimento. Agora, o que parecia ser irreversível ganha contornos positivos. O resultado de esforço de gestão interna, de políticos que pleitearam emendas e, principalmente, da comunidade, é uma uma redução da dívida, de R$ 40 milhões para R$ 20 milhões.
— Foi um ano e meio de tsunami. Este ano, nós conseguimos respirar, saímos de um coma bastante profundo graças à ajuda das Voluntárias da Saúde, de empresários e de pessoas físicas. É uma conquista também da comunidade — avalia a superintendente do hospital, Janete Toigo.
Os detalhes de repasses públicos, nível de endividamento e outras informações financeiras serão repassadas à comunidade nos próximos dias, quando será apresentado o resultado da consultoria de profissionais do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. Determinado pelo Ministério da Saúde, o acompanhamento durou um mês e teve como objetivo melhorar a gestão e aprimorar processos, em busca da sustentabilidade da instituição.
— Por ora, eles nos adiantaram que a nossa localização é muito boa, que temos uma infraestrutura fabulosa e uma capacidade de ampliação muito boa — afirma Janete.
Enquanto o hospital estuda a capacidade de ampliar a gama de serviços ofertados, como os de alta complexidade, o que pode gerar mais recursos para deixar as dívidas para trás, a comunidade dá sinais de que voltou a acreditar na instituição de saúde. Uma das provas mais claras é que no fim do ano passado, o pagamento do 13º salário dos servidores ficou ameaçado e a classe pensou em paralisação. Quem contribuiu para que a situação se resolvesse, segundo a superintendente, foram empresários de Farroupilha. Eles tiraram dinheiro do próprio bolso para que a comunidade não ficasse com os serviços ameaçados.
— Eles nos emprestaram o valor como pessoas físicas, e pagamos um pouco por mês, sem juro algum. Isso mostra que as pessoas confiam no nosso trabalho — afirma Janete.
Neste ano, também, entrou na conta do hospital o dinheiro conseguido após viagens pluripartidárias de vereadores a Brasília. As emendas totalizaram quase R$ 2,7 milhões, dinheiro que representou alívio às contas.
Entre os poderes municipal, estadual e federal, é a prefeitura quem destina maior fatia de repasses. De acordo com o prefeito Claiton Gonçalves (PDT), é R$ 1,1 milhão da prefeitura, R$ 105 mil do Estado e R$ 700 mil da federação.
— Embora ainda tenha problemas para ser resolvidos, há hoje um namoro do hospital com serviços de alta complexidade, o que pode melhorar a capacidade de gestão. Nós aplaudimos esse novo momento que o São Carlos está vivendo — encerra o prefeito.
Voluntárias mudam realidade
Já são três anos de trabalho das Voluntárias da Saúde, mulheres que cuidam da manutenção do Hospital São Carlos sem receber um tostão em troca. São 18 mulheres que se reúnem semanalmente desde agosto de 2015. Elas são responsáveis por uma lista enorme de benfeitorias na instituição: pintura externa, troca de telhado, compra de rouparia e até reforma em móveis e estofados do pronto-atendimento. Toda a rouparia e os uniformes usados pela equipe do São Carlos também passam por máquinas de lavagem reformadas pelas voluntárias. O dinheiro para as ações vem da comunidade, que costuma atender ao apelo do grupo.
— Tudo o que a gente faz tem o apoio da comunidade. Quando iniciamos, o povo não acreditava que era possível. Hoje, as pessoas nos param e agradecem, dizem coisas bonitas. O que contagiou o povo solidário foi a nossa transparência — afirma a presidente do grupo, Lourdes Refosco.
São ações simples, mas que exigem dedicação e organização, atributos que as voluntárias têm de sobra. Uma amostra disso é uma caixinha de ofertas que elas colocaram na missa crioula celebrada neste Vinte de Setembro, no Acampamento Farroupilha da cidade. Em pouquíssimo tempo, a arrecadação resultou em R$ 601. Todas as iniciativas estão registradas em uma página nas redes sociais na qual o grupo mostra o quanto arrecadou e para que destinou o valor. Há eventos que tiveram até R$ 30 mil de lucro. O resultado está espalhado em todo o hospital. Duas das conquistas mais recentes, da última quinzena, são a substituição de dois conjuntos de baterias que alimentam o arco cirúrgico, aparelho que reproduz imagens em cirurgias, e o conserto de material usado no centro cirúrgico. Esses itens custaram mais de R$ 10 mil. Ao hospital, possivelmente, custaria mais:
— Nós conseguimos preços mais baixos em tudo porque explicamos aos fornecedores a situação, pedimos desconto, pagamos à vista. Há empresas que nos doam matéria-prima, e empresários que pagam a obra. A sala de esterilização, que estava interditada, foi reformada com a ajuda de uma empresa. Nós pagamos R$ 10 mil pelo inox, que a empresa vende a R$ 30 mil — explica Lourdes.
Quem quiser ajudar pode comprar uma rifa que está sorteando uma casa pré-moldada. Há diversos pontos de distribuição, mas o que mais movimenta compradores é o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio. Além de a casa estar exposta ali, os padres costumam lembrar, durante as missas, que fazer o bem também é ajudar a um local que atende enfermos. E o resultado é uma fila grande de compradores, diz Lourdes:
— A gente chama, a população ajuda.
A RIFA
:: O grupo Voluntárias da Saúde, que cuida do Hospital São Carlos, de Farroupilha, está rifando uma casa pré-fabricada para arrecadar fundos à manutenção dos serviços de saúde.
:: A casa foi adquirida pelo Grupo Feltrin, de Farroupilha, em parceria com a Casas Pagliarin, de Caxias do Sul. A moradia pré-fabricada tem divisória para dois quartos, sala, cozinha e banheiro.
:: Cada número custa R$ 25 e o sorteio será em 24 de novembro. Até lá, a casa ficará exposta no Santuário de Caravaggio. Os pontos de compra podem ser conferidos na página Voluntárias da Saúde de Farroupilha-RS, no Facebook.