Em setembro do ano passado, o radialista e estudante de jornalismo Bruno Caldart, 27 anos, foi surpreendido com a notícia de que seriam necessários R$ 300 mil para viabilizar o transplante de células-tronco que lhe permitiria se curar da Doença de Crohn, inflamação no sistema digestivo que o afeta há 13 anos. Uma quantia aparentemente inviável para ele e sua família de classe média, que reside na zona leste de Caxias. Um ano depois, no entanto, Bruno não só obteve o recurso necessário, como também já realizou o transplante e hoje se recupera do procedimento em sua casa no bairro Planalto.
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Em menos de sete meses, ele conseguiu arrecadar R$ 250 mil por meio de eventos beneficentes. De shows de rock a partida de futebol, incluindo ainda uma vaquinha virtual, familiares, amigos e pessoas desconhecidas se solidarizaram com Bruno e ajudaram.
— Não pensei que conseguiria tão rápido. Começamos as campanhas em outubro do ano passado. E, aos poucos, o movimento foi crescendo e começou a ficar cada vez mais próximo o valor. Em maio deste ano já havíamos obtido R$ 250 mil. Todos os tipos de pessoas me ajudaram, de empresas até gente mais pobre — conta Bruno.
Apesar do valor abaixo do estimado no orçamento dos médicos, a disponibilidade da quantia possibilitou que ele negociasse o preço e encaminhasse o transplante, que foi realizado em julho deste ano.
— O dinheiro não só deu para pagar o procedimento como também teve uma sobrinha que vai me permitir fazer as viagens, que vão se tornar frequentes, pois meu tratamento precisa de acompanhamento constante.
Além da grandiosidade do gesto, o estudante destaca que a mobilização ajudou também a dar visibilidade à Doença de Crohn, cujo tratamento é ainda bastante raro no Brasil. O transplante de Bruno foi apenas o de número 38 no país.
— É um tratamento bem raro e a doença ainda não é tão conhecida, tanto que (o tratamento) ainda é considerado experimental no Brasil. Agora, sinto que tenho o dever de ajudar a divulgar a doença, até para melhor a detecção dos sintomas. No meu caso, por exemplo, demorou dois anos até descobrirem o que eu tinha — ressalta.
Do transplante à recuperação
Bruno está desde agosto em casa. Em 20 de julho, o processo de recolocação das novas células-tronco — procedimento que o estudante compara com uma "formatação de computador", pois envolveria uma espécie de "reinicialização" do seu sistema imunológico. Segundo relata, foi só no dia 31 daquele mês que o seu organismo passou a aceitar as novas células. Nesse período, comenta ter passado por momentos difíceis, mas já esperados devido à complexidade do procedimento.
— Do dia 20 ao 31, foram 11 dias que fiquei sem imunidade, sem defesa nenhuma. Tomei várias medicações para evitar infecções e tive dois dias de febre. Mas era o esperado, já que a inflação em si demora cerca de seis meses para baixar em nível considerável, segundo os médicos. Porém já estou sentindo melhores significativas — explica.
Entre outubro e novembro, ele voltará para São Paulo para uma revisão, ainda com o dinheiro conseguido das campanhas.
"Corria risco de morrer", relata mãe
Ao longo dos 13 anos, da descoberta da doença em 2005 até o transplante em 2018, Bruno passou por momentos difíceis. Chegou a pesar 40 kg em 2008, passou por diversas cirurgias e, em 2017, os medicamentos que mantinham a inflação sob relativo controle deixaram de fazer efeito. Foi quando a preocupação se intensificou.
— Ele estava correndo risco de morrer. O médico avisou que (o transplante) tinha que ser feito o quanto antes — comenta a mãe do estudante, Maria Joana Vieira Caldart.
Hoje com 48 kg, Bruno ainda não atingiu o peso mínimo esperado de 50 kg. Porém, de acordo com Maria Joana, o filho já demonstra mais disposição para se alimentar e apresenta melhoras a cada dia.
— Tivemos uns dias de sufoco (em São Paulo), mas agora está tudo certinho. Ele está se alimentando melhor e não tem mais ânsia de vômito. Vai dar tudo certo — ressalta.
Maria Joana agradece o gesto de bondade de todos que contribuíram para a arrecadação do valor para a cirurgia do filho e reitera o desejo por enfim, a família conseguir retomar uma rotina de tranquilidade:
— Nem imagino como vai ser voltar à normalidade, sem tanta função de correr ao médico — relata.