A babá Juliana Nunes, 35, deve entrar em breve para uma lista de famílias prejudicadas por incêndios em Caxias do Sul. Ela é a dona de uma moradia destruída pelo fogo no bairro Planalto na noite de segunda-feira (26). Juliana figura num grupo que depende do poder público e da solidariedade da população para tentar driblar as dificuldades que surgem diante de situações como essa.
O andar de cima da residência de Juliana, na Rua Silvio Mondin, queimou completamente antes de o fogo ser controlado pelos bombeiros. Esta era a parte ocupada pela babá e os filhos João, 13, e Yasmin, cinco, no momento do incêndio.
— Estávamos todos dormindo. Eu acordei já com o barulho dos "estilhaços" dos móveis de madeira queimando — lembra a mulher.
Deu tempo de sair apenas com as crianças antes que o fogo consumisse tudo. Roupas, documentos e todo o resto ficaram para trás.
— Eu fiquei ali fora, enquanto via a minha casa tomada pelo fogo — desabafa a babá.
A parte de baixo da casa era ocupada pela irmã de Juliana e a filha dela, que não estavam no local no momento do incêndio. A mulher acredita que o fogo tenha sido causado por uma vela, que ficou acesa durante a noite.
— Eu estou sem luz, tinham cortado. Colocamos uma vela, mas ela derreteu totalmente e o suporte dela acabou estourando. Ela estava na sala, onde estava dormindo o João — descreve a trabalhadora.
Agora, Juliana está passando as noites com parentes, sem endereço definido. Ela conta que levou a filha Yasmin à escolinha na terça, para tentar passar a sensação de normalidade, mas ainda não fez planos para o futuro.
— Estou indo a um passo de cada vez — resume.
Na terça, a babá foi ao Corpo de Bombeiros para conseguir um laudo e tentar solicitar ajuda do município, como materiais para reconstruir a casa. O documento deve demorar uma semana para ficar pronto. Por enquanto, ela precisa urgentemente de produtos essenciais para sobreviver:
— Qualquer coisa ajuda. Roupas de cama, produtos de higiene, móveis, se foi tudo.
De acordo com vizinhos, os bombeiros chegaram a tempo de impedir que as chamas se espalhassem para moradias próximas. Na terça, era possível ver plantas e madeiras chamuscadas em residências do outro lado da rua.
COMO AJUDAR
:: É possível encaminhar doações para a família de Juliana entrando em contato com ela pelo telefone (54) 99948-3414.
Segundo Bombeiros, manobra entre municípios garante eficiência no combate ao fogo
Em outro incêndio ocorrido nos últimos dias em Caxias, os bombeiros combateram o fogo que atingiu um apartamento no Condomínio Residencial Cinquentenário, no bairro de mesmo nome, por volta das 18h30min da última sexta-feira (23). O incêndio destruiu dois quartos e ocasionou outros danos ao imóvel do terceiro andar. Ninguém se feriu.
O que chamou a atenção no caso foi o uso de dois caminhões da corporação em Caxias do Sul e o pedido de apoio de uma terceira viatura de Farroupilha. O trabalho conjunto deu a entender que Caxias não teria suporte para atender incêndios. Contudo, o chefe do 5º Comando Regional de Bombeiros (5º CRB), tenente-coronel Ederson Cunha, afirma que a manobra é de praxe:
— Eu não posso arriscar ir com poucas pessoas e com poucas viaturas para uma ocorrência. Então, sempre se solicita o apoio dos quartéis de Flores da Cunha, Farroupilha e São Marcos, por determinação nossa. Nesse caso, houve o acionamento de Farroupilha, se verificou que não era necessário, e foi cancelado — explica.
De acordo com o comandante, a movimentação garante que o município nunca esteja desassistido, mesmo em momentos de menor efetivo disponível.
— Se acontecem dois incêndios ao mesmo tempo, eu tenho o quartel do Cruzeiro e a sede (no Centro) abertos. Mando uma viatura para cada local e, para quem precise, o apoio de outras cidades — garante.
Além dos quartéis no bairro Cruzeiro e no Centro, também funciona em Caxias outra guarnição no Aeroporto Hugo Cantergiani, mas os recursos do local, legalmente, não podem ser deslocados para outros pontos da cidade. Para cada plantão, o município conta com quatro bombeiros na sede (mínimo definido por lei, sendo que um deles atua como telefonista) e dois bombeiros no Cruzeiro. Além das duas viaturas dos locais, também há outra no quartel disponível na unidade do bairro Desvio Rizzo, que está desativado por falta de efetivo.
Cunha destaca, porém, que com o fim da Operação Rota do Sol e Operação Golfinho, 38 bombeiros da Serra devem retornar para o serviço nas cidades. Também há cursos em fase de conclusão para soldados, sargentos e tenentes, o que permitiria a reabertura da unidade no Rizzo.
A guarnição da Zona Norte, fechada em 2016, porém, ainda não tem recursos humanos para voltar a funcionar. Os bombeiros buscam uma parceria com o município para tentar ocupar o local.
— Já houve quatro furtos ali. Estamos pensando em uma ação compartilhada para reativar o local, possivelmente com a Guarda Municipal, para de alguma forma utilizar os recursos que estão ali — aponta o comandante.