A cada início de ano, a uva vira protagonista na Serra. De olho no período da colheita, que se apresenta como um excelente atrativo turístico entre os meses de janeiro e março, colonos e empreendedores da região firmam parcerias que consolidam, ano a ano, a vindima como ponto alto do calendário oficial de eventos. E mais que isso: incluem a Serra como destino de visitação também no verão, quando todos voltam o olhar para o litoral. Se a praia é atrativa na estação mais quente do ano, a colheita da uva enche os olhos do turista e estufa o peito do agricultor.
– A vindima é importante porque reforça o trabalho que os viticultores fazem de julho até o fim de março. Toda essa atividade, quando é visitada por gente de fora, traz reconhecimento para nós, vitivinicultores, e turismo para a região. Isto nos fortalece como categoria, e traz força para a Serra – opina o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Farroupilha, Márcio Ferrari, que também é vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
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As primeiras uvas para processamento começaram a ser colhidas na segunda quinzena de dezembro, segundo o Ibravin, 15 dias antes do período normal. Depois de registrar a maior colheita da história do Rio Grande do Sul em 2017, com 753 milhões de quilos de uva, esta vindima deve ficar dentro da normalidade e chegar a cerca de 600 mil toneladas da fruta destinadas ao processamento. Esse otimismo que toma conta dos produtores e da indústria é transmitido aos visitantes. Ainda é cedo para estimar quantos turistas devem desembarcar na Serra para beliscar os grãos de uva direto nos parreirais ou cantarolar cantigas italianas com os agricultores que os recebem com tanto talento. Apenas em Garibaldi, por exemplo, são esperados cerca de 50 mil turistas durante o Veraneio da Vindima. Vinícolas, restaurantes e produtores rurais recebem os visitantes e oferecem, além da uva fresquinha e saborosa, a simpatia de quem sabe acolher.
– Este momento serve para celebrar cada pequeno momento da safra da uva. Além disso, quem ouve pela primeira vez nosso colono contar sua história, fica encantado. É um reencontro com a cultura de Garibaldi – define o secretário de Turismo e Cultura, Paulo Salvi.
A safra da uva altera completamente o cenário da Serra a partir de janeiro. O aroma doce do fruto soma-se ao vaivém de carretas carregadas de uva, mudando a cara do interior e lembrando a antiga vocação agrícola da Serra. Se o costume de celebrar a colheita da fruta é tradição familiar, herdada dos imigrantes italiano, o povo daqui garante que está organizado e convida para as programações, espalhadas em diversas cidades da região.
"A nossa acolhida caseira é o mais legal", garante agricultor
Se as grandes vinícolas da região preparam eventos elaborados e que exigem um investimento maior do visitante, os pequenos agricultores se destacam pela simplicidade. O acolhimento da família Muraro, de Flores da Cunha, por exemplo, cativa os turistas que vão até o Travessão Rondelli. A história da família Muraro, como a chegada ao Brasil do pioneiro Giácomo, em 1881, é narrada pelo anfitrião, Fernandes, 57 anos.
Ao lado da mulher, Vania Branchini Muraro, 50, ele concilia o trabalho da safra, em que colhe cerca de 250 toneladas de uva, com a recepção aos turistas.
– Quando a gente vê que algo tão simples, como a taipa construída pelo meu avô há quase cem anos, deixa as pessoas emocionadas, percebemos que todo nosso esforço vale a pena – afirma Fernandes.
Os visitantes são recebidos durante o ano todo, mas é na vindima que a agenda fica lotada. A maior parte chega por meio de agências de turismo, mas há os que descobrem a propriedade via internet. Ao serem recebidos, eles percorrem parte dos 47 hectares de carretão. O bom humor e o carinho que Vania e Fernandes transmitem aos turistas deixa a viagem ainda mais gostosa – sem falar no aroma de uva, que torna praticamente impossível não beliscar a fruta pelo caminho.
De chapéu de palha, o turista pode colher e participa da pisa de uvas. Para quem mora na Serra, isso pode não ser nenhuma novidade. Mas a programação emociona para valer os visitantes, garante Fernandes:
– Eles dizem que a nossa acolhida caseira, com absolutamente nada industrial, é o mais legal. Se pedirem, fizemos um piquenique e tomamos um vinho também.
A vindima é, portanto, tempo de muito trabalho para os Muraro. Há espaço de sobra, porém, para a festa, adianta Fernandes:
– É a forma que encontramos de resgatar nosso passado, de lembrar como é nossa família. A vindima acontece desde os nossos nonos, que sempre combinavam o trabalho e a festa. E é o nosso ganha pão, merece que a gente festeje – afirma.
A família Muraro agenda visitas pelo telefone (54) 99605-3054.