O médico mastologista Maximiliano Cassilha Kneubil é um dos palestrantes do workshop que vai acontecer amanhã à noite no HG. Ele vai falar sobre o efeito "Jolie" e a mastectomia contralateral profilática na paciente com síndrome genética hereditária.
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O tema se refere à decisão da atriz Angelina Jolie de remover as mamas para reduzir o risco do câncer aparecer. Segundo o especialista, em um futuro próximo, o tratamento do câncer de mama será baseado em uma avaliação genética detalhada. Confira trechos da entrevista:
Pioneiro: Como tratar uma jovem de 20 e poucos anos com câncer de mama?
Maximiliano Kneubil: Nesta faixa etária, geralmente, o tumor apresenta características biológicas mais agressivas e há maior taxa de recorrência pós-cirúrgica. As pacientes já se apresentam ao diagnóstico com tumores avançados. Em contrapartida, elas têm excelentes respostas com a quimioterapia neoadjuvante, ou seja, realizada antes da cirurgia. Em alguns subtipos tumorais, a taxa de resposta patológica completa chega a 60%. Ou seja, em 60% dos casos, o tumor não é mais encontrado na mama no momento da cirurgia e após o tratamento de quimioterapia, principalmente, se esta for associada a terapias-alvo como o Trastuzumabe e o Pertuzumabe. Vale salientar que a quimioterapia em pacientes jovens leva a menopausa em 20% dos casos, sendo fundamental a preocupação com a fertilidade dessas pacientes, visto que muitas ainda não apresentam a prole constituída. É importante oferecer uma avaliação com um médico especialista em reprodução humana, podendo ser coletados e congelados óvulos previamente ao início da quimioterapia.
Como a pacientes deve ser recebida no consultório? E como se dá uma notícia dessa natureza?
O diagnóstico em mulheres jovens traz grandes desafios, pois elas geralmente se encontram na sua fase reprodutiva, constituindo família e iniciando sua carreira profissional. O tratamento da doença nesse período da vida pode trazer efeitos negativos sobre a estética, fertilidade e graves implicações psicológicas. São pacientes, muitas vezes, com filhos pequenos, amamentando ou até gestantes, e a maioria delas apresentam tumores em estágios mais avançados.
Deve haver mais estudos sobre a doença para este tipo de público?
Sim. O câncer de mama é um dos tumores com maior número de estudos científicos em andamento. Entretanto, deveria haver mais, específicos para pacientes jovens. Atualmente, nosso grupo realiza pesquisas com células-tronco, cultura de células tumorais e avaliação de genes de reparo no câncer de mama em um projeto inovador em parceria com a Unacon do Hospital Geral e do Instituto de Biotecnologia da UCS.
Qual a melhor forma de prevenir?
Nossa principal arma é a conscientização das mulheres e dos profissionais da área de saúde de que o câncer de mama não se restringe somente a pacientes mais idosas. As mulheres jovens devem fazer o autoexame mensalmente no período pós menstrual e ser avaliadas anualmente por um ginecologista. Neste cenário, o papel do ginecologista é fundamental, pois é a porta de entrada das pacientes que, na maioria da vezes, apresentam nódulos benignos chamados de fibroadenomas. Caso o nódulo apresente crescimento rápido, consistência endurecida, esteja associado a alterações cutâneas e existam linfonodos axilares aumentados, a paciente deve ser avaliada por um mastologista.
A vulnerabilidade de mulheres jovens ao diagnóstico avançado pode ser também justificada pela falta de ações de rastreamento e pela dificuldade de leitura e interpretação dos resultados mamográficos devido à alta densidade mamária nesta população. Outro fator extremamente relevante que pode colaborar é a falsa percepção de que mulheres jovens não possuem risco de desenvolver câncer, desvalorizando sinais e sintomas iniciais da doença.