O médico geneticista André Anjos palestra hoje à noite, no auditório do Hospital Geral (HG), sobre oncogenética. Ele apresenta as novas tecnologias no diagnóstico das síndromes hereditárias associadas ao câncer de mama. Membro da Sociedade Brasileira de Genética Médica, André atende em Caxias do Sul todas as quartas-feiras. Veja o que ele pensa sobre o teste genético e quem pode fazer.
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Pioneiro: Todo o tipo de câncer é hereditário? Por quê?
André Anjos: Todo o câncer é considerado uma doença genética, pois apresenta alterações internas nas células (nos genes) que causam uma proliferação e um crescimento descontrolado (o que conhecemos como tumor, que quando é maligno chamamos de câncer). No entanto, nem todo câncer é hereditário - que significa aquela doença que pode ser transmitida de uma geração para outra. Esses casos, de cânceres hereditários, são mais raros e dependem de mutações genéticas específicas que podem ser transmitidas em porcentagens previamente conhecidas.
Qual o índice de cânceres considerados hereditários. Quais os mais comuns?
Acredita-se que cerca de 5% a 10% de todos os cânceres sejam hereditários. Os mais comuns, conforme a prevalência geral, são os cânceres de mama e intestino (colorretal).
Quais as indicações e critérios para realizar um exame genético?
As principais indicações para a realização de um exame genético dizem respeito ao histórico pessoal e familiar do indivíduo. Sendo assim, os principais critérios são uma pessoa apresentar câncer em idade jovem (especialmente abaixo dos 50 anos), que apresenta múltiplos cânceres (por exemplo, câncer nas duas mamas ou câncer de mama e ovário), diversas pessoas afetadas com câncer em várias gerações de uma mesma família.
Qualquer pessoa pode fazer?
Não. Nem todas as pessoas são candidatas ao teste genético. As indicações vão depender do histórico pessoal e familiar e, mesmo dentro de uma mesma família, existem indivíduos para os quais os testes terão melhor rendimento (por exemplo, quando possível, realizar o exame em um indivíduo que já apresentou o câncer em questão e que seja da geração mais velha dentre os familiares afetados terá melhor resultado do que realizar o exame em um indivíduo que nunca apresentou o câncer).
Como funciona o teste genético? Como ele é feito?
É um teste com DNA e pode ser realizado por meio de amostras de sangue ou saliva. Esses testes são realizados com pessoas em risco aumentado e detectam mutações em genes que podem predispor ao câncer. O exame detecta a mutação e, por consequência, a predisposição se essa pessoa poderá ou não desenvolver um câncer. É importante ressaltar que a testagem genética detecta a predisposição hereditária a um câncer e não nos mostra dados a respeito dos cânceres não-hereditários (por exemplo, aqueles com fator de risco ambiental conhecido, como tabagismo, álcool, etc).
Há também o exame para testagem genética em amostra do próprio tumor e, nesse caso, o exame é direcionado para o tratamento específico daquele tumor e não necessariamente indicará a predisposição ao câncer hereditário.
Que tipo de cânceres ele pode detectar?
O teste genético não detecta o câncer, mas sim a predisposição de um indivíduo para apresentar um determinado câncer. Todos os tipos de cânceres podem estar incluídos em síndromes de predisposição hereditária ao câncer, dependendo do gene afetado.
No caso do câncer de mama este teste é indicado?
Sim, para alguns casos. Os principais critérios para considerar um indivíduo com câncer de mama candidato à avaliação genética são: idade precoce ao diagnóstico (frequentemente abaixo de 50 anos); diversos indivíduos afetados em várias gerações de uma mesma família; doença bilateral ou multifocal da mama; presença de histórico de câncer de ovário, câncer de mama masculino, ancestralidade Judaica, outros múltiplos cânceres em idade precoce.
Quanto custa um teste genético? Só é oferecido pela rede particular? Os planos de saúde estão custeando. Há perspectiva de o SUS pagar a curto, médio prazo?
Existem diversos tipos de testes genéticos e, portanto, os valores variam bastante. O exame deve ser indicado por um profissional habilitado e com conhecimento em oncogenética (a genética aplicada ao câncer), justamente para que haja a solicitação do exame correto e mais adequado para aquele indivíduo com base em seu histórico pessoal e familiar.
Ainda não temos esse tipo de exame pela rede do SUS. Esses testes existem no âmbito dos laboratórios particulares e, alguns deles, apresentam cobertura pelos convênios (regulamentados pela Agência Nacional de Saúde).
Quais as novas tecnologias no diagnóstico das síndromes hereditárias associadas ao câncer de mama? Seria o teste genético?
Na área da genética médica, uma das maiores contribuições com os avanços do conhecimento tem sido o auxílio no diagnóstico da biologia dos cânceres e também na detecção de indivíduos portadores de mutações genéticas e, consequentemente, com predisposição hereditária ao câncer. Isso traz a possibilidade de realização de atitudes preventivas (que podem incluir mudanças nos hábitos de vida e medicações específicas ou cirurgias preventivas), além de facilitar os possíveis diagnósticos e tratamentos precoces de câncer.