O Rio Grande do Sul é o Estado que concentra, proporcionalmente, o maior número de suicídios do país. O dado consta no primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (pelo Ministério da Saúde (MS). Em 2015, o RS registrou uma taxa de 10,1 óbitos para cada 100 mil habitantes, contra 5,7 por 100 mil no Brasil.
Dados de 2015 revelam que Caxias do Sul se encontrava em uma situação intermediária entre o Estado e o país, com taxa de 8,8 suicídios a cada 100 mil habitantes. Um cálculo realizado com base em dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), porém, mostra que no ano passado a taxa de suicídios para cada 100 mil habitantes caiu para 5,8, aproximando-se da média nacional.
O Boletim do Ministério da Saúde foi divulgado no contexto da campanha de prevenção Setembro Amarelo. Os dados mostram que as mulheres representam 69% das pessoas que tentam o suicídio no país, mas os homens morrem mais: são 79% das vítimas. Em Caxias do Sul, a divisão é ainda mais extrema, conforme dados da SMS: em 2016, as mulheres foram responsáveis por 73% das tentativas de suicídio da cidade. Em 82% dos casos de óbito, porém, as vítimas eram homens. A equipe de Saúde Mental da SMS não foi localizada para comentar o assunto.
O Rio Grande do Sul e a região sul do Brasil aparecem, tradicionalmente, no topo de rankings de casos de suicídios do país. Para Claudia Weyne Cruz, psicóloga do Observatório de Análise de Situação do Suicídio no Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde, não é possível dar uma razão única para o suicídio e as causas variam para cada população. No caso de um estudo realizado com agricultores idosos constatou-se, por exemplo, que eles cultivavam um sentimento de inutilidade.
— Seria leviano se a gente fixasse um fator. É uma sobreposição. Nessa população, foi observado que eles trabalhavam para viver e viviam para trabalhar. Com o adoecimento do corpo, sentiam-se um estorvo — explica Claudia.
Conforme o estudo do Ministério da Saúde, agricultores e idosos estão no grupo de risco de suicídio, a partir do número de casos registrados. A taxa de óbitos entre a população indígena também assusta: são 15,2 casos a cada 100 mil habitantes, média bastante superior do que entre outros grupos populacionais.
CAPS protagoniza prevenção
O Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil faz relação entre a menor incidência de suicídios e a disponibilidade de atendimento pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). A existência de Caps nos municípios reduzem em 14% o risco de suicídio, conforme o estudo. A iniciativa do Ministério da Saúde também destaca a conscientização como forma de prevenção, por meio de uma cartilha que orienta como os casos de suicídio devem ser tratados pela mídia e outra com dicas para a profissionais de saúde e a população em geral.
O SUICÍDIO EM NÚMEROS
:: 11 mil tiram a própria vida por ano no Brasil.
:: O suicídio é a 4ª causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos.
:: As mulheres protagonizam 69% das tentativas de suicídio.
:: Envenenamento ou intoxicação são os principais meios utilizados na tentativa de suicídio (57,6%).
:: 31,3% das mulheres que tentam o suicídio repetem o intento.
:: 79% dos mortos por suicídio são homens.
:: O enforcamento é a causa da morte em 62% das vezes.
:: Idosos com mais de 70 anos tem a maior taxa de mortalidade entre as faixas etárias, de 8,9 a cada 100 mil pessoas.
:: Os indígenas são o grupo populacional com maior risco de suicídio, com taxa de 15,2 casos a cada 100 mil pessoas.
:: 44,8% dos suicídios de indígenas acontecem dos 10 aos 19 anos de idade.
:: A região sul concentra 23% dos suicídios do Brasil, tendo somente 14% da população.
ONDE PEDIR AJUDA
:: Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (a ligação é gratuita e sigilosa)
:: Pronto-Atendimento 24 Horas: 3290-4457 (urgência e emergência em saúde mental)
* Com informações de Zero Hora