Contas que chegam bem depois da data de vencimento, encomendas não entregues e filas para retirar uma correspondência são algumas das reclamações frequentes envolvendo os serviços prestados pelos Correios em Caxias do Sul. A situação, no entanto, não é nova e, desde o início do ano, teria se agravado. Nos bairros Sanvitto, Santa Fé, Cidade Nova, Marechal Floriano, Santa Lúcia e Vila Verde, por exemplo, moradores têm enfrentado um teste de paciência constante no aguardo dos carteiros.
O marceneiro Iroci Ferreira, morador do Cidade Nova, afirma que os problemas nas entregas de correspondências vêm ocorrendo há pouco mais de três meses.
– É conta de água, luz, plano de saúde e conta de banco que nunca chega na data certa, entende? Eles têm que mandar antes do vencimento, mas vem lá pelo dia 15 ou 17, quase no meio do mês. Teve uma vez que o carteiro veio de noite fazer entrega. Dá uma vontade de desistir de reclamar, porque isso não muda. Aqui na vizinhança, chega sempre vencido. É horrível essa situação e o banco não perdoa, né – reclama Ferreira.
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A falta de agilidade repercute ainda no destino de mercadorias adquiridas via PAC. O metalúrgico Edinilson Medeiros, morador do Santa Fé, aguardou a chegada de uma peça que comprou pela internet quase duas semanas. Sem receber notificação sobre a tentativa de entrega da mercadoria, Medeiros decidiu procurar o produto pelo rastreador dos Correios e foi informado de que o endereço para entrega constava como incerto e de que o objeto deveria ser retirado no Centro de Entregas e Encomendas (CEE) de Caxias, localizado no bairro Cidade Nova.
– Eu não estou entendendo. Disseram que não acharam a numeração, que ela estava incerta. Só que eu recebo as contas todas certinhas. Só não chegam os materiais que encomendo. Por quê? Se você for na Rua Jorge Tenente Adão Charão, vai ver que o número é bem legível na frente da casa. E a gente paga frete para isso não acontecer, para chegar direitinho e em mãos. Não é de graça. Eu fiquei o tempo todo em casa esperando a peça chegar. Calculei o tempo previsto e ninguém apareceu. Aí, tive de aguardar a fila demorada no Correio – desabafou Medeiros.
Se a espera já é ruim, nos endereços em que os carteiros sequer passam o problema se agrava. Conforme um morador do bairro Vila Verde, que preferiu não se identificar, desde fevereiro os Correios não entregam correspondências na Rua Gustavo Dutra de Almeida, onde ele mora. Embora já tenha feito queixa na prefeitura e na ouvidoria da empresa, até o momento ele não obteve resposta sobre o por que de a rua não ser atendida. Ainda segundo o morador, há partes do bairro em que os carteiros passam, como na Rua Araranguá, próxima a dele. Apesar do problema, a prefeitura reconhece, desde 2013, os CEPs dessa área, o que a torna apta para receber entregas.
O que dizem os Correios
Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informou que podem ocorrer situações pontuais de atraso nas entregas de encomendas, mas nega que a situação estaria generalizada em Caxias do Sul. Os Correios ainda afirmaram que seguem o procedimento para cada modalidade, ou seja, segue fazendo três tentativas de entrega para objetos SEDEX e duas para PAC. Nos casos em que o carteiro não tem sucesso na entrega, é deixada uma notificação na caixa de correspondência, avisando sobre as tentativas e sobre o precedimento de retirada do objeto em uma de suas unidades.
Causa dos atrasos
Um dos principais motivos para os atrasos e problemas com entregas é o deficit de empregados no setor de distribuição, aponta o Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Estado (Sintect/RS). Conforme a entidade, os Correios não realizam concurso para contratação de pessoal há seis anos, medida que fez crescer a defasagem de carteiros no município – hoje faltariam em torno de 50 profissionais, dez a mais do que registrado no primeiro semestre de 2017. Ou seja, entre junho e meados de agosto, são 10 carteiros a menos trabalhando.
– Os últimos profissionais que entraram foram os do concurso de 2011. Eles assumiram em 2013 e de lá para cá não teve mais contratações nessa modalidade. Hoje, há por volta de 200 servidores fazendo as entregas na cidade – explica Ricardo Paim, coordenador regional do Sintect, acrescentando que o ideal seria contar com aproximadamente 300 carteiros em atividade.
Outro agravante foi a adesão de funcionários dos Correios ao programa de demissão voluntária, não só na área de distribuição, mas na de atendimento em agências e no setor administrativo. Em todo o Rio Grande do Sul, 328 pessoas já teriam aderido ao programa. Segundo Paim, com o corte de profissionais, a suspensão de concursos públicos e a contenção de gastos pelo governo, a tendência é que os atrasos no atendimento das demandas se mantenham.
Para auxiliar no setor de distribuição de encomendas e correspondências, uma medida adotada foi a contratação temporária de novos carteiros.
– A lei permite que a empresa faça a contratação de profissionais por 90 dias, renovável por mais 90. Só que essa dinâmica não é tão positiva quanto parece, pois gera novas contratações a cada 180 dias. Então, a cada seis meses, mais ou menos, chegam novas pessoas para serem treinadas. E alguém tem de ser deslocado de sua atividade para ensinar o trajeto. Isso não é muito eficiente – exemplifica Paim.
Cada carteiro é responsável por atender um distrito da cidade, que pode ser redistribuído entre os funcionários depois de um tempo. Porém, com a sobrecarga na atividade, os funcionários dos Correios têm trabalhado com dois ou três distritos, além daquele que já possuem, o que afeta diretamente na demora da conclusão das demandas.
Profissionais ouvidos pelo Pioneiro relataram que a situação está insustentável. A cobrança, segundo eles, é constante e as condições de trabalho são apontadas como defasadas.
O que fazer
:: Se você não recebeu suas correspondências ou mercadorias, ligue para a Central de Atendimento aos Clientes dos Correios (CAC), pelo telefone 0800-7250100.
:: O cidadão que se sentir lesado, poderá registrar reclamações diretamente ao Procon, pelo telefone 151 ou pelo site caxias.rs.gov.br/procon/
Procon questiona impontualidade
Embora o serviço de Proteção ao Consumidor (Procon) registre queixas sobre os atrasos nos serviços dos Correios, poucas pessoas o utilizaram para isso nos últimos meses. De acordo com Luiz Fernando Horn, coordenador do Procon em Caxias do Sul, entre janeiro e agosto 10 reclamações foram recebidas. Dessas, nove denunciaram problemas na pontualidade de entrega de objetos e serviços não concluídos pelo Correios ou que foram mal executados.
– Os números de reclamações registradas foram baixos, mas considerando a situação como um todo, o Procon oficiou os Correios questionando sobre essas possíveis impontualidades. Nós tivemos uma resposta em 13 de abril, que consideramos genérica e não nos satisfez. Reforçamos o ofício em 3 de maio, de forma mais específica, perguntando sobre o número total de funcionários da triagem, o total de entregadores e o percentual de colaboradores temporários, referente ao período de 2014 a 2017, em Caxias. Também perguntamos sobre eventuais concursos e fechamentos de agências. Em junho, obtivemos resposta: no município, havia 169 carteiros e 8 operadores de triagem, todos efetivos. Foi informado que não havia fechamento de agência, nem previsão de concurso –disse Horn.