A direção do Fórum de Caxias do Sul não foi comunicada oficialmente sobre a possibilidade de cancelamento do tradicional Casamento Comunitário neste ano, mas adiantou que tem condições de realizar o evento beneficente sem a ajuda do município. O argumento da prefeitura para não direcionar recursos e servidores para o Casamento Comunitário é o mesmo que foi utilizado para justificar o adiamento de eventos como a Festa da Uva, o Carnaval de Rua, o Horti Serra Gaúcha e o Rodeio Internacional: contenção de despesas e o reposicionamento na forma como os eventos públicos são organizados na cidade.
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Na última edição, em dezembro do ano passado, 147 casais confirmaram a união no Centro Esportivo do Serviço Social da Indústria (Sesi), no bairro Fátima. Eram homens e mulheres que recorreram ao serviço porque não tinham condições financeiras para comprar trajes e vestidos, pagar o cartório ou realizar a festa para convidados. Segundo a registradora designada do Cartório de Registro Civil 2ª Zona, Nicéia Veronese Facchin, somente a taxa de registro de um casamento custa a partir de R$ 173,10.
– Tem muitas pessoas carentes que não podem pagar esse valor. Por isso, a Justiça criou esse evento e convoca os cartórios – lembra Nicéia.
A diretora de Segurança Alimentar e Proteção Social do município, Maria de Lurdes Grison, afirma que o Casamento Comunitário exige gastos do município, dinheiro que está em falta no momento.
– Sou super a favor deste evento e a prefeitura pode organizar sim, mas não da forma como vinha sendo feito. Ainda não batemos o martelo sobre o assunto, mas pode não acontecer neste ano – adianta.
A escrivã da Direção do Foro de Caxias, Vera Lúcia Borges, diz que a parceria com a prefeitura é importante, mas, caso não ocorra, não se descarta buscar o apoio de instituições como a União de Associações de Bairro (UAB), a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Faculdade da Serra Gaúcha (FSG).
– O projeto do Casamento Comunitário é do Judiciário, dentro do programa Ronda da Cidadania. No caso, o município é parceiro para ir atrás dos trajes, organizar as inscrições e selecionar quem pode receber o benefício. Se não for possível, outras entidades podem contribuir nesse sentido. Não recebemos nenhum comunicado oficial, mas de nossa parte, o evento ocorrerá. O doutor Silvio Viezzer diz que buscará outras alternativas, se necessário – ressalta Vera Lúcia.
Uma das mudanças, porém, parece já estar definida por parte da prefeitura: a abolição das roupas de gala. De 280 vestidos brancos que a prefeitura mantinha no estoque, restaram em torno de 60 em bom estado num depósito no Banco do Vestuário. O restante, que estaria em pior estado, foi doado para entidades. Na leva, a prefeitura aproveitou para repassar 150 ternos, 160 vestidos de madrinhas e dezenas de pares de sapatos, indicativo de que a festa será bem mais simples daqui em diante.
– Se discute internamente que a ação não precisa ser com roupa tradicional, pode ser com as vestes normais – argumenta Maria de Lurdes.
Em 2016, o Casamento Comunitário teve apresentação de banda, da Guarda Municipal e de saxofonista. Os noivos vestiram trajes e acessórios de lojas. Em 11 edições, a ação social oficializou o enlace de 800 casais. O principal objetivo é legalizar gratuitamente as uniões civis para homens e mulheres de baixa renda numa parceria da prefeitura com o Poder Judiciário e cartórios civis da 1ª e 2ª Zonas, Vila Seca, Galópolis, Ana Rech e Santa Lúcia.Até agora, segundo Maria de Lurdes, quatro casais procuraram a prefeitura para buscar informações sobre o evento. As inscrições geralmente abrem em agosto, o que não está confirmado neste ano.
– Vamos organizar de maneira que não onere o município. Também temos pouca gente na prefeitura para ajudar. Teria mesmo é que buscar um grupo de voluntários para tocar o casamento.