Inserida em uma comunidade vulnerável, a Escola Municipal Basílio Tcacenco, no bairro Aeroporto, em Caxias do Sul, carrega um desafio mais complexo do que ensinar. O cenário no entorno da instituição envolve tráfico de drogas, vandalismo e famílias desestruturadas.
Os crimes contra a vida também exigem resiliência. Em fevereiro, Felipe Alexandro Gonçalves Guedes, 12 anos, foi assassinado com quatro tiros. Ele era aluno da Basílio e tinha planos de ser engenheiro. Meses depois, em agosto, Emerson Ricardo Denti, 39, foi morto em uma rua próxima à escola. Os alunos do turno da manhã ainda estavam em aula quando ouviram cinco tiros. Neste ano, outros cinco assassinatos naquela região também chamaram a atenção.
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Dentro do colégio, porém, a realidade é diferente e tem sido guiada pelo caminho da paz. Desde 2007, o projeto Semeando Sonhos, Cultivando Vidas incentiva as boas notas dos alunos e as boas atitude. Ele desenvolvido atualmente por Vitor Rippel D'Agnoluzzo, filho da professora Elisabeth Rippel D'Agnoluzzo, que atuou por 15 anos na Basílio. A cada final de trimestre os jovens que tiveram bom aproveitamento nas aulas e foram exemplos de práticas da não-violência ganham o certificado Estudante Brilhante.
Na prática, a escola mantém um caderno de ocorrências. Entra na lista, o aluno envolvido em badernas, brigas ou que desrespeita colegas e professores. Quem resiste à qualquer ato de violência e consegue boas notas, ganha o certificado e serve de exemplo para inspirar os demais.
– Ganhamos em convívio, em aproximação entre alunos e professores e fortificamos o relacionamento com as famílias. Aqui na Basílio, todo bom exemplo é valorizado. Esse formato ajuda a transformar os estudantes, além de mostrar que o mundo lá fora pode ser diferente – conta a diretora Cristiane Dalsochio.
Mesmo que a motivação do projeto não lide direto com a criminalidade no lado de fora, desde que foi implantado na escola, o programa já atingiu o principal objetivo: mudar a visão de boa parte dos alunos. Outro ganho é que o moradores do Aeroporto passaram a enxergar a escola como parte da comunidade.
– A base de pessoas do bem é uma família presente e uma escola capaz de mostrar o caminho certo. Ensinar o conteúdo curricular é o básico, o mais importante é fazer com que os alunos tenham a chance de mudar e melhorar. Só assim serão cidadãos conscientes e disseminadores da cultura da paz – aponta a professora Elisabeth.
Vários alunos se esforçam para melhorar a convivência entre os colegas.
– Eu me sinto feliz em participar. Tenho a certeza que vou conseguir ter um futuro melhor e vou ajudar a minha família – diz Bárbara de Andrades Borda, 13. Para a adolescente Indryd Casara, 14, mesmo que a violência seja um obstáculo difícil de vencer, ter vontade de mudar é o primeiro passo:
– Nós não podemos ficar parados. O jovem precisa mostrar que ele pode fazer diferente e ser melhor a cada dia. Devemos sempre ser exemplos do bem e contribuir para que a paz faça parte da vida de todas as pessoas.
*Até novembro, reportagem conta histórias de pessoas que se engajam contra a violência na cidade