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Não basta mais apostar e ostentar a impunidade. É preciso reiterar, aos berros, que ser preso em flagrante pode não significar muita coisa no sistema penal. Esse é o recado de um rapaz flagrado com droga pela Brigada Militar em Caxias na terça-feira.
Com passagens na polícia por outros delitos, Peterson Pereira, 26 anos, bradou numa cela da delegacia que seria solto até sexta-feira. Por esse motivo, segundo ele, não havia motivo para preocupações. A declaração disparada aos gritos para pessoas não identificadas foi registrada em ocorrência policial.
A previsão pode não se confirmar na data anunciada por Pereira, mas é bem provável que ele ganhe liberdade em pouco tempo, novamente. Quando flagrado no final da tarde de terça-feira em uma rua do bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, Pereira carregava seis munições.
Os PMs fizeram buscas na casa dele e apreenderam uma câmera de segurança, um rádio HT na frequência da corporação e 190 gramas de cocaína.
Antes disso, o jovem frequentou delegacias diversas vezes. Dois indiciamentos não deram resultado na Justiça e ele saiu sem condenação. O histórico de Pereira se refere apenas a delitos da vida adulta. A reportagem, por exemplo, não pode citar se houve envolvimento dele em crimes graves antes dos 18 anos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Pereira não é o único a protagonizar rompantes diante de autoridades. Na quinta-feira, dia 11 de junho, uma policial militar vítima de assalto recebeu uma resposta inusitada. Ao ser rendida quando buscava a filha numa babá, ela se identificou como servidora da BM.
Jorge Reginaldo de Lima, 37, devolveu:
- O tempo que você tem de polícia, eu tenho de cadeia.
O ladrão fugiu com a carteira da PM, mas foi preso pouco depois. Detalhe: ele também tinha passagens por tráfico de drogas, roubo a pedestre e lesão corporal.
"É a senhora idosa da impunidade"
Numa cidade que registra mais de um roubo ou furto por hora fica fácil entender por que a impunidade estimula a violência e a impetuosidade. No primeiro trimestre deste ano, a Secretaria de Segurança do Estado registrou 2,6 mil crimes contra o patrimônio. Boa parte foi cometida por pessoas presas anteriormente e que voltaram às ruas. O promotor de Justiça Rodrigo Vieira diz que manter alguém na cadeia é uma exceção.
- É a senhora idosa da impunidade. O criminoso tem consciência de que a lei no Brasil é uma das mais frouxas do mundo. Tem também o liberalismo de alguns juízes. Sobra para a polícia enxugar gelo e para a população - dispara Vieira.
O promotor tem o costume de citar o exemplo do jogador de futebol Breno, condenado em 2012 na Alemanha por colocar fogo na própria casa. O esportista saiu do tribunal direto para a prisão.
- Isso jamais acontece no Brasil. Acaba contagiando: sem resposta do sistema penal, imagina-se que cometer crimes é normal - lamenta o promotor.