O fedor contido em parte da água tratada pelo Samae e a frequente fedentina exalada pelo Arroio Tega podem até não ter relação entre si, mas os fenômenos não podem ser tratados como se integrassem a paisagem e ponto.
É provável que a água podre enviada pelo Sistema Maestra a milhares de consumidores seja episódico, caso isolado, anormal. Portanto, de fácil reversão, crê-se.
O Tega, não.
O Tega é caso de polícia.
O Tega é alvo constante de criminosos.
Os criminosos, por óbvio, agem também em outros arroios que deságuam no Tega. O volume de poluição é mais visível no Tega por motivos naturais: é o maior arroio desta região da cidade, grandeza obtida pela junção das águas de outros arroios que escorrem para dentro do Tega, tornando-o caudaloso, um rio. O Tega podre é nada mais que o resultado da soma da poluição que vem de outros córregos.
O Dal Bó.
O Dal Bó é praticamente invisível, é subterrâneo, e os problemas do Dal Bó aparecem só quando alcança o Tega, ali na área do São José.
Ademais, o Tega serpenteia a céu aberto em vários pontos urbanos, tornando a podridão pública, visível, por isso chocante. Quando vira rio, o Tega está morto. É esse Tega morto que desaparece mágico sob a ponte da Rota do Sol, ali no Mattioda, e se embrenha no mato até encontrar o Rio das Antas, que encontrará o Taquari, que encontrará o Guaíba, que encontrará a Lagoa dos Patos, que encontrará o mar, lá onde nos refestelamos no verão em deslavada inocência e cara-de-pau.
Crime semelhante é cometido contra o Arroio Belo, aquele que deságua no Rio Caí, em Vila Cristina. O Belo também recebe podridões alheias, como o afluente Pinhal, em Galópolis (a morbidez da Cascata Véu de Noiva não mente).
Sejam fedorentas, sejam poluídas, o fato é que as águas estão sendo muito mal tratadas por todos: o cidadão normal, que crê que não passa de vítima; os empresários que descumprem a legislação; e a prefeitura, nem sempre exatamente competente na gestão ambiental.
Importante lembrar: o meio ambiente é municipalizado em Caxias, igual ao SUS. Significa que, para o bem e para o mal, o rumo dado aos recursos naturais é responsabilidade da prefeitura.
Opinião
Gilberto Blume: para o bem e para o mal, o rumo dado aos recursos naturais é responsabilidade da prefeitura
É provável que a água podre enviada pelo Sistema Maestra a milhares de consumidores seja episódico
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