Um casal pretende entrar na Justiça porque um motorista da Visate teria impedido que o filho, cadeirante, usufruísse do transporte público coletivo. O fato aconteceu há 45 dias, mas repercutiu em rede social nesta semana. No Facebook, o relato do pai, o desempregado Volmir Camelo, 36 anos, tem mais de 200 mil compartilhamentos.
Segundo Camelo, ele, a mulher, Susamara - também desempregada -, 26, e os quatro filhos - entre dois e seis anos - aguardavam um ônibus da linha Arcobaleno na parada do Shopping San Pelegrino, na Avenida Rio Branco.
Durante uma hora, esperaram por um veículo adaptado para cadeirantes. Moroni, três anos, é tetraplégico e tem paralisia cerebral. Como o veículo especial não apareceu, por volta das 19h, a família resolveu pegar um ônibus de linha comum. As crianças sentaram em um banco. O pai, com o filho tetraplégico no colo, em um assento para portadores de deficiência. A mãe ficou em pé, segurando a cadeira, no espaço entre o operador e um banco. Pela versão de Camelo, minutos depois, o motorista levantou, foi até a família e pediu que desembarcassem porque não podia transportar cadeirante.
A família alega que, a cada parada, o motorista dizia que o casal e os filhos tinham que desembarcar e falava ao telefone com alguém da empresa informando que havia cadeirante no ônibus.Em frente à Visate, o ônibus parou.
- Os passageiros entraram em outro ônibus, e o motorista seguiu com eles. Eu já havia ligado para a Brigada Militar e só desci do veículo quando ela chegou, uns vinte minutos depois. Enquanto isso, minha mulher foi em casa e buscou os remédios do Maroni, já atrasados. A polícia mandou que a empresa tirasse da garagem um ônibus para cadeirantes - conta.
Susamara e os filhos entraram no ônibus adaptado, que seguiu até a parada de destino da família. A BM teria solicitado a presença do motorista no local e o boletim de ocorrência 3493/2014 foi registrado na delegacia.
Motorista e empresa se defendem
O motorista do ônibus, Mauri César Fim, contesta a versão do pai Volmir Camelo.
- Eu pedi uma vez que eles descessem, porque o próximo ônibus da linha era adaptado. A Visate e as leis de trânsito proíbem que o transporte de cadeirantes seja feito em ônibus não adaptados. Não ofendi ninguém. Primeiro, ele (o pai) estava com a criança na cadeira e só a pegou no colo depois que eu reclamei. Liguei para a empresa e pedi que um ônibus adaptado nos encontrasse. Ele chegou umas três quadras antes da garagem da Visate e, mesmo assim, a família não quis trocar de veículo. Então, estacionamos na garagem e a Brigada Militar apareceu.
Por meio da assessoria de imprensa, a Visate informou que em nenhum momento se negou a transportar a família e pediu desculpas. Informou que a orientação aos funcionários é de que o transporte de cadeirantes seja feito com segurança. A primeira opção são os ônibus adaptados com elevador e rampa. Em outras linhas, a criança cadeirante deve ficar no colo de um adulto e o cadeirante adulto em um assento, com a cadeira recolhida.
A Visate garante que orienta para que motoristas e passageiros usem o bom senso: cadeirante deve estar ciente que utiliza o transporte não adaptado e que, por conta disso, não é 100% seguro, e o motorista de que não pode negar o direito de ir e vir.
O decreto federal 5296/2004 estabelece que, até o final de 2014, toda a frota de empresas de transporte público coletivo deve estar adaptada para o acesso de cadeirantes.
Segundo a coordenadora da Coordenadoria de Acessibilidade da prefeitura, Rosa do Carmo Fonseca, nenhuma lei proíbe o transporte de cadeirantes, mesmo em ônibus que não tenha elevador ou espaço reservado para a cadeira de rodas.