- Me desculpe, mas eu vou falar bem a verdade: eu prefiro estar aqui do que estar lá fora. Sabe por quê? Eu não sou um menino mimado, se eu tivesse na rua eu estaria roubando ou até mesmo morto. Aqui eu tenho um teto e uma cama para dormir, e as donas e as professoras são legais, elas me ajudam e me corrigem na hora que eu estou errado, coisas que eu não tenho lá fora.
O desabafo é de um jovem que já cumpriu medida no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Caxias do Sul. O texto integra o livro Ler e Escrever a Vida: Trajetórias de Jovens em Privação de Liberdade, coordenado pela professora e pesquisadora Nilda Stecanella, 51 anos.
A publicação será lançada em Caxias ainda neste mês e foi elaborado com a ajuda de outros três pesquisadores. Durante um ano e meio, nove rapazes do Case escreveram mais de 100 cartas sobre seus dilemas dentro da instituição. A obra também lança luz sobre o que pensam e como se enxergam os infratores, muitas vezes taxados de irrecuperáveis por boa parte da sociedade.
- Esses jovens nasceram na era do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), mas mesmo assim acabam tendo processo de inclusão precária - pondera Nilda.
A pesquisa também sugere que o fortalecimento do ECA não impede a inclusão precária dos jovens na sociedade. Assim como outros rapazes, os internos do Case têm a acesso a roupas e objetos, mas só o conseguem por meio dos furtos e roubos.
A ligação entre os estudiosos e os internos acabou antes da conclusão da pesquisa. Oitos jovens que escreveram as cartas se tornaram foragidos e não mantiveram contato. O livro é dedicado a um dos entrevistados que sonhava ser cabeleireiro e se livrar das drogas, mas acabou assassinado no ano passado com quatro tiros.
Leia mais na edição impressa deste final de semana.
Juventude
Jovens infratores contam como é viver em privação de liberdade em Caxias do Sul
Depoimentos integram livro sobre a trajetória de alguns internos do Centro de Atendimento Socioeducativo
Adriano Duarte
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