Áreas públicas de lazer estão à disposição de vândalos, enquanto pessoas de bem são privadas de usufruir desses espaços voltados à convivência. Na cidade não faltam exemplos dessa inversão de valores, que pode ser resolvida, conforme apontam especialistas e mostrou na prática a comunidade do bairro Galópolis, com apoio do poder público.
A restauradora Alice Prati, que coordena o Projeto S.O. S Casa Pichada, de Porto Alegre, ressalta que a depredação de patrimônios públicos tem motivações diferentes. Em áreas de vulnerabilidade social, as razões seriam reflexos de revolta, muitas vezes de pessoas vindas de comunidades tão pobres quanto aquelas com o objetivo de causar prejuízo. Ao explicar o porquê de comunidades ficarem de braços cruzados frente ao problema, Alice acredita que apatia resulte da falta de sensação de pertencimento aos lugares.
- As pessoas identificam os espaços públicos como do governo, o corrupto, que não atende às necessidades do povo, e não como algo delas, que pagam os impostos.
O sociólogo João Ignácio Pires Lucas conta que em países da Europa a tolerância à depredação tende a ser curta, o que desestimula os pichadores.
- As comunidades se reúnem instantaneamente e fazem a manutenção, porque o poder público demora. O vândalo vai no outro dia e já não vê o resultado do seu ato - comenta.
A rapidez no reparo contempla a Teoria das Vidraças Quebradas. Iniciado pelo ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, o projeto que originou a teoria pregava a tolerância zero com todos os problemas da cidade, dos menores ao maiores. Isso porque, conforme a tese, algo um pouco depredado e sem manutenção tende a ser mais estragado ainda. A rapidez nos consertos se justifica também por quesitos técnicos. Conforme Alice, após um mês, a pichação tem um grau de dificuldade maior para ser removida do que a feita há uma semana, por exemplo.
O sociólogo sugere um esforço das comunidades para conviver com os grupos dos bairros, inserindo os vândalos para evitar futuras ações.
- Além de limpar e não deixar os vestígios, as associações podem tentar inserir os depredadores e dar meios para demonstrar a rebeldia. O medo da represália pode ser articulado com a estrutura do policiamento comunitário.
Em Galópolis, a Academia da Melhor Idade, inaugurada pela prefeitura em maio de 2009, foi o atrativo que faltava para levar a comunidade de volta à praça do bairro. A presença de pessoas, principalmente idosos, se exercitando nos aparelhos ao ar livre inibiu a ação de vândalos e drogados.
Uma nova etapa da parceria entre poder público e comunidade está prestes a acontecer. A prefeitura assumiu o controle do antigo prédio do setor administrativo do Lanifício Sehbe, desativado em 1999. Localizado em frente à praça, com as paredes pichadas e vidros quebrados, o espaço compunha o cenário de depredação que afligia a comunidade. Após ser reformado com verba do Orçamento Comunitário, as salas serão ocupadas por atividades sócio-culturais, além de se transformar na sede da Amob, da subprefeitura e do Clube de Mães.
- Se a gente deixa o espaço, esse pessoal ocupa, mas não vão cuidar porque é como se não fosse deles - defende a presidente da Amob de Galópolis, Maria Patrício Pinto.
No bairro Esplanada, a falta de um centro comunitário levou as atividades da associação de moradores para uma sala cedida pela Unidade Básica de Saúde. Lá ocorrem palestras e ações de um grupo de convivência para idosos. Assim, paredes externas do posto de saúde, constantemente sujas ou pichadas, ficaram para trás após uma reforma feita pela prefeitura.
- Acho que quem depredava agora passa por ali e pensa: por que eu vou estragar se a minha avó está vindo aqui se desestressar? - sugere a presidente da Amob, Marta Clari Vieira Lopes.
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