Caxias do Sul conquistou sua primeira medalha paralímpica em toda a história dos Jogos. E o feito foi alcançado pelo judoca Marcelo Casanova, 21 anos, em Paris. Ele retornou à cidade com a medalha de bronze no peito.
— Foi uma emoção muito grande. A gente trabalha uma vida inteira esperando esse momento da consagração. Quando eu subi no pódio, toda aquela atmosfera, a cerimônia de entrega da medalha, eu senti o peso. Toquei nela, foi muito emocionante — destaca o atleta, que ainda diz não ter a real noção do feito alcançado:
— A ficha está caindo aos poucos. Ali na hora, a gente nem tem noção, estava tão focado em garantir o resultado, na conquista, que fiquei em êxtase e nem percebi o feito realizado. Mas, depois, vendo a repercussão, vendo a felicidade das pessoas que trabalharam comigo, que fizeram parte dessa medalha, a ficha vai caindo.
Com albinismo e 6,75 graus de astigmatismo, Casanova é o quarto do ranking mundial e competiu na categoria dos médios (-90kg) da classe J- 2 (para atletas com definição de imagens). Na primeira luta, o caxiense derrotou o britânico Evan Molloy, nas quartas de final.
— Já tinha enfrentado ele umas cinco vezes, sempre disputas muito parelhas, então eu sabia que não podia errar, porque se eu acabasse não tendo um bom resultado ali, a minha competição ia ficar muito mais difícil — destacou o judoca.
Na semifinal o embate foi mais duro. Casanova estava diante do número 1 do ranking mundial, o francês Helios Latchoumanaya, que conseguiu um ippon e superou o caxiense.
— Com toda aquela atmosfera, aquela torcida que estava vibrando por ele, eu sabia que ia ser uma luta muito difícil. Eu entrei também querendo demais, fiz uma luta muito boa com ele, e acabei sendo superado nos segundos finais.
Mas estar de fora da briga pelo ouro não fez com que Marcelo Casanova se abatesse, pelo contrário.
— Depois que eu perdi aquela semifinal eu pensei: "pô, eu tenho que sair daqui com a medalha". Então, criei forças, tirei da minha cabeça que a chance do ouro tinha escapado porque o bronze para mim ali iria valer ouro.
E a estratégia deu o resultado esperado. Na briga pelo bronze, Casanova começou a disputa agressivo e aplicou um waza-ari no italiano Simone Cannizzaro, com menos de dois minutos de luta. A partir daí, o caxiense soube administrar a vantagem e garantiu a conquista histórica para o paradesporto caxiense
— Sabia o jogo dele, ele sabia o meu. Então, entrei com essa estratégia bem montada de tentar buscar um waza-ari no início e depois não me pôr em risco, porque eu já sofri algumas vezes de querer terminar a luta logo ou de querer buscar uma pontuação cedo e na displicência acabar tomando um ponto de reversão, de contragolpe. Muito focado em buscar um ponto e depois só cozinhar a luta — revelou.
Comemoração, experiência e legado
Ao garantir o bronze, Casanova não pensou duas vezes em comemorar ao lado de quem mais o apoiou.
— Meus pais, meus irmãos, meus tios, minha prima e os amigos que praticaram judô comigo também durante essa caminhada, e o sensei Giovani Cruz, que me acompanhou durante todo esse ciclo. E ali foi uma festa, eles me deram força durante a competição e quando eu conquistei o resultado, fui lá, pulei na arquibancada, quebrei o protocolo, abracei eles.
Antes postulante a uma medalha, agora Marcelo Casanova passa a ser referência para outros atletas jovens que buscam fazer do esporte uma carreira de vitórias no judô e na vida. Além de adquirir pra si mesmo uma experiência única que poderá lhe dar o ouro nos próximos jogos paralímpicos.
— É um clima completamente diferente. Numa competição como essa, a integração com os outros esportes, com os outros países, com uma vila paralímpica que é uma cidade feita só pros atletas, é muito bacana — destacou o judoca, que finalizou:
— Eu queria demais esse resultado e com 21 anos eu acho que essa medalha vai me ajudar muito a seguir nessa carreira como atleta paralímpico e conseguir ter condições e experiência pra fazer novos ciclos, agora com o ciclo de Los Angeles de 2028 pro ciclo de 2032. Essa medalha me trouxe uma bagagem muito boa pra essa sequência de carreira.