Os campeões de torneios esportivos das interséries da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Imigrante receberam nesta quinta-feira (8) as medalhas das mãos de quem até a semana passada estava na disputa por uma premiação olímpica nos Jogos de Paris 2024.
Natural de Pinhalzinho (SC) a capitã da seleção brasileira de Rugby, Raquel Kochhan estudou em Caxias do Sul entre 2008 e 2009 quando jogava futebol na cidade. Antes de migrar para a modalidade olímpica a atleta foi campeã gaúcha em 2011 pelo time de Flores da Cunha.
Em 2024, na sua terceira participação em Olimpíadas, coube a Raquel ser a porta bandeira do Time Brasil na primeira abertura de Jogos Olímpicos fora de um estádio.
— Foi muito legal, tinha público em toda a margem do Rio Sena e fomos fazendo festa do início ao fim, não sabíamos exatamente em qual momento seríamos filmados, então puxamos a festa durante todo o percurso e colocamos o Rugby em evidência em frente ao nosso barco — conta.
O convite para representar a delegação na abertura das Olimpíadas veio na véspera por meio do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Paulo Wanderley Teixeira. Raquel guardou o segredo até a manhã seguinte quando a escolha enfim tinha sido divulgada em rede nacional.
— Fui dormir torcendo para que ninguém me perguntasse o que tinham falado naquela reunião quando me convidaram. Na manhã seguinte, meu celular não parava, ganhei muitos seguidores nas redes sociais — diz.
Foi a representatividade de Raquel, que venceu um câncer de mama antes dos Jogos de Paris, que determinou a escolha do COB. Professora de Educação Física, a atleta descobriu um nódulo no peito ainda antes dos Jogos de Tóquio. Em 2022 uma biópsia encontrou células cancerígenas encapsuladas nele.
— Encarei como mais um processo da vida, quanto mais cedo se descobre menos invasivo é o tratamento. Tratei como se fosse uma lesão, um processo na vida do atleta. Foi um período que precisava focar no que interessava para voltar a competir. Nem sempre as coisas acontecem como a gente quer e é preciso focar só naquilo que podemos controlar — reflete.
Troca de modalidade
Quando criança enquanto ajudava os pais na roça de Pinhalzinho, Raquel já mostrava e dizia que seria atleta. De acordo com a mãe Vera Lúcia Kochhan, que acompanhou a filha em Caxias nesta quinta, frases como "eu não sei" ou "eu não posso" nunca foram ditas por ela:
— Tudo que mandava ela fazia, não tinha limite, o que tu dizia pra fazer ela ultrapassava o objetivo. Quando ela disse que iria jogar Rugby pedi que treco era esse — brincou.
Esse espírito trouxe Raquel a Caxias para jogar futebol e por convite de uma amiga, em um treino de rugby, encontrou o esporte que a transformou em atleta olímpica:
— Sai de lá igual um porquinho que rolou no barro e pensei "nossa, esse é meu esporte". Fui convidada pelo Charrua de Porto Alegre para jogar um amistoso no Uruguai e lá tive contato com a seleção brasileira. Nem sabia que tínhamos uma e mais uma vez vi o que queria pra minha vida.
Uma habilidade desenvolvida no futebol foi determinante para a primeira convocação. Incentivada pela equipe, Raquel passou pelas seletivas de testes físicos e entrou na seleção para nunca mais sair.
— Passei no limiar dos testes físicos, na barra fixa nem pulando conseguia fazer uma, hoje faço mais de vinte. Mas no teste de habilidade eu tinha o diferencial de saber chutar e no Rugby ter habilidade com o pé é muito importante — conta.
Exemplo
Aluna do 3º ano do Ensino Médio, Camila Herbist, 17, foi campeã pela quinta vez nas interséries e teve o privilégio de receber a medalha pelas mãos da atleta olímpica.
No Imigrante são dois torneios por ano e o troféu do Vôlei tem ficado na turma de Camila desde o primeiro ano do Ensino Médio.
— Baita referência, as interséries aqui são muito bem organizadas e ter ela aqui falando com a gente é muito legal. Me formei como pessoa por meio do esporte, jogo desde 2018, me deu muita disciplina e responsabilidade. Quero ser fisioterapeuta para ter o esporte sempre por perto porque realmente é algo muito importante pra mim.