Ela é a própria inspiração olímpica e tem méritos de sobra para levar a bandeira brasileira na cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris. A catarinense Raquel Kochhann representa um esporte que busca espaço no país, em que as mulheres são vistas ainda com algum preconceito. Mas que vem participando dos Jogos desde o Rio de Janeiro em 2016.
É sacrifício buscar visibilidade neste contexto? Nada disso. Raquel tem na vida pessoal algo mais forte e que foi vencido para navegar embandeirando a delegação brasileira ao lado do já consagrado Isaquias Queiroz.
Raquel, para estar em Paris e seguir atleta de nível olímpico, venceu uma luta contra um câncer de mama, cujas células se alojaram num osso do peito. Foram quase dois anos de luta que a tiraram de ação por mais de uma temporada em meio a internações, sessões de rádio e quimioterapia.
Segundo a atleta, nada a fez desanimar, e a realização plena vem agora, como representante das "Iaras" (denominação do time feminino de rugby do Brasil) na condição de porta-bandeira brasileira.
— Cheguei aqui também para me divertir. Estou muito feliz. Nosso time tem poucas chances de medalha, mas queremos fazer mais do que em Tóquio. Podemos ganhar do Japão na primeira fase e já será algo muito bom. Eu já estou muito realizada — enfatizou.
Ao finalizar sua entrevista como porta-bandeira, Raquel Kochhmann foi cercada por suas colegas "Iaras" com abraços efusivos por algo que é considerado uma conquista.
"Cataúcha" total
Nascida em Saudades, oeste catarinense, criada na cidade vizinha de Palmitinho, Raquel Kochhmann se apresenta como alguém "da roça", pois foi agricultora e ia para a lavoura junto com os pais, ele de Santa Catarina, mas com ascendentes gaúchos, e a mãe natural de Arroio do Meio (RS).
Seu espírito gaúcho só aumentou nos cinco anos em que residiu em Caxias do Sul, se formou na UCS, e se desenvolveu no rugby através do Charrua Clube de Porto Alegre. Foi na agremiação que conheceu aquele que é o lema da equipe e foi tirado de um clássico do cancioneiro gaúcho, a música "Veterano".
Entre os versos do poeta Antônio Augusto Ferreira, lá está: "Se a força falta no braço, na coragem me sustento". Vencida a batalha contra o câncer, Raquel tatuou a frase no braço direito e a mantém como filosofia de vida.
Bate e volta
Escolhido como um dos porta-bandeiras do Brasil na Olimpíada, Isaquias Queiroz está treinando em Portugal. Foi lá que ficou sabendo de sua indicação para ser destaque na abertura dos Jogos e se deslocará para Paris apenas para a cerimônia de abertura dos Jogos, retornando para seu local de treinamento no próximo sábado.
As competições na canoagem velocidade começam para o baiano só em 6 de agosto com as provas eliminatórias da categoria C2 500m. No dia seguinte, o medalhista de ouro em Tóquio faz sua estreia naquela que é sua especialidade, a C1 1000m.