No domingo, dia 18 de agosto de 2024, quando o árbitro José da Silva Júnior apitou o final de partida entre Caxias e ABC, o torcedor grená pôde respirar mais aliviado. Depois de uma Série C 2024 desgastante, até o mais fanático chegou a duvidar do não rebaixamento do clube à Quarta Divisão.
Mas, depois de uma semana cheia de treinos, conversas e preocupação com o extracampo, o Caxias se municiou o suficiente para fazer do jogo com o time potiguar uma verdadeira final de Copa do Mundo.
A ideia de todos no Estádio Centenário era não deixar os pontos da partida com o ABC escaparem para não ter que ir até Maceió, no sábado (24), jogar a vida na rodada final da primeira fase diante do CSA. E deu certo. Dentro de campo, o time deu a resposta e venceu por 2 a 0, se livrando matematicamente de qualquer risco de queda.
Preocupação com Yuri Ferraz
Titular em nove partidas na Série C, o lateral-direito Yuri Ferraz viveu dias difíceis em Caxias do Sul. No início da semana passada, surgiu a informação de que o atleta já havia disputado quatro partidas na competição pelo ABC antes de se transferir ao Grená. O regulamento da CBF permite apenas três, e assim o clube poderá ser denunciado junto ao STJD. A pena prevista é a perda de três pontos por cada partida disputada pelo Caxias, ou seja, 27 no total.
O Caxias deu tranquilidade ao atleta e à torcida, dizendo que existem documentos que comprovam que a inscrição do lateral foi regular e que, pelas súmulas, ele teria atuado em três jogos. Por outro lado, fora de campo, o atleta teve dificuldades até para treinar.
— Nós tivemos trabalho da nossa psicóloga (Katerina Demori), da comissão técnica, tive conversas individuais com o Yuri, a diretoria dando apoio, porque o Caxias era vítima na situação e tem a boa fé. O Yuri estava muito abalado também, porque ele não esperava isso, estava muito chateado. A semana dele foi muito difícil — admitiu o técnico Thiago Gomes.
Orientado pelo departamento jurídico grená, o atleta ficou de fora da lista de relacionados para a partida com o ABC. Segundo o Caxias, a ação demonstraria a boa fé de que, quando tomou conhecimento de que o jogador poderia estar inscrito de forma irregular, o clube deixou de utilizá-lo em campo.
Vestiário aceso, torcida em maior número
O episódio Yuri Ferraz foi o estopim que faltava para motivar os atletas e convocar a torcida para a decisão de domingo. Dentro de campo, o que se viu foi uma equipe competitiva na medida certa, sem extrapolar os ânimos. E fora dele, quase seis mil pessoas atenderam ao chamado e se fizeram presentes na casa grená. Superando em três vezes a média de público, que ficava na casa dos dois mil na competição.
— O caráter dessa rapaziada foi uma coisa a ser exaltada. O sucesso do ano passado foi muito graças a esse tipo de coisa. E, mais uma vez, com o apoio fundamental do torcedor. E eu falo isso porque cabe para o torcedor esse meu argumento também. Porque a gente vê no cenário do portão afora como são as coisas, a maneira que as conversas são feitas com o atleta. O jogador é o cara que veste a camisa do time que eu amo, e, às vezes, eu penso que me dá o direito de chegar ali e trocar um soco com ele. E não é assim. E a nossa torcida entendeu isso — avaliou o capitão Dirceu.
Mexidas que deram certo
A estratégia de jogo do técnico Thiago Gomes para vencer o ABC foi repetir o esquema tático que implementou na chegada, mesmo que com derrota para o Remo, o 3-4-3. Mas, desta vez, com Marcelo de volta à ala direita e com Welder como novidade no ataque no lugar de Robinho.
E funcionou. O atacante marcou o segundo gol, que trouxe alívio a todos no Estádio Centenário, ainda no primeiro tempo. Mesmo que Álvaro estivesse abaixo daquele camisa 9 que o torcedor se acostumou a ver em 2024, Welder deu conta do recado e, com Gabriel Silva e Tomas Bastos, foram os principais destaques da equipe.
Tom de despedida
Ao final da partida, o presidente Mario Werlang comemorou o resultado e fez um pronunciamento à torcida. Disse o mandatário grená que acreditava no acesso, mas preferiu enaltecer os feitos de sua gestão, de setembro de 2022 até agora. Dentre eles, o acesso à Série C, boas participações no Estadual e duas classificações à Copa do Brasil.
Em tom de quem está deixando o cargo ao fim da temporada, Werlang ainda enalteceu o trabalho de toda a direção e afirmou que, para o ano que vem, fica o aprendizado dos erros cometidos nesta temporada.
— Desde que eu assumi, eu disse que assumiria com o Paulo Cesar (vice de futebol) estando junto comigo. E ele esteve e eu disse: "Nós vamos entrar juntos e vamos sair juntos, e vamos sair de cabeça erguida". Então, hoje (domingo), o Caxias está saindo da Série C, mas está saindo de cabeça erguida. O Caxias está crescendo, queremos crescer mais, e ano que vem vamos em busca de novos voos, e talvez aprender um pouco, usar o que nós aprendemos na Série C, para não errar tanto ano que vem, e conseguir um acesso para a B — finalizou.
O Caxias se despede da Série C de 2024 no sábado, diante do CSA, em Alagoas.