O técnico que fez o torcedor grená sorrir ao final de uma competição que parecia perdida tem apenas 40 anos. Thiago Gomes recebeu uma missão quando chegou ao Estádio Centenário, no dia 3 de julho: evitar o iminente risco de rebaixamento da equipe à Série D.
Com apenas seis pontos na ocasião, o clube amargava a vice-lanterna da Terceira Divisão Nacional. O treinador, inclusive, abriu mão de um período na Coreia do Sul, onde conheceu as instalações da nova casa da seleção coreana, para treinar o Grená. E após 10 jogos e 50% de aproveitamento, o técnico conseguiu fazer com que o time alcançasse os 21 pontos, fechando a participação grená em 15º lugar.
— O Caxias é um clube que há muito tempo queria estar trabalhando. Eu tenho uma admiração muito grande pelo Caxias. Foi e está sendo um momento especial na minha carreira, e consolida também estar hoje no mercado trabalhando na Série C, nesse terceiro campeonato seguido — admitiu o comandante grená.
Falcão e Paixão, Sport, 2016
Durante entrevista ao Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, Thiago Gomes revelou ainda mais detalhes de sua carreira. Com passagens como auxiliar-técnico de Inter, Grêmio e Sport, o profissional teve a chance de ficar perto de figuras emblemáticas na história da dupla Gre-Nal como Falcão, Renato Portaluppi e Felipão.
— O Falcão, por todo o conhecimento tático do jogo e entendimento que tem, não vai pegar qualquer clube pensando só no dinheiro. Ele sempre me conta a história do porquê ele foi para a Roma. Ele tinha a possibilidade de sair do Inter e ir para clubes que naquela época eram muito mais fortes que a Roma. Mas ele queria o desafio. Tentar fazer história em um clube que não tinha a mesma história que outros grandes da Itália — apontou Thiago, que ainda disse o que aprendeu com o "Rei de Roma":
— O Falcão é um cara que trouxe do futebol europeu para o Brasil muita informação. É um cara que tem um entendimento tático muito grande e que eu pude aprender muito sobre linha de quatro, como defender no 4-4-2, que era uma característica que ele gostava também.
Junto com Falcão, a comissão técnica do Sport, em 2016, ainda era formada pelo preparador físico Paulo Paixão. Como auxiliar, Thiago Gomes destacou o aprendizado que teve ao lado do multicampeão.
— O Paulo Paixão tem essa experiência para identificar os cenários do vestiário muito grande. Eu tive oportunidades, ao longo do período de concentrações, de viagens de jogos, de ver o Paixão dar opiniões com atletas com situações onde tu vês que é a leitura de cenário. Além do conhecimento científico dele como preparador físico, tem esse feeling do vestiário. Ele consegue fazer com que o atleta que está no grupo 3, e nem é relacionado para o jogo, mantenha-se motivado nos treinos em busca de espaço. Isso é tempo de trabalho.
Renato e Felipão, Grêmio, 2018-2021
No Tricolor, Thiago Gomes foi auxiliar-técnico dos dois maiores ídolos da casamata gremista. Com Renato, ele aprendeu como ficar "com o grupo na mão". Ele esteve ao lado do treinador entre 2018 e 2021.
— O Renato, com certeza, tem a gestão de ambiente, ele consegue ter todo o elenco na mão, no sentido de todo mundo estar tranquilo com ele. E ele não passa do limite no nível de informação que dá, isso eu pude ver ele trabalhar. A gente que é acadêmico, às vezes, acredita muito no estudo, na informação, na teoria e nos números. Só que em alguns momentos se você começa a encher a cabeça do atleta com muita informação e muito número e detalhe, você acaba até atrapalhando — lembrou Thiago.
O olhar de como Renato lida com o elenco fez o próprio Thiago Gomes admitir que já errou na dosagem de informação aos atletas.
— Eu como treinador, em alguns momentos, há alguns anos atrás, passei do ponto. Pô, fiz vídeo segunda, fiz vídeo terça, quarta, quinta. O jogador chega e pede desculpa, porque não aguenta mais. Chega de vídeo. Então, hoje eu não faço mais isso porque eu já achei o equilíbrio e o Renato foi importante para isso. Tu vês que ele tem resultado, ele é multicampeão e ele não faz uma hora de vídeo por dia.
Já com o treinador do penta brasileiro, Felipão, em 2021, Thiago admite ter extraído dele os detalhes de como fazer uma análise minuciosa do adversário.
— O Felipão me marcou muito pela forma de como ele se prepara para tentar anular o ponto forte do adversário. Às vezes, eu ficava muito focado no meu time, no que eu tenho de potencial dentro do nosso elenco e da nossa estratégia de jogo. E eu percebi que o Felipão estava muito focado nos detalhes que poderiam fazer o adversário ganhar o jogo.
E ao lado de tantos profissionais vitoriosos no mundo da bola, Thiago Gomes está trilhando seu próprio caminho. Ele bebeu da mesma água de Felipão, Renato, Falcão e Paixão. E agora, depois de salvar o Caxias na Série C, pretende dar um novo passo rumo a uma carreira de sucesso na casamata.
— Sei da história do Caxias de formar treinadores. Os grandes treinadores de futebol brasileiro passam por aqui. É uma escola de treinador, então eu também como técnico gaúcho, tenho essa escola aqui. Esse aqui é o lugar e eu estou muito feliz de estar trabalhando aqui — finalizou.