Maria Eduarda Machado Stumpf já vive o clima paralímpico. Ela encarou os muros da vida para enxergar o outro lado e viu no esporte e na família os principais propulsores para viver intensamente cada momento. Maria não quer ver a vida passar pela janela. Ao contrário, quer ser soberana na sua jornada.
A atleta de 19 anos está em sua primeira Paralimpíada com o Time Brasil. Ela competirá na quinta-feira (29), um dia após a abertura dos Jogos.
A Maria, que saiu de Itaqui em 2006 e veio a Caxias do Sul em busca de tratamento para uma lesão no braço, chegou a Paris, na França, no maior evento poliesportivo do mundo. Quando nasceu, ela teve uma lesão no plexo-braquial, conjunto de nervos que faz a comunicação entre os braços e o cérebro, causando limitações nos movimentos dos membros superiores.
— É a minha estreia nos Jogos Paralímpicos, é a realização de um sonho de todo atleta de alto rendimento. É um passo que dou no meu objetivo pessoal, que é levar a minha história. Mostrar para outras pessoas, não só as que têm deficiência, poder inspirar elas de alguma forma, do jeito que eu fui inspirada no esporte — contou Maria Eduarda, em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
Quando veio para Caxias, Maria buscava na natação fazer fisioterapia e melhorar o seu desenvolvimento. A sua professora a indiciou para o atual técnico de taekwondo da ACTKD/UCS, Daniel Brisotto. Como a própria Maria lembra, foi amor ao primeiro chute, e ela entrou de vez no esporte de alto rendimento. A decisão tomada no dia 17 de abril de 2017 mudou o rumo da sua vida.
— Com 19 anos não esperava que eu estivesse nas Paralimpíadas. Eu esperava estar num patamar bom para quem estava iniciando, num cenário internacional, até porque a concorrência, principalmente na minha categoria, temos bastante atletas boas. Estar onde eu estou hoje, não tenho palavras para definir — contou Maria.
A BUSCA DA MEDALHA INÉDITA
Maria já tem 11 medalhas das mais diversas competições que disputou pelo mundo. São duas de ouro e três de bronze no Grand Prix. No ano de 2023, a jovem foi ouro no Parapan de Santiago, no Chile, a mais importante até o momento. Entretanto, ela pode ser superada por uma que tem um pedaço da torre Eiffel.
— Eu costumo dizer que cada luta é uma final, porque não tem que desmerecer adversário. Mas a gente está com boas expectativas. De acordo com o ranking que a gente tem, o pré-chaveamento, com certeza a gente vai beliscar uma medalha — destaca a atleta.
A atleta é representante da classe K44 (categoria até 52kg). Para chegar ao pódio, Maria precisa passar por três lutas. Terceira do ranking mundial, atrás apenas de atletas da Turquia e do México, ela deve entrar nas quartas de final. Entre as possíveis adversárias na estreia, uma atleta da China, sétima no ranking.
— Eu lutei com ela uma vez no ano passado, na semifinal do Grand Prix Final, e ela é chatinha. Toda asiática é assim, por conta dela ter um estilo de luta parecido com o meu, mas eu sei que essa luta vai se resolver nos detalhes. Então, a gente está trabalhando bastante nisso.
"Falam que uma pessoa com deficiência é uma limitação, eu discordo, porque limitação todos nós temos"
MARIA EDUARDA STUMPG
Atleta do Brasil nos Jogos de Paris
Maria Eduarda é uma atleta empoderada. Quem ouve ou lê as falas dela pode pensar que ela tem décadas de experiência no esporte. Mas, ao contrário, a jovem de 19 anos ainda está começando no alto rendimento. E a deficiência no braço nunca foi uma limitação.
— Falam que uma pessoa com deficiência é uma limitação. Eu discordo, porque limitação todos nós temos. Tem amigos meus que não possuem deficiência e que não sabem nadar, é uma limitação. Tem pessoas que morrem de medo de altura e não conseguem escalar, é uma limitação. Então, a deficiência não significa uma limitação, a deficiência significa que tu consegue fazer as coisas de outras maneiras, do teu jeito — refletiu a atleta, que revelou ainda um segundo nascimento:
— A Maria Eduarda que vocês veem hoje, ela só nasceu através do taekwondo, porque através do taekwondo eu consegui me aceitar, como uma pessoa que tem uma deficiência. Isso não é problema nenhum e eu posso fazer tudo que eu quiser.
RECADOS DA FAMÍLIA
"Gratidão, a palavra resumida é gratidão a Deus por ter me dado a oportunidade de ser tua mãe, de ter ensinado muita coisa, ter aprendido muito. A Maria lá do Itaqui virou a Maria do Brasil e hoje ela está participando do maior evento esportivo do planeta. Vamos em Paris sentadinho lá na bancada, gritando, vibrando por ti, minha filha, te amo infinitamente"
ELISÂNGELA MACHADO
Mãe de Maria Eduarda
"Nossa ficha não caiu ainda. Nossa filha atleta que vai representar o Brasil no maior evento esportivo do planeta. Que orgulho filha!, venho aqui para te falar que tenho muito orgulho de ti filha, pela tua dedicação, força, garra, determinação em tudo que tu faz. Vamos com tudo para Paris. Te amo filha"
RONALDO STUMPF
Pai de Maria Eduarda
"Saiba que é uma grande inspiração para mim e para muita gente. E não te esquece que a gente vai estar aí torcendo por ti sempre!"
ISABELA STUMPF
Irmã de Maria Eduarda
"A vó tá muito orgulhosa de ti. E que tu seja bem feliz, sempre com Deus no comando, tá? Beijo, te amo, minha filha"
MARIA TEREZINHA MACHADO
Avó de Maria Eduarda Stumpf
FICHA TÉCNICA
Maria Eduarda Machado Stumpf
- Nascimento: 01/11/2004 (19 anos)
- Natural: Itaqui (RS)
- Residente: Caxias do Sul (RS)
- Esporte: Taekwondo
- Ranking Mundial: 3ª World Ranking
- Clube: Atleta da ACTKD/UCS
- Classe: K44
- Medalhas: Campeã Parapan 2023;
🥇🥇🥈🥉 PanAm
🥇 Solidarity's Center
🥇🥇🥉🥉🥉 Grand Prix