Personagem marcante no confronto histórico entre Figueirense e Caxias, na rodada final do Campeonato Brasileiro Série B de 2001, o ex-árbitro Alfredo dos Santos Loebeling não sabia, mas entrava em campo pela última vez naquele dia 22 de dezembro no Estádio Orlando Scarpelli. Antes cotado a apitar na Copa do Mundo de 2006 e com dois prêmios consecutivos como melhor árbitro, Loebeling alterou a súmula da partida, dizendo que a invasão a campo da torcida catarinense, quando o time vencia por 1 a 0, se deu após o apito final. Algo que não aconteceu.
Na época, em entrevista ao então repórter Alessandro Valim, da Rádio Caxias, Loebeling admitiu, durante a invasão, de que iria relatar na súmula que não teve condições de encerrar o jogo e que os torcedores entraram no gramado quando faltavam dois minutos para a partida acabar.
— Daqui a pouco, eu acho o Loebling em campo, no meio dos policiais, chego e pergunto pra ele: "Loebeling, o que aconteceu, o que você vai relatar?". Ele disse:"Não, eu vou relatar o seguinte, que faltavam dois minutos e que, quando aconteceu uma sinalização, a torcida do Figueirense invadiu o campo e eu não consegui dar final à partida" — lembrou Valim.
Pressionado pelo presidente da Comissão de Arbitragem naquele ano, Armando Marques, e pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, o juiz mudou o relatório da súmula e a disputa entre os clubes foi acabar nos tribunais.
— Eu não tenho dúvida de que a decisão que foi tomada foi uma decisão política. Você já tinha três equipes do Rio Grande do Sul disputando o Campeonato Brasileiro e a gente sabe o que representa a um Estado passar a ter uma equipe no campeonato nacional da Primeira Divisão — apontou Loebeling, em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra. Ele ainda confirmou o relato de Valim, de que o jogo não havia acabado:
— Foi um lateral a favor da equipe do Figueirense, a torcida interpretou como final do jogo e invadiu o campo. E faltavam ali um minuto e meio, dois minutos. Essa paralisação provocada, segundo a lei da época, o time que provocou essa invasão de campo tinha que perder os pontos. Só que a torcida do Figueirense tirou as redes das goleiras, retirou as bandeirinhas de escanteio, as bolas foram furtadas, aí não tinha mais como acontecer o jogo.
Loebeling ainda deu detalhes de como foi a conversa com Armando Marques e Luiz Zveiter, que acabou alterando a súmula do confronto.
— Então nós fizemos esse relatório, viemos para São Paulo e no dia seguinte do jogo o Armando Marques me ligou, fez uma série de elogios à arbitragem. E me pediu: "Você já fez o relatório do jogo?" Eu falei: "Olha, a súmula está preenchida, e eu vou fazer um relatório sobre todos os fatos que aconteceram". Ele falou para eu ler o que tinha colocado. Quando eu comecei a ler, ele não deixou terminar meia página do relatório, que tinha duas. Ele falou: "Pra que isso? Vai dar a maior confusão. Pega aí, você vai escrever o seguinte, que após o final do jogo, houve uma invasão de campo" — revelou.
De cara Loebeling não aprovou a ideia do presidente da Comissão de Arbitragem. Mas a pressão foi aumentando para o seu lado com constantes ligações ao árbitro e mais um pedido de Zveiter.
— O Luiz Zveiter falou que não teria valor legal o relatório por ser um fax, e eu ia entregar na mão dele o relatório oficial do jogo. Eu levei ao Rio de Janeiro do jeito que foi feito, e o Zveiter me denunciou, como se eu tivesse entregado dois relatórios. Quando ele foi me julgar pelos dois relatórios, ao mesmo tempo, ele estava definindo qual dos dois valeria.
O árbitro foi julgado e, assim como o destino de Figueirense e Caxias, o dele também já havia sido traçado.
Arrependimento e jogo sem fim
Alfredo Loebeling ainda destacou que seu arrependimento no caso foi ter confiado no presidente do STJD.
— Como eu não ia confiar no presidente do Supremo Tribunal de Justiça Esportiva? Porque é um tribunal político, foi uma decisão política. Lógico que eu não tenho o tamanho do Caxias que eu respeito profundamente, mas nós temos uma coisa em comum. O Caxias e eu fomos usados pelo sistema. Não tenha dúvida disso. O sistema quis botar um clube de um outro estado pra gerar milhões pra aquele estado — admitiu, mas ele não se arrependeu de alterar a súmula.
— Eu não me arrependi justamente pelo fato de que eu fui pedir socorro, não sabia o que fazer. Então eu procurei o sindicato, a federação. E o cara que manda na Justiça Esportiva do país. Como é que eu ia falar pro cara, não quero fazer isso?
No final, decidiu-se que o Figueirense não ficava com os três pontos, mas sim com o gol da vitória por 1 a 0, o que foi suficiente para que, no saldo, ficasse à frente do Caxias na tabela, com os mesmos seis pontos.
Loebeling jamais voltou a apitar uma partida oficial no Brasil. E perguntado se ele irá assistir ao reencontro de Caxias e Figueirense, no domingo, pela Série C, ele é taxativo:
— Olha, com todo o respeito ao Figueirense, ao Caxias não, não vou. Não que eu tenha algo contra a Série C. Honestamente esse pra mim é o jogo que nunca acaba. Espero que o torcedor do Caxias entenda que os interesses foram muito superiores ao interesse esportivo e que eu não tinha como agir de uma outra maneira.