O dia 7 de junho de 1998 está gravado na memória do torcedor do Juventude. Naquele data, os atletas alviverdes que estiveram em campo seguraram 50 mil pessoas na base da entrega, qualidade técnica e suor. Foi neste dia que o Juventude conquistou o seu primeiro e único Campeonato Gaúcho em pleno Estádio Beira-Rio.
Depois de vencer por 3 a 1 no Estádio Alfredo Jaconi, o time comandado por Lori Sandri empatou em 0 a 0 com o Inter e ficou com o título. A festa tomou conta da Serra e se espalhou pelo Rio Grande, que era pintado de verde e branco pelo Papo.
O feito do Juventude foi enorme, pois há 44 anos um time não conseguia acabar com a hegemonia de Grêmio e Inter. Se o torcedor levar em consideração os anos em que um time do interior não gritava "Campeão", a conta aumenta para 59 anos. Além disso, a conquista alviverde veio de forma invicta. Em 12 jogos, o Verdão teve sete vitórias e cinco empates.
O Gauchão de 1998 foi bem diferente do modelo atual. A primeira fase teve 25 equipes. Nove delas, mais Grêmio, Inter e Juventude, além de Glória, São Luiz, Brasil-Pel e Inter SM (classificados via Copa Galego) formaram quatro grupos na segunda fase. Os dois primeiros de cada grupo disputaram as quartas de final. Inter, Brasil-Pel, Juventude e Veranópolis avançaram às semifinais. O Juventude eliminou o Xavante e o Inter passou pelo Veranópolis.
HERÓIS DA CONQUISTA
A equipe de 1998 do Juventude foi construída para conquistar títulos. O elenco tinha atletas experientes, como Sandro Sotilli, Capone e o capitão Flávio Campos. Assim como em 2024, o grupo da época contava o DNA formador jaconero. Um exemplo disso era o lateral-esquerdo Edson Kaspary. Formado na base do clube, ele descobriu que jogaria a final na concentração, após o titular contrair uma virose.
— O grupo de Juventude começou a ser montado para ser campeão gaúcho em 1997, naquela campanha do Brasileiro (o Verdão ficou entre os oito melhores entre 26 participantes). Isso acabou criando casca. Nós tínhamos um treinador dentro de campo que era o Flávio Campos. Ele passava uma segurança muito grande para os atletas, e o Lori era um paizão, era amigo de todos. Nós formamos uma grande família, tínhamos isso como meta, de conquistar o título. Tínhamos qualidade, organização e preparo mental para chegar lá e conquistar esse título — comentou o lateral da época.
Flávio Campo foi peça determinante na conquista do Juventude. Na partida de ida, o time derrotou o Inter, de virada, por 3 a 1, no Estádio Alfredo Jaconi. Flávio marcou dois, sendo o primeiro um golaço de fora da área. Ele relembra o cenário contrário ao Juventude nas duas partidas.
— A mídia, de um modo geral, no Brasil, falava que o Juventude não tinha como segurar o Inter. Quando o Christian fez o gol, falamos que não tinha nada perdido e íamos manter o nosso jogo. Para a felicidade minha, depois de uma jogada do Lauro, empatei a partida. Fomos para o segundo tempo com a moral elevada. O Jaconi estava entupido de gente. No começo do segundo tempo, fiz o segundo gol em uma jogada trabalhada com o Índio e eu entrava na área para finalizar. Com 2 a 1, o Inter sentiu e baixou a guarda. O Lúcio, da Seleção, era quem marcava o Sotilli, mas não encontrou ele no jogo — relembrou o capitão do título.
SEMELHANÇAS COM 2024
Entre os nomes de destaque da conquista de 1998 também está Sandro Sotilli. Naquele ano, o goleador do campeonato foi Badico, do Inter SM, com 13 gols. Porém, para Sotilli, a campanha foi especial e ele teve de tomar uma decisão importante. Na temporada anterior, ele defendia o Inter, mas foi negociado e optou pelo Ju. O atacante viu que teria mais condições de mostrar o seu futebol em Caxias do Sul, e foi o que aconteceu. O único título gaúcho de um ícone do futebol do interior veio em 1998.
— O Juventude tinha um grupo muito experiente. O Rodrigo Gral tinha sido emprestado pelo Grêmio, o Capone acho que veio do São Paulo, o zagueiro Índio, o Flávio, todos que passaram por grandes clubes. E queriam provar para novamente voltar ao centro do país. O fundamental foi o grupo, na liderança do Flávio Campos, para conseguir o título. O que decide mesmo é ter um vestiário forte, unido. É o único título gaúcho que tenho. Foi como ganhar uma Champions League. Tudo que represento hoje, faltaria esse sabor de ser campeão e tive essa honra — afirmou Sotilli.
É o único título gaúcho que tenho. Foi como ganhar uma Champions League. Tudo que represento hoje faltaria esse sabor de ser campeão e tive essa honra
SANDRO SOTILLI
Campeão Gaúcho 1998
O jogo do título terminou sem gols no Beira-Rio. Caso o Inter tivesse vencido, o regulamento mandava as equipes entrarem em campo em uma terceira partida, mas não foi preciso.
Já em 2024, um novo empate levará a decisão do título entre Juventude e Grêmio para os pênaltis. Para o ex-atleta Edson Kaspary, a atual equipe de Roger Machado tem algumas semelhanças com a de 1998.
— É uma equipe muito organizada, assim como era em 98. Eu vejo o Caíque e o Jadson, os grandes articuladores do meio do Juventude. O Caíque é o carregador de piano, muito marcador. O Jadson faz a equipe andar. O Gilberto na frente se assemelha, apesar de características um pouco diferentes, ao que o Sotilli fazia. O Zé Marcos na zaga é um líder, e vive um momento muito bom, muito parecido com o que o Capone fazia. Eu percebo também uma grande capacidade do Roger Machado. Quem vê o Juventude hoje, sabe perfeitamente a movimentação de cada atleta dentro de campo, e isso me faz acreditar muito na possibilidade de conquistar o título mesmo jogando dentro da Arena — analisou Kaspary.
CAMPANHA DO JUVENTUDE EM 1998
12 Jogos
7 Vitórias
5 Empates
0 Derrotas
Gols marcados: 14
Gols sofridos: 4
JOGOS:
Juventude 2x1 São José-PoA
Brasil-Pel 0x0 Juventude
Brasil-Fa 1x1 Juventude
Juventude 2x0 Brasil-Fa
Juventude 1x0 Brasil-Pel
São José-PoA 0x0 Juventude
Quartas: Glória 0x1 Juventude
Quartas: Juventude 2x0 Glória
Semifinal: Brasil-Pel 0x0 Juventude
Semifinal: Juventude 2x1 Brasil-Pel
Final: Juventude 3x1 Inter
Final: Inter 0x0 Juventude
FICHA TÉCNICA
Ida: Juventude 3x1 Inter
31/5/1998 - Estádio Alfredo Jaconi
Juventude: Humberto; Marcão, Borges Neto, Capone e Índio; Édson, Flávio, Sandro Fonseca (Mabília) e Lauro; Rodrigo Gral e Sandro Sotilli. Técnico: Lori Sandri
Inter: André; Denílson, Lúcio, Espínola e Alexandre; Ânderson, Odair (Fernando Gaúcho), Marcelo e Christian; Leandro (Fabiano) e Paulo Diniz (Claiton). Técnico: Celso Roth
Gols: Christian (I), aos 4min, Flávio (J), aos 17min, no primeiro tempo. Flávio (J), aos 12min, e Lauro (J), aos 23min, no segundo.
FICHA TÉCNICA
Volta: Inter 0x0 Juventude
7/6/1998 - Estádio Beira-Rio
Inter: André, Denílson, Lúcio, Régis e Espínola; Anderson, Odair (Claiton), Marcelo Rosa (Luís Carlos) e Fernando (Fabiano), Paulinho Diniz e Christian. Técnico: Celso Roth
Juventude: Humberto, Borges Neto, Capone, Índio e Édson; Marcão, Flávio Campos, Lauro (Jardel) e Sandro Fonseca; Rodrigo Gral (Mabília) e Sandro Sotilli. Técnico: Lori Sandri