Ele não tem papas na língua. Sanguíneo e autêntico, essas sempre foram marcas de Argel Fuchs quando ainda era zagueiro. Atualmente como técnico, e de mesmo perfil, o profissional atendeu ao chamado para comandar o Caxias na reta decisiva de Gauchão, mas também para a Copa do Brasil e Série C do Brasileiro de 2024.
Em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, direto da Casa RBS nos Pavilhões da Festa da Uva, Argel se sentiu à vontade para falar sobre temas que marcaram sua carreira. Como a fama de "bombeiro" quando é chamado para atender a um momento delicado de uma equipe.
— Isso não interferiu pra que eu ficasse algum tempo longe do Rio Grande do Sul (oito anos). Eu não me importo com que as pessoas falam. A minha personalidade é muito maior. Cada pessoa tem o jeito de interpretar como quiser. Sobre ser um "bombeiro", só quem não conhece a nossa carreira. É só ir lá no wikipédia (site de pesquisa) e ver quem é Argel Fuchs — apontou o treinador.
Confira os principais trechos da entrevista ao Show dos Esportes na quinta-feira (22).
Passagem pelo Inter, 2015-2016
— Nós passamos onze meses e meio no Inter. Tivemos 61% de aproveitamento, muito mais vitórias do que derrotas. Ganhamos dois títulos. Aliás, nosso trabalho foi o último que ganhou no Inter. Passaram 15 treinadores, um melhor do que o outro no Inter, e não conseguiram ganhar. E passaram por lá argentino, espanhol, uruguaio, de tudo que é tipo. Com um gigante que é o Inter, com a pujança financeira que tem e não venceram. "Ah, mas o Campeonato Gaúcho não vale nada!'. Não, vale muito. Só não vale pra quem não ganha. "Ah, mas a Recopa Gaúcha...". O Renato deu volta olímpica com a conquista da Recopa Gaúcha. E aí quando o Argel comemorou disseram: "Ah, o Argel tá comemorando a Recopa Gaúcha que não é título...". Como não é título? Foi o último título que o D'Alessandro levantou.
Fama de "técnico bombeiro"
Passaram 15 treinadores, um melhor do que o outro no Internacional, e não conseguiram ganhar. E passaram por lá argentino, espanhol, uruguaio, de tudo que é tipo
ARGEL FUCHS
Técnico do Caxias
— As pessoas nos chamam de bombeiro, mas fiquei ainda um ano e meio em Portugal (Alverca). Ficamos dois anos no Figueirense, com Série A, Sul-Americana e Copa do Brasil; ficamos oito meses no Vitória. Claro que há lugares que você fica dois ou três meses. A média de permanência do treinador brasileiro nas equipes é de três meses. E isso tudo vem por falta de resultado. E o imediatismo é tão grande no futebol brasileiro, e não é só aqui, na Europa está assim também. O treinador sofre uma pressão muito grande e isso é normal. E isso não me afeta, até porque foram 18 anos como jogador profissional, em nove clubes, um maior do que o outro, e mais 16 anos como treinador profissional. Então, pode bater que as costas são largas.
Relação com Felipão e pressão no futebol
— Gosto muito do Felipão, trabalhamos no Palmeiras e fomos campeões. E um dia ele falou que quem não quisesse pressão no futebol que fosse trabalhar no Banco do Brasil, e os bancários não gostaram. Eu digo assim, quem não quer pressão vá trabalhar na farmácia. E os farmacêuticos reclamaram. Então é questão de interpretação. Hoje em dia, as pessoas se escondem muito nas redes sociais. Hoje a imprensa não tem acesso a nada.
Áudio do trator nas vésperas do Gre-Nal
— Não falei nada demais. Era um áudio privado. Eu mandei para uma pessoa e nunca imaginei que ele fosse enviar pra frente. Jamais! Mas eu não mandei quebrarem ninguém. Eu não falei pra destruir a instituição Grêmio. Só faltava no áudio eu dizer assim, "não, deixa o Grêmio nos atropelar, vai passar o trator na gente". E o Gre-Nal terminou 1 a 0 (para o Grêmio). Se fosse o Gre-Nal do trator teria que ter terminado em 4 ou 5 a 0. E aí uma coisa legal que acontece e eu brinco com amigos gremistas que me perguntam: "E aí Argel, como está o trator?". Eu respondo, "O trator tá bem, pra jogar três vezes a Série B precisa de trator, você não consegue andar de Mercedes!" (risos).
"Vou botar a minha mãe pra jogar!"
— Eu não posso esquecer minha essência, meu jeito de ser. E o futebol continua da mesma forma. E tem bordões que a gente cria. E esse episódio do torcedor do ABC (no empate em 0x0 com o Juventude, pela Série B 2023), e o torcedor é engraçado, e eu entendo, faz parte da paixão. E às vezes ele nem é torcedor do clube e está lá pra me incomodar. E aí naquele jogo ele falou assim:"Argel, bota o fulano...". Eu digo, pô, o fulano foi embora do clube há três meses. Aí daqui a pouco ele vem de novo e diz: "Argel, bota o beltrano...". Pô, mas o beltrano quebrou o pé, está machucado há três semanas. Daí na quarta vez eu disse: "Sim, vou botar a minha mãe pra jogar!" (risos).