O Caxias tem dois protagonistas do acesso à Série C do Brasileiro. Dentro de campo, o nome indiscutível da história é Eron, o camisa 9 goleador da Série D com 14 gols. Na beira do campo, o técnico Gerson Gusmão se revelou um estrategista. Ele precisou modificar a equipe em busca da formação ideal para as seis batalhas do acesso e obteve êxito.
O treinador foi certeiro nas suas escolhas. Diante da Inter de Limeira, usou três atacantes para marcar a saída de bola e anular o adversário. Contra o Ceilândia, manteve um volante que era terceira opção para ter mais sustentação no meio-campo. Já contra a Portuguesa, no Rio de Janeiro, Gusmão mexeu na figura mais simbólica do futebol. Ele sacou o camisa 10 Peninha para colocar um terceiro volante no time. Em entrevista ao Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, o treinador revelou quando tomou a decisão de tirar Peninha e usar Emerson Martins.
— Foi no começo da semana. Pelo que foi detectado do adversário nós precisaríamos lá ter um jogador que tivesse também poder de criação, talvez não tanto como o Peninha, mas que tivesse uma dinâmica maior e principalmente sem a bola combatesse um pouco mais. A ideia era utilizar o Peninha na parte final do jogo, mas as circunstâncias foi se desenhando e precisamos trocar os dois laterais. O foco era ter um pouquinho mais de marcação sem a bola — explicou Gusmão.
No dia em que o Grená conquistou o acesso, o treinador completava 74 dias no clube. Ele não teve a oportunidade de montar um elenco com as suas características. Com pouco tempo, o Gusmão soube extrair o máximo do grupo. Assim como em um jogo de xadrez, o técnico teve a sabedoria de mexer as peças, na hora certa, para dar o xeque-mate.
— Sentimento de dever cumprido, era o grande objetivo e não só meu, mas de todos envolvidos. Esse tão sonhado acesso e tão esperado pelo nosso torcedor. A gente sentia essa ansiedade, essa carência de grandes resultados de grandes conquistas e muito feliz de ter dado a minha contribuição para chegarmos nesta conquista — declarou o treinador Grená.
TAMANHO DO ACESSO
Gerson Gusmão ainda não consegue dimensionar o tamanho da façanha Grená. O time teve quatro tentativas frustradas em anos anteriores. Foram mais de 140 atletas que tentaram, mas apenas o atual elenco conseguiu colocar o Caxias na Série C, o seu primeiro acesso nacional.
Muitos sentimentos tomaram conta do torcedor desde Natal-RN. Decepção, frustração, revolta, esperança, alegria, euforia e, por fim, o atual estágio é de encantamento. O técnico presenciou na concentração Grená, no Rio de Janeiro, todos os semblantes dos dirigentes.
— Percebia esse sentimento, essa angústia e isso ficou nítido no hotel. No dia do jogo, dei bom dia para toda a direção e sentia no semblante deles uma preocupação. Uma ansiedade muito grande. E eu ainda comentei: "vocês podem ficar nervosos, podem ficar agitados, que eu estou calmo e a gente vai conseguir ter tranquilidade para passar aos atletas". É difícil de mensurar o tamanho do feito, mas eu sei que foi importante, eu sei que vai ficar marcado e espero poder dar novas alegrias ao torcedor também — contou.
É difícil de mensurar o tamanho do feito, mas eu sei que foi importante.
GERSON GUSMÃO
Técnico do Caxias
A união do elenco do Caxias é uma das marcas da era Gusmão. O treinador, que tem contrato até o fim do Gauchão 2024, não perdeu a mão do grupo mesmo tirando atletas experientes da titularidade, como Dirceu. Ainda coube ao treinador, a dura missão de tirar nove atletas para a viagem derradeira do acesso. Sobre a importância da figura do técnico, ele prefere enaltecer o poder de decisão dos atletas.
— Nessa última viagem, nove atletas nem viajaram, mesmo com potencial e sendo bons jogadores. Não é fácil essa relação, mas eu sempre falo que talvez a parte mais importante do treinador é você vender a sua ideia e os atletas realmente executarem isso, comprarem e procurarem fazer. A execução é deles, eu passo ideias, passo a estratégia. Pode acontecer de você passar a estratégia e o jogador, no calor da partida, num momento ruim, esquece de tudo. Aí você vê que o atleta não está com o nível de concentração que os grandes os jogos exigem — finalizou.