Entre os dias 1º e 15 de maio de 2022, Caxias do Sul estendeu as mãos ao mundo Surdolímpico. Pela primeira vez na história, a América Latina recebeu o maior evento poliesportivo da comunidade surda. Foram 77 países, cerca de 4 mil atletas e milhares de expectadores. Representantes do Japão, África, Holanda, México e Equador foram alguns dos integrantes do evento.
Organizada pelo Comitê Internacional de Esportes para Surdos, as Surdolimpíadas ocorrem de quatro em quatro anos. A primeira edição foi em Paris, na França, em 1924. Este foi o primeiro evento esportivo para pessoas com necessidades especiais. Portanto, é também o evento multiesportivo mais antigo depois da Olimpíada.
REVEZAMENTO DA TOCHA
Um dia antes da abertura dos jogos, o comitê organizador realizou o revezamento da tocha surdolímpica, que foi acesa na Suíça, passou por Paris e chegou a Farroupilha. A tocha deixou o Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio, em Farroupilha, dando início ao trajeto de cerca de 25 quilômetros entre a cidade e Caxias do Sul abrindo a programação do evento na Serra.
O percurso envolveu 27 pessoas entre atletas, ex-atletas e organizadores, todos surdos. Cada participante do revezamento percorreu 1 km com a tocha que foi levada até a cidade sede da 24ª edição das Surdolimpíadas de Verão. A chegada, na Catedral Diocesana de Caxias, em frente à Praça Dante Alighieri, ocorreu dentro do tempo previsto, 13h30min.
PAREM A GUERRA
No dia 1ª de maio, o ginásio do Sesi recebeu as delegações dos 77 países que vieram a Caxias do Sul para a 24ª edição das Surdolimpíadas. O espetáculo "Mãos que Falam" marcou a abertura oficial dos Jogos em um domingo. A primeira delegação a desfilar foi a França, país que sediou a primeira edição dos jogos em 1924.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando a delegação da Ucrânia entrou no ginásio. O público inteiro se levantou e aplaudiu os ucranianos. Os atletas entraram com uma bandeira com os dizeres "STOP WAR", traduzindo para o português: "Pare a Guerra". O país foi invadido pela Rússia. Muitos atletas foram acolhidos em outras nações para treinar. Devido à guerra, o Comitê Internacional de Esportes para Surdos excluiu a Rússia e Belarus dos Jogos.
MEDALHAS
Com 138 medalhas, Ucrânia terminou as Surdolimpíadas na liderança do quadro geral. Com a suspensão dos atletas da Rússia, os surdoatletas ucraniânos aproveitaram a oportunidade e foram soberamos. Em cada pódio, era possível ver e sentir a alegria dos surdoatletas. Um contraste com o momento delicado que o país vive após a invação da Rússia.
Quadro Final de medalhas:
1º) UCRÂNIA - 62 ouros, 38 pratas e 38 bronzes
2º) ESTADOS UNIDOS - 20 ouros, 11 pratas e 24 bronzes
3º) IRÃ - 14 ouros, 12 pratas e 14 bronzes
4º) JAPÃO - 12 ouros, 8 pratas e 10 bronzes
5º) COREIA DO SUL - 11 ouros, 18 pratas e 14 bronzes
INCLUSÃO
A partida entre Brasil e Turquia, pelo handebol feminino, no dia 4 de maio, contou com a torcida de 17 alunos da Escola Estadual Especial de Ensino Médio Helen Keller. Eles acompanharam atentamente cada movimento em quadra, no Ginásio da UCS. Os pequenos estavam juntos de seus professores e vivenciaram um momento único da 24ª Surdolimpíada. A diretora Natacha Soares Perazzolo, 48 anos, avaliou o evento como uma grande oportunidade de ampliar os conhecimentos.
— Esse momento é muito especial, pois a gente não sabe quando será a próxima vez. Estar participando de tudo isso é um momento ímpar. Eles estão tendo a oportunidade de ampliar o conhecimento, ter contato com outras culturas, as escolas estão fazendo projetos, como o cardápios de outros países. Eles estão muito atentos e motivados, movimentando as mãos. A gente vê que eles estão admirados. Eles querem cada vez mais participar — declarou na época.
A delegação brasileira teve a sua melhor participação da história na Surdolimpíada de Caxias do Sul. O Time Brasil contou com 199 atletas (110 homens e 89 mulheres). Os surdoatletas brasileiros disputaram em 17 modalidades no masculino e 14 no feminino.
No Rio Grande do Sul, o Time Brasil superou o número de medalhas conquistadas na edição anterior dos jogos, na Turquia. Em 2017, o país subiu cinco vezes ao pódio. No país do leste europeu, o Brasil chegou a sua primeira e única medalha de ouro, com nadador Guilherme Maia, que faturou duas medalhas de bronze em 2022.
MEDALHAS TIME BRASIL 2022
Bronze
Rômulo Crispim - Judo -66kg
Alexandre Fernandes - Judô -90kg
Guilherme Maia - Natação 100m livre
Guilherme Maia - Natação 200m livre
Handebol feminino
Futebol Feminino
ENTRADA GRATUÍTA
Durante 15 dias de jogos, os locais de provas tiveram entrada gratuita. Os torcedores puderam assistir todas as modalidades sem a necessidade de pagamento de ingressos. Ginásios e outros locais, como a sede Guarany do Recreio da Juventude, lotaram nas fases finais.
LOCAIS DE PROVAS
Para a realização dos jogos, diversas praças esportivas tradicionais da cidade foram escolhidas para receber os atletas nos 15 dias de disputa. A Universidade de Caxias do Sul (UCS) foi o local com mais modalidades. Foram oito competições, com caratê, handebol, vôlei de praia, Orientação, taekwondo, vôlei, luta livre e luta greco-romana. A nova pista do Sesi de atletismo foi inaugurada nos jogos.
REPRESENTANTES DA SERRA
Sete histórias, muitos sonhos, diversas provações no dia a dia e uma grande competição. Seis caxienses e um morador de Nova Petrópolis tiveram a chance de disputar as Surdolimpíadas.
A seleção brasileira de basquete feminino foi composta por cinco atletas de Caxias do Sul. Estiveram em quadra, sob o comando do técnico caxiense Jean Emer: Andressa Teles de Oliveira, Morgana Gentlin Camargo, Laura Backendorf Andreazza, Marina Carvalho de Castilhos e Ketlim Janaina de Moraes Rodrigues.
No tiro esportivo, Mariana Menegotto Cassina, 41 anos, disputou sua primeira Surdolimpíada. Já no lançamento de dardo e disco, o representante da região foi Jonas Moisés Petry, 36 anos, natural de Nova Petrópolis.
LEGADO NEGATIVO
100 dias depois dos jogos, representantes das empresas que prestaram serviços ao Comitê Internacional de Esportes para Surdos tiveram um encontro para cobrar valores não pagos. Credores dos mais diversos ramos e com quantias distintas a receber somam um prejuízo de R$ 12 milhões. Um ano depois muitas empresas ainda tem valores pendentes e buscam o ressarcimento, sem previsão de quitação dos débitos.