Uma das pioneiras e mais importantes figuras da história do futebol feminino no Brasil é da Serra Gaúcha. Enquanto jogadora, Márcia Tafarel, de Bento Gonçalves, disputou duas Copas do Mundo (China 1991 e Suécia 1995) e a Olimpíada de 1996. Agora, ela foi anunciada como a primeira treinadora da recém-criada seleção de futsal feminino dos Estados Unidos.
— Foi algo que eu não esperava, eu não sabia que teria essa posição disponível aqui. Meu amigo, que tem uma liga de futsal aqui na região, comentou sobre essa oportunidade e me falou para aplicar, mas eu não estava trabalhando com futsal de alto rendimento, apenas de base. Mas ele disse que, com a minha experiência, eu já me qualificava. Joguei futsal em alto nível na Associação Sabesp, além de ter sido treinadora da equipe juvenil. Então, eu apliquei e começou a seleção. Depois de três entrevistas, eu fui contratada — revelou Márcia, em entrevista ao Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
DESAFIOS DO NOVO PROJETO
O projeto do futsal feminino nos Estados Unidos é recente, recém-inaugurado pela US Soccer. Neste início de trabalho, o primeiro objetivo traçado por Márcia é montar o elenco através das seletivas que serão realizadas pela federação. Serão feitos de três a quatro camps durante o ano de 2023, sendo o primeiro entre os dias 23 e 26 de março.
— Vai ser um trabalho de formiguinha, porque o futsal é uma modalidade muito nova nos EUA. Mas, em termos de liga adulta, a gente não tem. Temos apenas o indoor, que é bem diferente do futsal. A gente tem a qualidade física e jogadoras habilidosas, mas que jogam futebol de campo. Então, o primeiro ano será de identificação de atletas que tenham essa qualidade técnica para o futsal. E aí sim, depois, tentar formar uma seleção para poder competir, sabendo que o desafio é muito grande porque estamos muito atrás de outros países que estão em atividade há muito mais tempo — comentou Tafarel.
PIONEIRISMO NO FUTEBOL FEMININO E DESENVOLVIMENTO DA MODALIDADE
Se em 2023, fazer futebol feminino no Brasil é difícil, na década de 90, quando Márcia começou, era muito mais. Em uma época onde a modalidade não era profissionalizada, além de ser vista com maus olhos, uma perspectiva de futuro era, praticamente, uma utopia. No entanto, a agora treinadora superou todas as adversidades e construiu uma carreira vitoriosa, sendo considera uma das lendas da seleção brasileira feminina.
— Na minha época, a desculpa era que "futebol era para menino". E hoje não, futebol é para quem quiser jogar. Eu comecei a jogar com os meninos, na rua, e os vizinhos olhavam torto. Mas eu sempre tive o incentivo da minha mãe. Ela sempre foi muito à frente do tempo dela. Ela tinha a visão de que o futebol era um esporte, não só para meninos. Ela via o brilho nos meus olhos quando eu estava jogando na rua. A minha dificuldade foi convencer a minha família de que era um esporte que poderia ser praticado por meninas, além de ter competições para poder me desenvolver. Eu consegui jogar futebol na minha época porque a minha mãe virou a faz-tudo do clube onde comecei a jogar. Ela foi a minha grande incentivadora — valorizou a treinadora, que finaliza falando sobre o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil:
— É muito interessante ver esse processo de desenvolvimento, com ligas profissionais. Na minha época, era muito difícil. A gente não tinha competições anuais. Quando eu fui para São Paulo, sempre joguei campo e salão, porque a gente não tinha futebol de campo organizado todo ano. Era uma coisa muito caótica. A gente não podia nem ser encarada como jogadora profissional. Agora, já existe um desenvolvimento maior, as competições já são mais organizadas, as meninas são profissionais, mesmo com todas as dificuldades dos clubes menores. O desenvolvimento é necessário para as meninas poderem visualizar um futuro e terem isso como uma carreira.