Longe do país de origem, com clientes para atender e com uma seleção que não empolgou na estreia. Nenhuma dessas situações desanimou senegaleses que moram e trabalham em Caxias do Sul para encontrarem uma forma de acompanhar o time que os representa na Copa do Mundo e vibrar com a vitória diante dos donos da casa nesta sexta-feira (25).
O final da semana já é tradicionalmente movimentado entre a Av. Júlio de Castilhos e a Rua Dr. Montaury, no Centro, mas ganhou nesta manhã mais um ingrediente que só a Copa do Mundo pode proporcionar. Ao lado da feira do Ponto de Safra na Praça Dante Alighieri e entre o comércio de rua, um grupo de 10 senegaleses acompanhava a partida entre Senegal x Catar, válida pela segunda rodada do Grupo A.
Um monitor pequeno, ligado na energia cedida por uma loja da esquina, e uma antena digital garantiram a transmissão da partida. O improviso, aliás, tem ocorrido desde as primeiras partidas e é por ali que centenas de pessoas que circulam pelo Centro param por alguns segundos para se atualizar sobre o resultado dos jogos. A todo momento, pedestres perguntavam a quem estava ali na frente do televisor quem jogava e quanto estava a partida. Foi o caso de um feirante que rapidamente passou por pelo local e ainda declarou apoio com um breve "vai, Senegal!"
Os mais atentos à classificação da Copa sabiam que se tratava de um jogo em que a vitória era fundamental para os africanos. Mas a derrota para os holandeses na estreia e a ausência de Sadio Mane, principal nome da equipe, não afastaram a esperança em passar de fase em uma chave que ainda tem o Equador na disputa.
Entre gols perdidos, comentários e lamentos na língua nativa, Papa Mbacke, 29 anos, foi o escolhido do grupo para dar sua opinião (em português) sobre a importância do jogo e em como o Senegal iria se virar na Copa sem sua estrela.
— Vimos no primeiro jogo que o Mané fez muita falta, mas temos um time que joga coletivamente. Claro que um jogador que foi eleito o segundo melhor do mundo nos ajudaria. Com esperava que pudéssemos ir até as semifinais e jogar contra o Brasil, agora torço para que Senegal alcance as quartas — disse Mbacke, que chegou em Caxias do Sul em 2014, ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo.
— Não é como ver em casa, no nosso país, mas a gente vai no ambiente do brasileiro: quando o Brasil joga é como se Senegal estivesse jogando — contou.
As atenções ao jogo desta sexta só ficavam de lado para atender a clientes que procuraram por camisetas do Brasil ou curiosos que perguntavam como ia a partida. Em outros pontos de comércio, como na Rua Marechal Floriano próximo ao Hospital Pompéia, senegaleses também acompanhavam a partida pelo celular e diziam quem era a esperança de gols: o camisa 9, Boulaye Dia, estampava a camiseta de um deles e coube ao jogador, aos 41 minutos do primeiro tempo, abrir o placar para alívio de quem torcia na rua. O placar ainda foi ampliado aos três minutos do segundo tempo com Famara Diédhiou. O atacante Bamba Dieng, jogador do Olympique de Marseille, fechou a conta, após Mohammed Muntari descontar para o Catar. Fim de jogo e um 3x1 que garantiu o Senegal vivo na Copa para a alegria da comunidade senegalesa na Serra.
Atualmente não há um número oficial de quantos imigrantes senegaleses moram em Caxias, mas, de acordo com o Centro de Atenção ao Migrante (CAM), a nacionalidade está entre as três mais atendidas pela entidade (junto com haitianos e venezuelanos).