O combustível da vida é o sonho. É assim que Larissa Rodrigues, 17 anos, atleta do Recreio da Juventude, constrói sua carreira na natação. Em sua curta trajetória no esporte, a jovem de Ipê já é tida como uma grande promessa brasileira na modalidade e acumula conquistas expressivas. As mais recentes foram duas medalhas de bronze, em sua participação inédita no Mundial de Natação Paralímpica, realizado na Ilha da Madeira-POR, na semana passada.
No retorno ao Brasil, Larissa participou do Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra, e comentou sobre a experiência:
— Foi muito emocionante. Nós estávamos treinando para ter bons resultados, mas foi muito melhor do que eu imaginava. Minha participação foi muito expressiva mesmo. Foi, literalmente, a realização de um dos sonhos da minha vida. Sonhei muito com isso, eu planejei e a gente agiu para que pudesse ser realizado, e deu certo.
Em Portugal, Larissa nadou em cinco provas. As duas medalhas de bronze da atleta da Serra vieram nos 150m medley e 200m livre, na categoria S3. Foram nessas disputas que ela conquistou sua vaga para o Mundial, quando participou do Mundial Júnior, em Berlim.
Para se tornar uma atleta de alto rendimento, Larissa teve o apoio do Recreio da Juventude e a mentoria da técnica Daniela Gonzalez. A parceria teve início em dezembro de 2021, e elas construíram uma forte relação que vai muito além do esporte.
—A Larissa respira natação, é uma atleta com aquele tempero, que treina super bem, que acredita no que a gente está falando, que assiste vídeos e que quer performar. Quando chega um atleta com esse perfil pronto, a gente fica com uma sede de performar cada vez mais. Todo profissional da área quer ser campeão mundial, e uma competição mundial não é assim pra chegar, né? E a gente conseguiu. A medalha é uma consequência, a gente sabe disso, e o atleta fica muito mais feliz quando nada bem a sua prova —avalia a treinadora, comentando sobre o desempenho de Larissa no Mundial:
— A Larissa saiu com duas alegrias: de nadar bem e a medalha. Então, essa alegria foi minha também. A gente chora, a gente grita, a gente comemora. Foi muito significativo, estou muito, muito feliz.
Em sua principal prova, os 200m livre, Larissa surpreendeu positivamente. Antes de Berlim, sua marca anterior era de 5min18seg. Para o Mundial em Portugal, a atleta e sua treinadora haviam projetado um tempo de 5min10seg. Contudo, ao fim da prova, Larissa não acreditou quando viu que havia finalizado com a marca de 4min58seg.
— Realmente, foi muito surpreendente, sabe? E eu tive uma conversa com a Dani antes de fazer essa prova. Foi uma prova que eu estava bem ansiosa para nadar, e muito esperançosa. Eu sabia que ia baixar tempo, só não sabia que seria tanto assim. Ela até falou o tempo que gostaria que eu nadasse, que estava projetando, e eu pensei: "Tá, vamos ver no que vai dar". A gente estabeleceu uma meta abaixo de cinco minutos o quanto antes, mas foi muito rápido, muito rápido mesmo. Mas tudo isso é porque a gente trabalhou. A gente se dedicou muito para aquilo — disse Larissa.
Exemplo além do esporte
Além das medalhas, Larissa traz, de Portugal, lições que, para ela, servirão de incentivo para dar sequência a sua promissora carreira na natação.
— A gente não tem como controlar o futuro, mas a lição é que eu tenho que entregar tudo de mim. Tudo que eu treinei, tudo que eu fiz, eu tenho que colocar em prática e, acima de tudo, acreditar no trabalho que foi feito em mim mesma. Fiquei 20 dias praticamente sozinha, não tinha treinador e não tinha familiar junto. Então, é um momento bem reflexivo. Chega uma parte que a gente fica mais vulnerável. Então acho que é muito importante para que a gente possa aprender conosco, e acho que esse foi o meu maior aprendizado — relatou.
Larissa nasceu com uma má formação congênita em seus braços e pernas. Após uma infância complicada, ela transformou o esporte em uma ferramente para ter maior qualidade de vida e almejar grandes objetivos.
— Eu fui adotada com três anos. A expectativa que tinham sobre a minha vida era que eu vivesse até os meus seis anos, porque não tinha cuidados específicos. Por conta da minha deficiência, a minha família não conseguia me cuidar muito bem. Provavelmente, eu não estaria viva hoje, e eu uso isso como um milagre. Foi um processo que eu precisava ter passado, mesmo criança, para que hoje, pudesse me tornar alguém assim que possa incentivar outras pessoas — revelou Larissa, que finaliza sobre a importância do esporte em sua vida:
— O esporte transforma vidas. Ele deixa a nossa vida com muito mais qualidade. Eu não me tornei só uma medalhista mundial, mas, também, consegui ver potenciais dentro de mim e me ajudou muito na minha saúde. Então, não é só em questão social, trazer medalhas e obter títulos. Ser uma esportista é poder incentivar as pessoas através do esporte, e é algo muito grandioso. Acho que as pessoas nunca devem desacreditarem de si.
Sonho paralímpico
Após seu excelente desempenho no Mundial de Natação Paralímpica em Portugal, Larissa não quer parar por aí. Junto com Daniela Gonzalez e Régis Mencia, treinadores do Recreio da Juventude, o jovem talento da Serra está projetando sua participação nas Paralimpíadas de Paris, que serão realizadas em 2024.
— A gente está alinhando, vendo novas coisas, novos voos. Acredito que precisa dessa valorização, sabe? Valorizar mesmo o esportista. E vejo que tem isso dentro do meu clube e vejo que eu posso chegar a Paris sendo atleta do Recreio da Juventude, sendo atleta da Dani, porque o Rio Grande do Sul tem como levar uma atleta a Paris. Acredito que é continuar me dedicando 100% para isso. Como diz a Dani, respirar a natação, respirar o esporte e treinar cada vez mais, não me desviar desse caminho, não deixar a minha mente crescer o meu ego e ser uma pessoa sempre humilde, para que eu possa alçar novos voos e ter grandes conquistas em Paris também — relatou Larissa.
Para Daniela, o trabalho agora passa a ser voltado em trabalhos físicos para melhorar os tempos já realizados:
— Sem dúvida, a gente já está de olho nos índices. O de Tóquio (que foi em 2020) já está na mão. No Mundial, ela já teve os índices que precisa, então a gente está aguardando a chamada dos 200m livre para Paris. Provavelmente abre essa prova e a Lari já tem o índice, e aí a gente vai trabalhar para os 100m e para os outros estilos, peito e costas. De dezembro até aqui, fizemos um trabalho técnico muito forte. E, a partir de agora, a gente foca na questão fisiológica. A gente trabalhou muito pouco com o cronômetro, mais com a palavra e adaptações técnicas. Agora a gente vem com um pouquinho mais de vigor e intensidade. Ela vai sofrer um pouquinho mais daqui pra frente para a gente chegar em Paris o quanto antes, porque logo saem os índices e a gente já vai correndo atrás deles — acrescentou Daniela.
Coordenador da natação no Recreio da Juventude, Régis Mencia valoriza a oportunidade de ter uma atleta que puxe a fila do alto rendimento e sirva como inspiração para outros jovens talentos que possam fazer parte de um grupo forte em um futuro próximo:
— Eu sempre falei que os voos tinham que ser grandes e que as pessoas tinham que realmente acreditar que o trabalho sério, com bastante expertise, com a estrutura que o clube tem, possibilita chegar no Mundial. E estão aqui a Larissa e a Daniela provando isso para todos nós, tornando realidade isso. O clube está muito feliz, está envaidecido. A chegada da Larissa e da Daniela faz a gente realmente acreditar que não só em Paris, mas que também em Los Angeles (2028), a gente tem a condição de estar lá performando.