Uma grande promessa do esporte brasileiro está surgindo na Serra Gaúcha. E ela vem do talento e determinação da jovem nadadora paralímpica Larissa Rodrigues, 17 anos. Natural de Ipê, a atleta é uma revelação na natação gaúcha e já coleciona diversas medalhas, pódios e recordes. Nesta quarta-feira (30), ela dá início ao maior desafio de sua vida: competir no Mundial de Natação Paralímpica, em Berlim, competição que é a porta de entrada para as Paralimpíadas de Paris, em 2024.
Larissa nasceu com uma má formação congênita em seus braços e pernas. Por isso, em busca de melhor locomoção e uma saúde equilibrada, ela iniciou na natação aos 12 anos, apenas como uma atividade recreativa. Contudo, com o passar do tempo, a jovem desenvolveu uma forte paixão pelo esporte e viu nele uma oportunidade de vida.
— Nunca imaginei ser uma atleta de ponta, de alto rendimento. Eu sempre gostei muito de água, de nadar, e aí nasceu um grande sonho e um grande amor por esse esporte. Além de liberdade, a natação me ensina a ter disciplina e muita perspectiva de vida. Foi através da natação que eu comecei a ter sonhos, objetivos e a colocar metas na minha vida — destaca Larissa, ressaltando a importância da modalidade em sua rotina:
— Não me ajuda só no esporte, mas também na minha vida pessoal. A natação me ajuda a ser uma pessoa organizada, a cumprir com as minhas responsabilidades e até compromissos. Veio para agregar muitas coisas, mas principalmente a trazer perspectiva de vida.
CINCO ANOS DE UMA TRAJETÓRIA VITORIOSA
Desde seu início no esporte paralímpico, Larissa já acumula diversas conquistas na modalidade. Em 2017, seu primeiro ano, faturou três medalhas de ouro e foi atleta destaque no Campeonato Estudantil Paradesportivo do Rio Grande do Sul (Paracergs). Hoje ela é a primeira colocada no ranking nacional, campeã regional, recordista cearense e recordista das Paralimpíadas Escolares, tendo conquistado o título em 2017, 2018, 2019 e 2021. Na competição de 2019, a jovem garantiu cinco ouros e uma prata.
— Minha última competição foi as Paralimpíadas Escolares, em São Paulo, em novembro do ano passado, onde encerrei o meu ciclo escolar. Tive resultados expressivos, conquistei quatro medalhas de ouro e bati meus últimos recordes — comentou.
PRIMEIRA CONVOCAÇÃO E EXPECTATIVA PARA O MUNDIAL EM BERLIM
O Mundial de Natação Paralímpica (Para Swimming World Series), em Berlim, será a primeira oportunidade para Larissa defender a Seleção Brasileira. Em sua trajetória no esporte, essa será a competição de maior expressão que vai disputar. Para o evento, a atleta de Ipê vem se preparando há três meses. Além de nadar em sua cidade natal, Larissa treina na piscina olímpica do Recreio da Juventude, na sede Guarany. As atividades são uma parceria entre o clube e a Prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer (SMEL), com apoio da Prefeitura de Ipê.
Em relação à expectativa quanto ao seu desempenho no Mundial, Larissa espera melhorar seus tempos.
— Estar na seleção é algo muito maior, muito grandioso para mim. No Mundial, pretendo baixar muito as minhas marcas, melhorar muito os meus tempos pessoais, ficar em uma boa colocação no ranking mundial e, sucessivamente, se rolar uma medalha, eu vou abraçar e ficar muito feliz. Mas o meu principal objetivo é melhorar minha marca — projetou a jovem.
PREPARAÇÃO PARA O MUNDIAL
Em sua preparação para Berlim, Larissa conta com a amizade, a mentoria e o acompanhamento de sua treinadora Daniela Hollweg Gonzalez, professora da SMEL e experiente na natação paralímpica. A relação delas iniciou em 2018. Neste período, a profissional auxiliou a atleta em algumas provas, e o Mundial foi a oportunidade de ambas trabalharem juntas pela primeira vez.
— Eu tenho 15 anos de borda de piscina. Desde 2018, veio esse desafio de trabalhar com a natação paralímpica, quando eu ingressei no setor de Paradesporto e Lazer da SMEL. Essa vai ser a primeira classificação internacional da Larissa a nível absoluto, no adulto. Então, esse é um desafio, claro, para nós, mas principalmente para ranquear a Larissa a nível mundial, como ela está hoje nas suas provas. Então, não tenho dúvida que ela vá bem em algumas provas. Teremos alguns bons resultados — comenta Daniela, que aponta ainda o diferencial da nadadora:
— A Larissa tem o tempero do atleta de alto rendimento. Esse tempero é o foco total, a dedicação. Ela respira natação paralímpica, ela assiste vídeos, anota os tempos, tem metas, conversa.
A treinadora ainda relata que a preparação requer certas preocupações e acompanhamentos profissionais por conta da deficiência de Larissa.
— A Larissa está em processo de formação, e a gente tem analisado, juntamente com o pediatra, médico, fisioterapeutas, toda a evolução articular dela. Mas acredito que agora, com 17 anos, a gente já pode implementar uma carga maior. Mas, como é paralímpico, a gente tem que ter sempre um cuidado. É sempre importante o acompanhamento de fisioterapeutas e médicos para ela.
Daniela comenta que, antes de tudo, deve-se realizar uma avaliação de nível funcional do paratleta. Isto determinará o nível em que o nadador se encaixará nas disputas por medalhas.
— O atleta paralímpico tem esse porém, tem as classes. As deficiências físicas, na natação, vão de 1 a 10. A Larissa hoje é S3. Então, a gente vai primeiro avaliar as lesões dela e a mobilidade articular para ver se ela entra nessa classe S3 ou, daqui a pouco, se no nado peito ela vai para B2.
Inicialmente, Larissa deve competir em três provas do nado livre — 50m, 100m e 200m —, além dos 150m medley e 50m borboleta.
O SONHO DE COMPETIR NAS PARALIMPÍADAS EM 2024
As ambições de Larissa não param no Mundial, em Berlim. O planejamento e a preparação destes cinco anos, agora com o acompanhamento da treinadora Daniela Gonzalez, pretendem levar a jovem de 17 anos para as Paralimpíadas, em Paris, no ano de 2024.
— É o meu foco principal. A gente vem trabalhando muito para que eu possa conquistar o índice e fazer parte da Seleção Brasileira que vai estar em Paris — projeta Larissa.
Para realizar o sonho, o Mundial servirá como a porta de entrada da atleta para a natação adulta a nível internacional. Nesse ciclo paralímpico, até o início dos Jogos, projeta um futuro vitorioso.
— É um trabalho que vem desde 2018, com a criação desse projeto de natação paralímpica e surdolímpica. Temos agora, na Prefeitura, o setor do Paradesporto e Lazer Inclusivo, onde atendemos mais de 80 crianças na natação. Então, a Larissa vai ser o espelho, o exemplo para toda essa galera que vem vindo das outras escolas, das parcerias que a gente faz com as redes privadas, para fomentar cada vez mais a natação paralímpica — prospecta Daniela .
Por fim, Larissa revela que, no começo, passou por períodos turbulentos e de dúvidas. Porém, como uma história de superação, a atleta deu a volta por cima e valoriza o apoio de todas as pessoas envolvidas em sua trajetória na natação.
— Tive várias dificuldades para estar aqui hoje, mas eu acho que isso foi um processo que valeu. Sem apoio, sem ajuda, um atleta não consegue caminhar sozinho. Ele tem toda uma equipe por trás que ajuda e incentiva demais. A minha equipe vem me ajudando, a minha treinadora, o Recreio da Juventude, a Prefeitura de Caxias do Sul e a de Ipê também, a minha família, que é, com certeza, minha principal base, e Deus, que eu costumo colocar à frente de todos os meus objetivos. Ter esse incentivo é o que me impulsiona para me tornar uma grande atleta — finalizou.