O basquete brasileiro terá 24 atletas na 24ª edição das Surdolimpíadas. Os Jogos irão ocorrer de 1º e 15 de maio em Caxias do Sul. Fora das quadras, um caxiense irá comandar a seleção masculina. Flávio Manara iniciou os trabalhos junto à Confederação Brasileira de Desportos para Surdos (CBDS) em 2020. Atual coordenador do Departamento de Basquete da CBDS, ele também será auxiliar técnico da seleção feminina. O comandante fala sobre o orgulho de participar da primeira Deaflympics.
— É a realização de um sonho. Trabalho com basquete desde que entrei na faculdade. Ao longo dos anos a gente vem batalhando para poder chegar e exercer uma função dessas, ainda mais em uma Surdolimpíadas — expressou Manara.
A estreia do Brasil no masculino será na terça-feira, 3 de maio, às 12h30min, no Ginásio do Vascão. Já a estreia feminina, será no dia seguinte, às 15h, diante da Polônia também no Vascão. Conforme o treinador, o Brasil não tem um histórico de participação em eventos internacionais. A grande potência nas duas modalidades é a seleção dos Estados Unidos. A Lituânia é outra muito forte, assim como a Ucrânia e a Grécia. Entre os Sul-americanos, a Argentina se destaca como a terceira melhor do mundo no masculino.
Para chegar ao grande momento de participar do principal evento desportivo surdo do mundo, as dificuldades foram imensas. Para treinar, por exemplo, a distância é o grande adversário. Hoje, os atletas têm que pagar as despesas dos deslocamentos para treinar.
— Em 2020, consegui fazer uns treinos aqui com a seleção feminina, mas não vieram todas as atletas. Em 2021, muito pouco também, foram mais treinos online. O fato de ter muitos atletas do Rio Grande do Sul facilitou os encontros em Porto Alegre e Caxias. Agora, em 2022 treinamos cinco dias em fevereiro e em março. Em abril, procuramos priorizar a questão física nas suas cidades, treinando por conta. Alguns atletas estão no interior de Pernambuco, e para vir treinar gira em dois ou três mil reais. Os pais me ligam questionando os valores, mas não tem um apoio ou verba específica para treinar — explicou Manara.
Os atletas do basquete começam a chegar na sexta-feira (29) a Caxias do Sul. Nesta quarta-feira (26), um atleta de Ilha Solteira-SP, divisa com Mato Grosso, embarcou de ônibus. Serão quase três dias de viagens para fazer parte deste sonho.
No total, a seleção de basquete é composta por 15 gaúchos. É a maior concentração de atletas do estado em uma única modalidade. Entre os destaques da seleção masculina está Levi Brittes. Natural de Santa Maria, o jogador se mudou para a Serra Gaúcha em 2014. Ele joga nas categorias de base do Caxias do Sul Basquete.
— O Levi jogou desde os 10 anos aqui. Joguei contra ele nos campeonatos citadinos. Sabia que ele tinha uma deficiência auditiva, mas não sabia se podia jogar. Conversei com técnico dele e com a família se poderia compor a seleção. Hoje, ele é um dos pilares que tem na seleção, pivô, 1,95 de altura — pontuou o treinador Flávio Manara.
COMUNICAÇÃO
Não há diferença nas regras do basquete surdo. A única alteração é visual, pois arbitragem utiliza bandeiras para sinalizar as faltas e orientar os surdoatletas. Sobre a atuação dos atletas, Flávio Manara destaca para uma dificuldade enfrentada pelos jogadores com perda auditiva, a noção espacial.
— Alguns que não tiveram uma base tem a questão da noção espacial. Então, o basquete precisa bastante de visão periférica, prestar atenção na frente e atrás. Às vezes, eles se perdem nesse ponto —comentou o treinador da seleção masculina.
Para Manara a comunicação foi uma barreira. O treinador fez o curso de Libras, mas o fato de não ter um contato constante com os atletas prejudica o entendimento. Os treinos são muito espaçados. Hoje, ele depende do auxílio de duas intérpretes.
— Temos na seleção masculina alguns atletas que tem um nível de perda auditiva menor que o surdo. Alguns entendem o que você está falando, mas com restante dependo da interprete. Até fiz curso, mas se tu não colocas em prática tu esquece, pois não está no teu dia a dia. Se eu não tivesse a interprete não conseguiria — explicou Flávio Manara.
ATLETAS GAÚCHOS NO BASQUETE
William Dias Silveira - Porto Alegre
Marcelo Sander - Porto Alegre
Leonardo Correa Tonieto - Uruguaiana
Levi Ribeiro da Silva Brittes - Santa Maria
Denis Eduardo Panke da Silva - Santa Cruz do Sul
Denise Kras Medeiros - Porto Alegre
Andressa Teles de Oliveira - Caxias do Sul
Morgana Gentlin Camargo - Caxias do Sul
Laura Backendorf Andreazza - Caxias do Sul
Carolina Comerlato Sperb - Novo Hamburgo
Marina Carvalho de Castilhos - Caxias do Sul
Thavany Nascimento de Morais - Porto Alegre
Carla Lobell - Santa Maria
Maria Eduarda da Silva Rios - Porto Alegre
Ketlim Janaina de Moraes Rodrigues - Caxias do Sul
GRUPOS
BASQUETE - MASCULINO
GRUPO A: Quênia, Israel, Estados Unidos, Argentina e Polônia
GRUPO B: Brasil, Lituânia, Grécia, Venezuela, Taiwan e Ucrânia
BASQUETE - FEMININO
GRUPO A: Brasil, Grécia, Itália e Polônia
GRUPO B: Estados Unidos, Turquia, Lituânia, Quênia e Ucrânia