A melhor participação do Brasil em uma Surdolimpíada foi em 2017, na Turquia. Na última edição dos Jogos, o país dobrou o seu quadro de medalhas, conquistando cinco pódios. Além do ouro de Guilherme Maia na natação, a delegação brasileira obteve a sua primeira medalha em um esporte coletivo, com o futebol feminino.
A seleção conquistou a medalha de bronze, ao vencer a Grã-Bretanha pelo placar de 2 a 1. Em 2022, as meninas do Brasil querem o lugar mais alto do pódio. Para isso, terão como adversárias na chave única: Quênia, Japão, Polônia e Estados Unidos. A equipe é treinada pelo caxiense Jeferson Borges. O profissional projeta como objetivo inicial somar o maior número de pontos na arrancada dos confrontos.
— São quatro jogos e se classificam os dois primeiros para a decisão. Vai ser preciso ter uma cautela em cada jogo para procurar não perder pontos. As meninas sabem dessa dificuldade, não dá para facilitar. Por ser jogo em cima de jogo, folga um dia e joga, vai ter o desgaste físico. Então, é preciso ter uma concentração muito grande. Primeiro é somar o maior número de pontos nos três primeiros jogos para ver como vamos para a última rodada — declarou o treinador.
Borges assumiu a equipe feminina de futebol em outubro do ano passado. Desde 2007, ele trabalha com categorias de base e coordenação técnica. O principal desafio neste começo foi a comunicação. Ele procurou o mais rápido possível se adaptar ao novo momento.
— Como eu não tenho muito conhecimento em Libras, uma intérprete esteve comigo nos treinos e fiz algumas estratégias. Usei o quadro tático, com três estratégias importantes para elas desenvolverem durante o jogo. O futebol de surdos em si acaba sendo um nível médio, fomos o mais simples. E elas compreenderam muito bem, e a todo momento acabam tendo alguns sinais, elas me observam para ter um posicionamento em campo — explicou o treinador.
Uma estratégia adotada para facilitar a comunicação foi combinar com as atletas sinais próprios para agilizar o entendimento sobre as mudanças e ajustes no posicionamento das jogadoras durante as partidas.
— No primeiro treino, as meninas falaram para a intérprete que entendiam de outra maneira. Relatei que aquilo seriam sinais meus, próprios, mas não de conhecimento delas. Padronizamos esses sinais para facilitar o entendimento — contou.
BAIXAS
Antes de a bola rolar nas Surdolimpíadas, Jeferson Borges teve baixas no elenco. Segundo o treinador, três surdoatletas não poderão estar nos Jogos de Caxias do Sul. O motivo é que as empresas nas quais elas trabalham não liberaram as jogadoras.
— São atletas que participaram do último Mundial de Futsal e das Surdolimpíadas. A gente não tem muita opção. Tenho três meninas novas e outras vêm de um período muito grande, pois não há renovação. Tive que mudar minha estratégia e planejamento. Elas fazem tudo com as próprias forças — revelou o técnico.
A seleção conseguiu fazer três seletivas para completar a lista de 22 convocadas. Logo após assumir o comando técnico, Borges fez uma análise do perfil de cada atleta. Algumas, o treinador mudou de posição levando em conta as características do grupo.
DESTAQUE GAÚCHA
Para os torcedores que forem aos estádios de Caxias do Sul acompanhar os jogos, Jeferson Borges chama a atenção para uma jogadora em especial: Stefany Krebs, 23 anos, meia-atacante. Gaúcha de Erechim, ela já vestiu a camisa do Palmeiras no futebol feminino. O treinador afirma que todo modelo de jogo da Seleção foi montado para favorecer a qualidade da estrela do time.
— Nós temos uma atleta que foi eleita a melhor jogadora do mundo na última Surdolimpíada, a Stefany Krebs. Ela tem uma qualidade técnica e entendimento de jogo muito grande. Montei um 4-3-3 com meio campo bem forte, dando liberdade para ela jogar. Ela gosta de vestir a camisa da Seleção e dei essa responsabilidade à equipe de jogar em prol dela — frisou Jeferson Borges.
A Seleção Feminina fará a sua estreia na Surdolimpíadas no dia 3 de maio, às 14h, contra os Estados Unidos. O estádio ainda não foi definido pelo comitê. Depois do bronze na Turquia, o foco é o de colocar as mãos na medalha de ouro.
— Eu sou muito competitivo. Quando aceitei o contive, disse que vamos em busca do ouro, mas sem entender o que era o esporte para surdos. Acaba tendo uma pressão pela conquistada passada. Estreamos contra os Estados Unidos, uma seleção favorita. É bom já iniciar assim para conhecer melhor — ponderou Jeferson Borges.