A bola rolou pela primeira vez na Surdolimpíadas na manhã deste sábado (30) e nesse primeiro momento oportunizou o encontro da comunidade com os atletas camaroneses e brasileiros que fizeram a primeira disputa do futebol, na Fundação Marcopolo.
Para os ouvintes, algumas peculiaridades da modalidade, como a bandeirinha carregada também pelo árbitro em campo e a intérprete ao lado do técnico brasileiro eram as poucas diferenças que entregavam que o jogo era disputado por surdos. Para a comunidade surda, a alegria em ver em campo exemplos de pares que não foram impedidos pela surdez de vestirem a inconfundível amarelinha.
Da arquibancada, mesmo que inaudíveis aos jogadores, os gritos da torcida incentivavam a equipe brasileira que foi ao vestiário, após o fim do primeiro tempo, com a derrota parcial de 3x0. No retorno, a reação iniciou aos 15 minutos com o gol do camisa 9, Alan. O artilheiro ainda marcou o segundo perto do fim, mas não foi o suficiente para buscar o empate.
Mesmo com a derrota, o técnico Paulo André Cazarotto avaliou de forma positiva a estreia na competição e agradeceu o apoio da torcida:
— Muito legal a presença do torcedor, vamos pra mais um agora segunda-feira, contra a Itália.
Entre os torcedores estava Francisca Vieira de Oliveira, 50 anos. Mãe de Geisa Vieira de Oliveira, 19, surdoatleta que disputa pela segunda vez a Surdolimpíadas, Francisca brinca que não é Francisca, mas sim a mãe de Geisa.
—Ela é um exemplo, que ama o Badminton, mas incentiva a todos a praticarem esportes. Se destacou na modalidade disputando contra ouvintes e em 2015 entrou na seleção surda. Foi para a Turquia (última sede dos jogos) em 2017 e hoje está na 5ª colocação no ranking mundial jovem— contou.
Francisca chegou à Caxias sem a filha, que desembarca no domingo (1) após finalizar uma competição em Joinville. Por enquanto, acompanha dois surdoatletas brasileiros e não poderia deixar de conferir o desempenho do futebol na estreia:
—Torço muito, para todas as modalidades com atletas brasileiros. Eles merecem.
O jogo deste sábado também foi conferido pela presidente da Confederação Brasileira de Desportos para Surdos, Diana Kyosen. Membro do Conselho Nacional do Esporte e ex-atleta do Futsal, Diana acabara de chegar em Caxias do Sul quando foi correndo assistir a estreia do futebol.
— Desde a última Surdolimpíadas nosso time melhorou muito, não tem nem como comparar, o Paulo (técnico da seleção) tem uma equipe maravilhosa. É claro que tem o nervosismo da estreia, mas temos mais jogos pela frente e é muito bom ver a evolução— contou Diana através da intérprete de Libras Larissa Matos.
A partir das 18h deste domingo a 24ª Surdolimpíadas estará aberta de forma oficial, quando a Tocha Surdolímpica chegar ao Ginásio do Sesi para a Cerimônia de Abertura. Momento que é esperado com ansiedade por Diana, que não podia conter a alegria em ver o evento no ar outra vez.
— É uma emoção muito forte, não esperava a participação de 77 países no pós-pandemia. O dia da abertura é muito especial e representativo— definiu.
A seleção brasileira de futebol surdo volta a campo na segunda-feira (2) contra a Itália. O jogo ocorre a partir das 14h no Campo do Gianella, na Linha 30, em Caxias do Sul. Todos os jogos, de todas as modalidades têm entrada gratuita. A programação completa pode ser conferida no site oficial.