Walter Dal Zotto Jr. inicia seu novo mandato como presidente do Juventude no dia 1º de janeiro, e tem projetos ambiciosos para o biênio 2022/2023. Depois de três acessos seguidos sob sua administração, afinal a permanência na elite também é encarada dessa forma no Jaconi, o dirigente vê perspectivas bem melhores para o clube na próxima temporada. Mesmo que o orçamento do futebol não vá ganhar um incremento muito forte, existe um planejamento estrutural para sair do papel e elevar o patamar do clube como um todo.
Em entrevista ao Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra, durante a última semana, o dirigente falou sobre a situação financeira do clube, as reformas no Jaconi e o objetivo de reestruturar o Centro de Formação de Atletas e Cidadãos, como é chamado o Centro de Treinamentos. Além disso, colocou como uma meta atingir 10 mil associados até o início no Brasileirão.
— Não sei se nosso orçamento é o menor da Primeira Divisão, mas tenho convicção que o investimento no futebol é o menor. Por isso, fizemos as coisas no limite para disputar uma divisão desse tamanho. O torcedor tem que se conscientizar e nos ajudar se associando. O final de temporada teve um incremento grande no quadro social, mas é fundamental começar o Brasileiro com 10 mil sócios. Não é só o esforço da direção com orçamento pequeno, na casa de R$ 60 milhões, mas a participação dos sócios é pequena dentro disso. Temos que valorizar o apoio do nosso torcedor, mas que eles saibam da importância para manter o clube na Primeira Divisão — afirmou o presidente.
Segundo Waltinho, o time alviverde precisaria de mais três temporadas na elite nacional para se aproximar de pagar todas as suas dívidas. Por isso, a importância da permanência na elite em 2022, e de preferência numa forma mais tranquila. A expectativa é altamente positiva para o segundo ano, com a meta de avançar na Copa do Brasil, chegar à semifinal do Gauchão e reconsolidar o clube entre os 20 melhores ranqueados no país.
Confira alguns trechos da entrevista:
AVALIAÇÃO
— O planejamento é sempre para que as coisas caminhem de forma positiva. Claro, dependemos de sorte, porque a bola pode bater no poste e sair ou entrar. O Juventude teve confirmado os acessos sempre nos últimos jogos, onde a pressão é maior. Me lembro quando assumimos a gestão em uma Série C, com muita dificuldade, um fluxo de caixa negativo bastante grande. Já na Série B tivemos um incremento maior de valores, principalmente por fazer duas grandes campanhas na Copa do Brasil e ter a receita extra para fazer um investimento maior no futebol e conseguir esses acessos. Este ano para nós também foi um acesso, porque é um campeonato muito difícil, muito equilibrado.
Lembro de termos na mudança de técnico, no final da partida contra o Bahia, onde estávamos a cinco ou seis pontos atrás do primeiro time fora da zona de rebaixamento, dado como definida a questão do descenso. O Juventude subiu a régua e teve três vitórias consecutivas. Quando as outras equipes acharam que estavam livres do Z-4, tiveram que se preocupar até o final da competição. O fundamental para essa permanência foi o retorno do nosso torcedor, que se fez presente no Jaconi.
ORÇAMENTO DO CLUBE
— As realidades são muito diferentes. A Série B já é bem diferente da C, por ter jogos transmitidos e uma receita de TV. Na elite é um universo completamente diferente, os acréscimos são exponenciais se formos analisar. As questões que envolvem a primeira divisão, e até as mordomias que são oferecidas aos clubes, em termos de viagens, logísticas e acomodações. Eu já tinha sido presidente do clube em Série A, mas era uma época totalmente diferente. Sabíamos que seria necessário melhorias nos estádio, resolver questões antigas e que nos atrapalhavam na condução do clube, como penhoras e bloqueios.
Tivemos que nos dedicar muito sobre essas questões financeiras com o acesso, afinal ele também propicia que tu recebas muita cobrança e, às vezes, nem estava sabendo que a demanda existia. Aí o investimento para contratação de atletas foi menor. A gente precisa lembrar que é muito difícil como dirigente avaliar qual é o valor que precisaríamos aportar para manter o clube na Primeira Divisão, só que fomos felizes nessa equação de separar uma parte para questões antigas, uma parte para reformas no estádio.
SAÍDA DO PROFUT
— Fizemos no último mês um novo parcelamento fiscal. O Juventude saiu do Profut e encontrou um novo sistema para que pudéssemos encontrar alternativas e melhorasse a questão dos juros, porque o Profut tinha uma correção de 1% ao mês, mais a taxa Selic. A transação tributária que nós realizamos agora tem apenas a correção da Selic, então é algo significativo.
A dívida passada chegava próximo dos R$ 30 milhões, e hoje está em torno de R$ 16 milhões. Tivemos um ganho expressivo. As outras ações cíveis e trabalhistas, principalmente as imobiliárias foram quase pagas na totalidade. Temos ainda resíduos que estamos pagando e meia dúzia de processos que vamos tentar equacionar na próxima temporada. O Juventude tendo o sucesso e conseguindo ficar mais três temporadas, a gente poderá sonhar uma quitação total da dívida do clube. Pelos valores e orçamentos nessa temporada, pensando que nas demais terão incrementos nos valores da TV será fundamental para o clube. Primeiro tem que ter os pés no chão para não criar passivos novos. Importante que a gente dê o passo do tamanho da perna, não faça loucuras. Nós estamos com uma equipe na direção bastante competente e unida, tem que parabenizar a todos porque foi um ano muito difícil para todas as áreas.
OBRAS NO CT
— Estamos trabalhando no orçamento para sabermos o que precisamos de investimentos. No Jaconi, vamos concluir a instalação do elevador, concluir o nosso vestiário. Na parte superior tem que concluir o refeitório e colocar novos equipamentos para academia. Mas o foco principal será o CT. Temos o sonho de que nossos jogadores se apresentem diretamente no CT e para isso teremos que ter uma estrutura de vestiário, lavanderia, fisioterapia, departamento médico, sala para comissão técnica, administrativo e todo o entorno que envolve o departamento de futebol. Estamos canalizando uma verba para ao longo do Brasileiro tenha esse projeto concretizado. Tem o projeto de reforma dos dois campos da base e tem a criação de mais um campo, que já está terraplanado. Seriam melhorias para fazer e levar a base lá para cima.
TREINADORES DA GESTÃO
— O Marquinhos Santos começou a Série C (em 2019) e terminou com o acesso, mesmo com muita pressão para que a gente o trocasse e nós mantivemos. Depois, no Estadual contratamos o Pintado. Ele terminou o Estadual e comandou o time na Série B, onde nossa intenção era mantê-lo, só que ele foi sensível a um pedido do empresário para treinar a Ferroviária-SP no Paulistão e assim o fez. Buscamos o Marquinhos de novo e conseguimos o título de campeão do Interior, só que durante o Campeonato Brasileiro foi criada uma situação, que nem entro no mérito sobre o que aconteceu, mas fizemos uma mudança e fomos felizes. Chegamos ao nome do Jair Ventura, que tem experiência em Série A e trabalha com jovem. Nós temos o contrato com ele até o final da próxima temporada e esperamos que continue. A gente acompanha o dia a dia, eu e o Pioner temos uma sintonia muito boa sobre isso de não trocar por trocar. A gente sabe que o torcedor é passional, quer os resultados, mas tem que acompanhar o trabalho e isso é fundamental no nosso entendimento. É uma convicção que vem dando certo.
BUSCA POR JOGADORES
— O Juventude vem tendo uma felicidade por terem jogadores vindo jogar aqui por um salário menor do que poderiam ter em outros clubes. Eles sabem que aqui tudo que é acordado a gente cumpre. No futebol é difícil, porque alguns clubes fazem propostas que daqui a pouco não conseguem pagar, mas aqui fizemos tudo com os pés no chão e temos um limite de valores para cada atleta. Estamos trabalhando firme nisso. O dificultador maior é que todos os anos se tinha que fazer um time diferente , porque séries C, B e A são perfis totalmente diferentes de atletas. Quando tivemos o acesso à Segunda Divisão mantivemos poucos jogadores. Quando subimos de novo, a mesma coisa. Esse ano é que conseguiremos manter uma espinha dorsal da equipe e trazer peças pontuais. O Marcelo Barbarotti implementou um departamento de análise de mercado, onde temos vários nomes por posição, tanto para Série B, quanto para Série A.
SUCESSÃO
— É um desafio na próxima temporada é trabalhar na questão de sucessão, para que se crie novos dirigentes que possam assumir o futebol do Juventude. São questões para dar continuidade ao trabalho que vem sendo feito para próximas temporadas. Criou-se esse ano um conselho de administração, que ficará responsável por seguir orçamento, planejamento. Outra questão principal é continuidade e se tenha sequencia de ideias para o clube evoluir. E se tiver juventudista, a gente sabe que querem colaborar, estamos abertos para ir conhecendo como funciona o dia a dia do clube. É importante que seja sócio e para concorrer precisa estar uns anos no Conselho. Precisamos ter uma renovação na executiva, a dificuldade de criar dirigente é grande, talvez pela cobrança do torcedor, um dirigente não ganha nada, trabalha quase exclusivamente no clube.
Quando as coisas são positivas são mil maravilhas, quando não acontecem as dificuldades chegam. Se tivéssemos perdidos para o Corinthians, jogando uma série B iriam questionar se o trabalho não estava errado. eu não posso concordar com isso, analisar em cima de um resultado. A gente pede cautela ao torcedor nas críticas, porque precisa ter consciência das dificuldades do dia a dia. O Ju não tem capacidade para contratar um jogador de salário alto, e no futebol quando acertar 70% das contratações tem que agradecer muito.