Em meio à disputa da fase semifinal do Campeonato Gaúcho contra o Grêmio, o Caxias também planeja a Série D do Brasileirão. Faltam 30 dias para começar a competição nacional, principal objetivo do clube na atual temporada. Algumas perguntas ainda estão sem respostas, mas internamente há algo encaminhado.
Quem fica e quem sai? O que o Caxias precisa melhorar? Em busca de análises, o Pioneiro ouviu quatro comentaristas sobre o assunto.
Com a definição da saída do técnico Rafael Lacerda e com um orçamento menor, mudanças no elenco irão acontecer para a disputa pelo acesso à Terceira Divisão.
— O Caxias vai ter um investimento menor do que tinha no ano anterior. As outras equipes também terão investimento menor pela circunstância da pandemia e o momento da economia do pais. Com certeza, atletas que ganhavam um valor ano passado, esse ano nós vamos conseguir trazer por um valor menor. É o mercado. Vamos fazer o esforço necessário para montar uma equipe competitiva — disse Ademir Bertoglio, gerente de futebol do Caxias.
Com novos reforços para chegar e com um novo comandante, a direção trabalha nos bastidores com o técnico Rafael Jaques para montar a equipe. O Pioneiro ouviu a opinião de Rafael Baungarten, comentarista da Rádio Caxias, Rafael Colling, comentarista e apresentador da Rádio Gaúcha, Leonardo Oliveira, colunista de GZH e comentarista da Rádio Gaúcha, e Maurício Reolon, chefe de reportagem e comentarista esportivo da RBS na Serra.
:::: Pelo que você observou do Caxias no Gauchão, o que precisa melhorar para a Série D?
Rafael Colling - O Caxias tem que voltar a ser mais propositivo. Neste Gauchão, percebi uma postura diferente do time em relação aos últimos anos. Foi exageradamente defensivo em alguns jogos. O segundo tempo contra o Grêmio, apesar da derrota, mostrou que o time é capaz de propor mais. No Beira-Rio, na primeira fase, contra o Inter, praticamente jogou por uma bola. E o time tem que voltar a ter um jogador diferenciado na bola parada, como era com o lateral Ivan.
Rafael Baungarten - Precisa melhor a mecânica de jogo. O time precisa trabalhar mais a bola e evoluir nos três setores. O Caxias precisa ser um time mais definidor no ataque. Ttem competitividade e entrega, mas falta ficar mais com a bola e evoluir com toque de bola. A mecânica ofensiva precisa melhorar.
Leonardo Oliveira - A equipe precisa de mais um zagueiro. O Guilherme Mattis, embora toda a trajetória dele, me parece um defensor com poucos recursos técnicos, com a ideia de sair jogando num jogo mais limpo. E precisa de mais alternativas do meio para a frente. Na Série D, vai encontrar adversários mais fechados e precisa mais alternativas. Eu gosto muito do Giovane Gomez. O Tontini pode ganhar mais espaço.
Maurício Reolon - Mais do que peças, o importante será evoluir como conjunto. Por exemplo, o Caxias tem atacantes melhores do que em 2020, mas não consegue ter força ofensiva. Perdeu a bola parada do Ivan e não encontra uma nova arma tão poderosa. O time ainda carece de intensidade e de uma variação maior de jogadas para não ficar dependente dos flancos e dos levantamentos para a área.
:::: Em qual setor a equipe precisa ser reforçada para a Série D?
Rafael Colling - Três reforços para titularidade acho que já dariam uma cara diferente ao Caxias, na Série D. Um meia habilidoso e pensador para ditar o ritmo do jogo e ajudar o time a valorizar mais a posse de bola (um Diogo Oliveira com mais dinamismo), um atacante de velocidade e um zagueiro “Xerifão” para também reforçar o sistema defensivo.
Rafael Baungarten - Eu acredito que terá uma reformulação grande. Poucos ficarão. Se o mercado estiver normal, Gustavo Ramos, John Lennon, Guilherme Mattis, Jhon Cley, todos eles têm mercado. O Caxias precisa contratar para as duas laterais, um meia e dois extremas.
Leonardo Oliveira - Mais o setor ofensivo. Jogadores que entreguem um pouco mais, do que simplesmente um jogo mais vertical. Ter jogadores que abram as linhas e que possam fazer a diferença. Os times na Série D são equivalentes, então precisa dois ou três jogadores com qualidade técnica para fazer a diferença nos jogos em casa. Se o Jaques mantiver a ideia de jogo fora, o Caxias será agressivo e que marca forte. Nos jogos em casa, o Caxias precisa de jogadores que desequilibrem.
Maurício Reolon - Devem chegar reforços para todos setores, mas o mais fundamental é o meio-campo, onde só vejo Juliano como titular. Falta um criador, alguém que pense o jogo e dite o ritmo da equipe. E, obviamente, em caso da saída de jogadores, como Pitol e Gustavo Ramos, a reposição precisa ser de nível semelhante ou melhor.
:::: O Caxias do Rafael Jaques apresentará diferenças no estilo de jogo do Caxias de Rafael Lacerda?
Rafael Colling - Como o próprio Lacerda disse, o ciclo dele no clube terminou. Mesmo que o treinador e a direção neguem, isso mexe sim no pensamento dos jogadores no vestiário. Em um primeiro momento, Jaques terá que fazer com que os atletas virem a chave rapidamente para a Série D e a nova proposta de trabalho. Dentro de campo, devem ser mantidos a intensidade e o espírito aguerrido que o time sempre teve. Mas, do meio para frente, Jaques terá que fazer com que a equipe tenha uma circulação mais rápida da bola e crie mais alternativas nas jogadas ofensivas.
Rafael Baungarten - A maneira que o Caxias joga há muito tempo eles estão repetindo. Eles estão entrosados neste ponto no 4-2-3-1. Não sei se haverá mudança. Propondo o jogo, 4-2-3-1 com três homens na frente. Sem a bola 4-4-2 com o meia adiantando com centroavante para dar o bote no volante e no zagueiro. Taticamente, acredito que não vai mudar muito. O Jaques joga no 4-2-3-1.
Leonardo Oliveira - O time do Jaques tem uma ideia um pouco diferente do Lacerda. O Lacerda gosta mais imposição, da transição, do time que saia rápido. O Jaques, principalmente pelo que vimos no São José-PoA, é um cara que gosta mais do jogo. Ele é um cara que tem influência do Mourinho, porque trabalharam juntos quando o Jaques era jogador em Portugal no União Leiria. O Jaques gosta de um jogo jogado. O Caxias tem uma sequência de continuidade e isso faz diferença num mercado da Série D.
Maurício Reolon - Não vejo que seja uma mudança tática, no 4-2-3-1 ou 4-4-2. O principal é ter uma postura mais agressiva, mais intensidade na marcação e na transição. Hoje, o Caxias fica muito previsível nas suas ações, especialmente quando enfrenta adversários mais fechados e que exploram o contra-ataque. O Jaques pode trazer essa mudança de perfil, claro com a chegada de alguns reforços com características diferentes.