Para um clube que constrói uma história de 100 anos, tão importante quanto os títulos conquistados são os torcedores que abraçam o time durante sua trajetória. Assim é o Esportivo. Vários daqueles que acompanharam a instituição desde 1919, estiveram ao lado da entidade nas horas de alegria, mas também se mantiveram firmes em situações em que as lágrimas do sofrimento foram inevitáveis.
Para um clube centenário, quase tão importante quanto valorizar os torcedores do passado é cativar as novas gerações que vão fazer essa paixão seguir pelos próximos 100 anos.
O caminhante
Qual distância você é capaz de percorrer para ver seu time do coração? Cristian Cassinelli, 23 anos, andou cerca de 12 km da sua casa até o Estádio da Montanha dos Vinhedos para acompanhar o Esportivo.
— O primeiro jogo foi em 2004. A partir daí, incomodava o pai e a mãe para virem na Montanha. Mas pela distância do estádio até minha casa era complicado. Com uns 12 anos, vim a pé. E ali começou a despertar o amor pelo clube — conta Cristian.
A condição mudou e hoje a presença de Cassinelli nos jogos é uma obrigação. Segundo sua estimativa, nos últimos cinco anos não perdeu mais do que três jogos do Esportivo em casa. Quando ele decidiu torcer para o time, sabia que, em vários momentos, teria que enfrentar o estranhamento de muita gente com sua decisão.
— O pessoal diz: “mas tu é louco?”. Nos momentos ruins falam: “mas esse time que não ganha uma?”. Mas o sentimento é sempre de levantar a cabeça e começar de novo — explica o torcedor, falando que a ligação com o alviazul vai além do futebol:
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— O bom de torcer para o Esportivo é que tu divulgas não só o clube, mas tua cidade. Isso me cativa bastante, por amar onde eu vivo. O Esportivo é 100% a história de Bento Gonçalves.
O fundador da Fúria
Quando o Esportivo estava no processo de troca do Estádio da Montanha para o Parque da Montanha dos Vinhedos, em 2003, surgiu de dois jovens a ideia de criar uma torcida organizada para o clube. E foi assim que Lucas Boscardin, juntamente com Maurício Tusset, iniciou a história da Fúria Alviazul.
O desejo de reunir os jovens torcedores para fazer a festa nas arquibancadas virou realidade em 2004. A organizada só aproximou mais Boscardin de um sentimento que chegou arrebatador.
— Meu pai e minha mãe não eram torcedores do time. Não dá para explicar quando eu tive esse estralo de que ia torcer somente para o Esportivo. E isso veio de uma forma incondicional, fanática mesmo. Não sei como veio, mas hoje, da maneira que posso, tento cativar as pessoas para irem aos jogos — afirma Lucas, engenheiro civil e diretor de uma escola de idiomas, onde também tenta espalhar o sentimento pelo alviazul:
— Trabalho com cerca de 400 jovens, e quando eles estão falando de Inter ou Grêmio, digo que torço para o Esportivo. Tento mostrar para eles o orgulho de acompanhar o time da cidade, que é o que tenho e tento transmitir para eles.
Hoje, aos 31 anos, Boscardin lembra que na adolescência o amor pelo Esportivo quase acabou com uma paixão:
— Na final da Copa RS, em 2004, eu tinha de 15 para 16 anos e fui para Passo Fundo escondido da minha namorada. Quando voltei, ela não falava mais comigo. Depois, com o tempo, consegui reverter.