Existem professores que são referências para as crianças que começam a descobrir o mundo a partir dos primeiros anos escolares. Também tem os que se tornam modelos no ensino superior, para aqueles que estão encaminhando um futuro profissional e escolhendo uma carreira. E existe o professor Gerard Mauricio Fonseca.
Seja com as crianças das séries iniciais na Escola Municipal Santa Lúcia, no distrito de Santa Lúcia do Piaí, ou nos espaços acadêmicos da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Gerard é referência.
Com 25 anos lecionando na rede pública e 32 ensinando como professor universitário, ele segue contribuindo na formação de diferentes gerações e criando formas de se renovar como um exemplo para estudantes de todas as idades.
Aos 58 anos e com muita história para contar, Gerard tem nas crianças da Escola Santa Lúcia grandes parceiros e uma base para o que ensina aos acadêmicos de educação física da UCS. O que pode parecer em um primeiro olhar uma brincadeira simples, é na verdade a matéria de aula colocada em prática.
— Sempre preguei a teoria com a prática no meio acadêmico, e discutimos muito isso na universidade. Na escola, consigo aplicar todas ideias debatidas. É uma realização perceber que aquilo que se defende, realmente funciona. E também aquilo que não dá certo, se descobre o porquê. Não adianta querer falar na aula da faculdade coisas que tu sabes que na prática não vão acontecer — diz Gerard.
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Nos quase 40km entre a Vila Olímpica da UCS e o ginásio da escola no distrito de Caxias, o mestre consegue administrar o que recebeu de conhecimento das crianças para passar aos futuros professores:
— As crianças te dão um retorno muito grande na questão de experimento. Quando volto para a UCS, de noite, consigo passar a vinculação entre teoria e prática. Filmo algumas aulas aqui para mostrar lá.
Até se tornar essa referência, foram muitas horas em sala de aula como educador, mas também muito tempo aprendendo.
— Ser professor é gostar de ensinar, mas também gostar de estudar. Tua formação tem que ser continuada. Para ensinar tu tens que gostar da coisa. Eles te exigem do ponto de vista físico e do planejamento de atividades. A essência na educação é o querer fazer.
Para que a evolução da educação acompanhe o desenvolvimento de cada aluno, o professor acredita que uma união entre todas as partes precisa sempre acontecer:
— Gostaria que todos entendessem que o professor sozinho, a escola sozinha, não fazem nenhuma diferença. A família e o poder público têm que estar juntos. Se cada um souber cobrar do outro e fazer sua parte, acredito que a gente avança.
Gerard não é só um professor. É um símbolo na educação física em Caxias do Sul. E uma das motivações para a realização do excelente trabalho com suas turmas está em um pensamento que ele traz de casa.
— A aula que eu dou para eles é a mesma que eu gostaria que minha filha tivesse. E é isso que procuro sempre fazer — admite o professor.
Reconhecimento merecido
Em 25 anos lecionando na rede pública, Gerard viu a mudança de muitas gerações e a forma como se interpreta o ensino nos colégios se alterarem. As adaptações tecnológicas de cada época e o conhecimento adquirido mudam, mas há funções que não deixam de existir.
— A escola também tem que ensinar as crianças a se portar em um refeitório, a não conversar muito alto com um colega, a lavar a mão. Isso também é nosso papel. A escola é uma micro sociedade. Mas só a escola não vai fazer a diferença se a família não estimular, cobrar e exigir um pouco mais.
A construção de uma sociedade melhor passa também por uma qualificação de quem educa as crianças.
— Acredito que os melhores têm que estar na formação. Não adianta termos um professor de escola que não tenha uma grande formação, porque aqui é que está a importância. Aqui que eles vão gostar de educação física, de esportes. Despertar o gosto pelo movimento corporal, pela educação física– diz ele.
A história de Gerard é carregada de muitas teorias, ideias e ensinamentos. Porém, a emoção toma conta do experiente professor quando lembra a quantidade de alunos com quem trabalhou nas escolas e que o reencontraram na universidade.
— Eu até me arrepio. Tenho vários alunos na UCS e que foram meus alunos na escola. Muitos. É o maior prêmio que se tem. Saber que essa garotada vai chegar lá em cima e dizer “ó, fiz educação física por tua causa”. Me emociono ao falar isso, mas não tem salário que pague – diz o professor, com a voz embargada pela emoção e com a certeza de um caminho bem escolhido:
— A escola é onde tu mostras teu verdadeiro papel. E quando encontro eles no ensino superior, é algo fantástico.