Matheus Rocha, aos 26 anos, não enxerga limites para que o taekwondo mude sua vida. Ele porta as armas da luta para competir. Porta a vontade de querer sempre aprender e de fazer do esporte um diferencial no seu dia a dia. Matheus é portador de um desejo incrível de vencer. Ele tem Síndrome de Down, mas a deficiência não o impediu de portar o sonho de se tornar campeão do mundo.
Matheus venceu na apresentação de armas, na categoria habilidades especiais, o Campeonato Mundial da Associação Americana de Taekwondo (ATA), uma das três entidades máximas da modalidade, em Little Rock, nos Estados Unidos, na metade de julho. Além disso, conquistou o bronze em fórmula (quando o atleta realiza os movimentos da luta sem um adversário).
Down não é doença e Matheus é, no máximo, portador das medalhas que carrega orgulhoso para cima e para baixo. Sua condição genética lhe traz algumas limitações, como todos nós temos em algum momento da vida. Até chegar ao título mundial, o atleta conquistou tudo o que disputou no Brasil e no continente. Campeão pan-americano nas quatro divisões – armas, sparing, sparing com bastão e fórmula –, se credenciou para a competição nos Estados Unidos.
O primeiro desafio foi vencer a falta do seu mestre. Há mais de uma década treinando com o professor Tadeu Drago, em uma academia no bairro Santa Catarina, Matheus viajou com a família para a competição, enquanto o mestre ficou no Brasil.
— Com as redes sociais fica tudo muito fácil. É como se estivesse perto. Além disso, o professor André Hermann, que mora em Niterói-RJ, já deu aula para o Matheus e estava na delegação da Seleção Brasileira, acompanhou ele — diz Drago, que ressalta a importância da participação dos pais e da irmã, que estavam com o lutador nos Estados Unidos:
— Nessa hora que se vê a importância da família. Os treinadores não podem estar em todos os momentos e o atleta viaja por conta própria. O relacionamento que tenho com os pais do Matheus é muito próximo. Acabo passando todas as demandas que ele precisa e eles administram essas necessidades.
Para Tânia Rocha, mãe de Matheus, a determinação do filho em conquistar o título foi marcante:
— Ele foi para o Mundial em 2016 e não conseguiu ganhar. Falou durante esses dois anos da vontade de voltar campeão. Ele quer fazer coisas para deixar os professores felizes. Quando o Drago mandou uma mensagem, ele ficou muito contente. É muito emotivo.
Presente nas duas edições em que Matheus competiu, Tânia diz que a dificuldade do campeonato em solo americano impressiona:
— É uma competição que tem o mesmo nível que a tradicional. Os juízes têm um senhor respeito pela categoria especial. Ele realmente competiu. No Brasil não tem competidores da idade e da categoria dele.
O orgulho de Matheus é do tamanho da alegria com a qual mostra as medalhas.
— Me motivou muito competir nas armas, me faltava a de ouro. Tinha essa vontade de ser campeão. Espero ser um exemplo para quem quer lutar — diz o orgulhoso lutador.
A conquista de Matheus com o quimono é tão importante quanto o seu exemplo. Segundo Tânia, o filho passou a ser inspiração de futuro para quem convive a síndrome de Down:
— Os pais dos bebês com Down vêm falar com ele por mensagens. Às vezes, os médicos te dizem que o teu filho vai ser dependente de ti a vida inteira. E ver o Matheus trabalhando, competindo, namorando, com muita independência, dá um novo ânimo para eles.