Musical e performático. É nesse o estilo que o Coro Juvenil da UCS estreia o espetáculo Contrapontos, no Teatro Pedro Parenti, em Caxias. Com a regência de Cristiane Ferronato e os arranjos de Teco Galali, a peça busca fugir de qualquer linha de contorno, tanto no que diz respeito ao som quanto aos próprios integrantes do coro.
— Os músicos não são só músicos, eles são artistas — explica Cristiane.
Contrapontos vem, de acordo com a regente, para ser um divisor de águas. Ao encontro de uma nova proposta conceitual, o grupo "vem para dar o seu recado":
— É um projeto bem audacioso, e uma das maiores audácias é o nível de sofisticação dos arranjos. Esse ano tenho em torno de 36 cantores, quase metade com pouca ou nenhuma experiência em palco. Mas eles já entraram de cara na montagem cênica. Foi um mergulho muito profundo em pouco tempo.
Outra estreia é a parceria com a direção cênica de Ricardo Alvarenga, que garante o tom performático da apresentação, transformando um espetáculo inicialmente mais musical em algo conceitual, com um forte viés político, onde, de acordo com Cristiane, a palavra contraponto contrapõe-se à loucura:
— Salve a diferença sim, salve o que incomoda! Por que a nossa liberdade incomoda tanto o outro, não é?
E é na temática da liberdade, das diferenças e da resistência, que o coral traz em seu manifesto escrito (confira abaixo) um pouco sobre o que poderá ser presenciado hoje à noite: “Mas não somos vazios. Somos plenos de vogais consoantes, exclamações, interrogações pontos e contrapontos”.
Para a regente, o mais importante em Contrapontos é justamente a formação heterogênea do grupo, em conjunto com a consonância que os próprios músicos desenvolvem:
— Estamos muito felizes com o engajamento das pessoas, inclusive com as diferenças entre os músicos. É muito bom poder se entender, se perder e se encontrar.
As apresentações do espetáculo se entendem até dia 9 de dezembro em Caxias.
Confira o manifesto:
Reticências. Espaços imensos de silêncio. Acontecem as perguntas todas, nessa suposta hora de fim. Reticências. Silêncio. Mas não somos vazios. Somos plenos de vogais consoantes, exclamações, interrogações pontos e contrapontos. A língua é um carretel a descarrilhar-se em dúvidas que se cruzam e se emaranham. Porque não somos só. Jamais seremos. Espaços imensos. De censura. Tarja preta. O que não se recomenda nessa hora? O tempo que não para para definições atrasadas ou definhamos numa espera. Não é que somos impacientes, mas temos no sangue a urgência. A gente acontece entre os gritos de aberração! Receitam. Rejeitam o que somos, mas pedem um futuro. Futuro? Acontecem todas as perguntas no fim. Estejam cientes: a carne, a cara, a cor, o cabelo, o sexo, nada nos define. Um homem não nos define. Um homem não nos governa. Um branco não organiza. Ninguém é só. O poder é tóxico. Não recomendamos. Tomem tento. Confundimos com nossas línguas. Explicamos na nossa língua. Desesperamos suas carências e vocês esperam da gente resposta. Mas só jogamos. Jogamos quebranto. E dúvidas. Contrapontos. Não esperem de nós, os não-recomendados. A justiça é de Xangô. Saravá. Nossa foto publicada no jornal denuncia o perigo: contrapontos. Nos equilibramos em arame e amor farpado, nós que origami yanomami tsunami passamos violentos por aqui, por a queer na radial, no preto, no perto, no aberto peito da nossa imensa coragem de reinventar o mundo. Nós que aqui estivemos assistindo a quebradeira estamos dizendo não. Não seremos nem teremos sido nada do que esperam. Contrapontos. Nós que aqui estivemos assistindo a quebradeira estamos dizendo sim. Seremos e teremos sido tudo do que esperam. Mas como Deus, seja lá o que isso signifique e em que parte do corpo se guarda esse sentido, estamos cheios do abuso, da receita, da definição, da inveja, do retrocesso. Se deus é tempo e destino, entramos em desacordo: contrapontos.
AGENDE-SE
O quê: estreia do espetáculo Contrapontos, pelo Coro Juvenil do Moinho da UCS.
Quando: hoje, às 20h.
Onde: Teatro Pedro Parenti (Dr. Montaury, 1333)
Quanto: entrada gratuita (retirar ingresso antecipadamente no local).