Neste sábado, o mundo conheceu uma nova mulher mais rápida do mundo: a jamaicana Elaine Thompson levou o ouro nos 100m rasos, impedindo o tricampeonato da compatriota Shelly-Ann Fraser-Price. Elaine sobrou. Já na metade da prova dava para ver que, desta vez, ninguém a desbancaria. Quando cruzou a linha de chegada com 10s71, ela disse:
– Meu Deus! Meu Deus!
Amigas, Shelly e Elaine, a nova campeão olímpica, festejaram juntas, com a bandeira da Jamaica às costas. O público as adotou, pelos sorrisos e os cabelos coloridos, além da simpatia e das brincadeiras com a torcida. A norte-americana Tori Bowie ficou com a medalha de prata (10s83), impedindo a dobradinha da Jamaica nos 100m feminino. A brasileira Rosângela Santos foi eliminada na semifinal.
Já o brasileiro Thiago Braz salvou o dia do atletismo brasileiro nos Jogos Olímpicos Rio-2016. Thiago deu show. Fez a terceira melhor marca (5m70cm), o que teoricamente lhe daria o bronze. O brasileiro de 23 anos só se atrapalhou um tanto nos primeiros saltos. Não havia jeito de superar os 5m45cm. Mas aí ele ousou. Arriscou. Tentou direto 5m60cm. Passou. Na sequência, voou para 1m70cm. O melhor de todos foi o norte-americano Sam Kendricks. O atual campeão olímpico, Renaud Lavillenie, segue na briga por mais um ouro. Augusto Dutra, 26, o outro brasileiro no salto com vara, ficou apenas em 22º lugar. Tirando Thiago, entretanto, muitas eliminações em verde-amarelo no atletismo.
A brasileira Rosângela Santos, 25 anos, foi eliminada na semifinal dos 100m rasos feminino. Ela chegou em quinto lugar em sua bateria de oito atletas, com o tempo de 11s23, e não conseguiu vaga na final. Em outra semifinal com a presença brasileira, Kleberson Davide até saltou na frente nos 800m rasos. Chegou a liderar a prova, mas cansou do meio para o fim, perdendo a chance de se acomodar na final, que será disputada segunda-feira. Perdeu a chance de, quem sabe, repetir Joaquim Cruz, ouro nesta prova em Los Angeles-1984.
Vitor Hugo dos Santos, 20 anos, não foi além da classificatória nos 100m rasos masculino, que terá semifinal e final disputadas neste domingo. As duas representantes brasileiras do salto triplo, a veterana Keila Costa e a jovem Núbia Soares, ficaram aquém do esperado. O atletismo brasileiro depositava alguma esperança de pódio nelas.
Keila, 33 anos, em sua terceira Olimpíada, não alcançou a marca mínima de 14m30cm, que garantia vaga na final diretamente. E nem entre as melhores marcas, já que só três atletas ultrapassaram este limite. Keila queimou a primeira e ficou abaixo dos 14 metros nas seguintes: 13m81cm e 13m85cm. Núbia, 20, recém-recuperada de lesão no joelho, parecia travada na corrida e nos saltos. Queimou a primeira tentativa, pisando além da tábua de impulsão. Depois, com 13m81cm e 13m85cm, ficou de fora da final. Nubia finalizou no 23° lugar. Keila, em 24°.
Nos 3000m com obstáculos, Juliana dos Santos finalizou em antepenúltimo lugar entre as 17 corredoras de sua bateria. Nos 400m, Jailma de Lima foi a penúltima de sua classificatória (6º lugar) e deu adeus aos Jogos Olímpicos. Geisa Coutinho também ficou no meio do caminho, na mesma prova.
Quanto aos ouros conquistados, além da jamaicana Elaine Thompson, o britânico Mohamed Fara ganhou nos 10.000m, seguido de Paul Tanui (Quênia, prata) e Tola Tamirat (Etiópia, bronze). O norte-americano Jeff Henderson faturou ouro no salto em distância. A prata foi para Luvo Manyonga, da África do Sul, restando o bronze para o campeão olímpico em Londres-2012, o britânico Greg Rutherford.
Bolt estreia bem
Filas quilométricas para entrar no Engenhão, onde acontecem as provas de atletismo. Houve quem ficasse mais de uma hora no sol. Valeu tudo para ver o mito Usain Bolt, para o qual convergem todos os holofotes depois do fim da participação de Michael Phelps nas piscinas. Quando ele pisou na pista, o estádio estava praticamente lotado, restando apenas alguns assentos mais caros. E o raio não decepcionou, mostrando que está bem fisicamente e regendo o público.
Como rei das pistas, ele colocou o indicador na boca, pedindo silêncio para ouvir o tiro de largada. E se fez um silêncio incrível no estádio. Dava para ouvir um mosquito zunindo. O jamaicano de 29 anos e 1m95cm passou às semifinais ganhando a sua bateria daquele jeito de sempre. Não larga tão bem, mas logo equilibra o corpo e, a partir daí, voa. Relaxou no finzinho para se poupar.
O tempo de Bolt foi de 10s07, um tanto acima do recorde mundial de 9m58s, obviamente cravado por ele mesmo, em 2009. O norte-americano Justin Gatlin, seu grande rival, ganhou bocejando a sua prova, com 10s01. O jamaicano Yohan Blake, outro candidato a pódio nos 100m, fez 10s11, igualmente sobrando.
O gênio segue na briga para ser tricampeão olímpico no domingo e se tornar uma lenda única no esporte. Ele ainda tentará ouros nos 200m e no 4x100m, provas que ganhou nas duas últimas olimpíadas, em Pequim-2008 e Londres-2012. Pode ser triplamente tricampeão olímpico, fechando a conta pessoal em nove medalhas de ouro. E tudo isso nas provas mais nobres do atletismo. Uma façanha que seria inédita.
A garra do britânico
Tocado involuntariamente por um corredor, o britânico Mohamed Farah caiu durante os 10.000m. Perdeu tempo. Foi ultrapassado. Ficou encaixotado no meio do último pelotão. Mas não desistiu. Deflagrou uma corrida de recuperação rumo ao bicampeonato, já que ele conquistou o ouro em Londres-2012. Teve de acelerar antes do tempo.
Mas um grande campeão nunca desiste. O público no Engenhão abraçou a sua causa de não desistir e o apoio com gritos e aplausos. Ele respondeu com garra incomum, no coração, fazendo expressões de dor no rosto, ultrapassando o queniano Paul Tanui nos últimos 250m.
Um verdadeiro show. Ele conquistou o ouro com o tempo de 27min05s17. Tanui, prata, fez 27min05s64. Tola Tamira, da Etiopia, bronze, marcou 27min06s26. Não havia brasileiros na prova, que no feminino teve a única quebra de recorde mundial até o momento no atletismo, batido pela etíope Almaz Ayana.
Elevador pifado
A empresa italiana encarregada do elevador automático que sobe e desce o sarrafo do salto com vara pifou, gerando constrangimentos na fase de classificação da prova, realizada na noite deste sábado no Engenhão, rebatizado de Estádio Olímpico durante o Rio 2016.
A juíza chamou os competidores e explicou que o sarrafo teria de ser erguido manualmente, pedindo paciência, numa cena inusitada dentro do gramado. O problema aconteceu em apenas um dos aparelhos. As duas áreas de salto foram instaladas justamente para agilizar a disputa.
Uma cena digna de ficar na história de todas as Olimpíadas aconteceu na noite desta sexta-feira, no Estádio Olímpico, que voltará a ser chamado de Engenhão após o Rio 2016.
*ZHESPORTES