2016, 2006 – 10 anos da primeira Libertadores da América e do Mundial de Clubes –, tanto a relembrar, mas nós, colorados, nunca estivemos tão distantes das nossas maiores glórias. No futebol, como em tudo, estamos vivendo a era das rupturas: o que era remédio virou veneno, a antiga solução agora é parte do problema. O mundo mudou, mas nosso clube não. O velho já morreu, e o novo ainda não nasceu - em um certo sentido, este dilema contemporâneo é vivenciado por quase todos os clubes do futebol brasileiro.
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Por estarmos presos ao passado, vivemos a fase aguda de duas crises, uma de liderança e uma de falência do modelo de gestão. O presidencialismo extremo, como o praticado no Inter, é muito dependente da forma de administrar proposta por seu mandatário. Hoje, o Inter tem um presidente, mas não tem um líder – e ter um presidente já não basta.
Um líder estaria conduzindo a chegada do clube ao novo século. Ao contrário disso, o que estamos presenciando é que, a cada dificuldade enfrentada, a solução é sempre a mesma: doses cada vez mais pesadas de passado, o futuro fica sempre para depois. A crise de liderança faz a tropa desanimar, contamina o vestiário, afasta o torcedor, desagrega o lado político do clube, não inspira novos líderes e nos faz caminhar em círculos.
Além disso, o modelo de gestão atual do clube ruiu. Desde 1909, em nossa exuberante história que orgulha a todos, os postos-chave sempre foram ocupados e executados por indicação política e amizade. Foi assim, através do empirismo, que chegamos às maiores glórias. Obrigado a todos, mas isso foi em outra época, com outro orçamento, disputando contra adversários que também eram administrados por amadores. Aquele mundo já não existe mais.
Os tempos são outros. O faturamento anual do clube gira em torno de R$ 300 milhões. Os adversários são profissionais, a informação está acessível a todos, os caudilhos do futebol acabaram, sem projetos. A consequência imediata, muitas vezes negada: nomes já não se sustentam. Os políticos ainda são importantes no background, estipulando metas e comandando as buscas pelos melhores profissionais, mas o protagonismo precisa ser do conhecimento e da inovação.
A informação hoje em dia está horizontalizada. Acreditem: muitas crianças de 12 anos conhecem mais de mercado de futebol do que velhos cartolas que têm acesso à informação apenas pelas ondas do rádio. Não há mais futebol de alto nível sem conhecimento, estudo, tecnologia e ciência, o empirismo de tempos de glória passada está nos levando para um pântano difícil de sair. A conexão precisa ser refeita.
*ZHESPORTES