Após receber a notícia da sua demissão, Paulo Porto não escondia a tristeza. Mesmo contido nas manifestações, em meio a inúmeros telefonemas da imprensa estadual, o treinador ainda não conseguia entender os motivos que levaram o Caxias a dispensá-lo.
Aos 60 anos, Porto entendia que este era o grande momento de sua carreira como treinador. Havia batido na trave com o Veranópolis, em 2007, e com o Inter-SM, em 2008, quando levou uma equipe egressa da Série B à semifinal contra o Juventude.
Confira trechos da entrevista com o treinador, publicada na edição impressa do Pioneiro desta terça-feira:
Pioneiro: Como você recebeu a notícia de que havia sido demitido do Caxias?
Paulo Porto: O Caberlon (Marcus Vinicius, diretor de futebol) me ligou às 22h do domingo e pediu que eu me apresentasse ao clube às 14h desta segunda. Estava na casa da minha família, em Taquari, porque segunda era dia de folga para os jogadores e a comissão técnica. Eu estranhei o pedido, mas vim. Não consegui dormir durante à noite pensando que não era possível. Tinha duas teses: ou seria demitido ou então o clube iria antecipar o planejamento para a Série C. Infelizmente, aconteceu o pior e ele comunicou a demissão.
Pioneiro: Você sai do Caxias com qual sentimento?
Porto: Não entendi os motivos, estou surpreso e decepcionado com a decisão. Profissionalmente foi uma droga. Perdi a oportunidade da minha vida e a chance de realizar o sonho de disputar a final do Gauchão. Esta foi a minha maior frustração. Foi tudo por água abaixo depois de tanto trabalho. Larguei tudo, minha família, mas o trabalho estava dando certo. Consegui fazer com que o grupo entendesse a proposta. O Caxias, por outro lado, tem o pleno direito de me demitir. Fizemos o acerto numa boa e não tenho problemas com isso. Mas tenho direito de ficar decepcionado.
Pioneiro: Quais foram os argumentos utilizados pela direção para explicar a sua saída?Porto: Ele (Caberlon) argumentou que os objetivos propostos pelo clube para o Gauchão não haviam sido atingidos. No início do trabalho, no ano passado, eu tinha metas a serem cumpridas: ser campeão do Interior, conquistar vaga na Copa do Brasil e ganhar o clássico contra o Juventude. Não concordei com a colocação e contestei. O Caxias é, no mínimo, vice-campeão gaúcho, conquista mais importante que o título do Interior; ganhamos o clássico, e estamos classificados para a Copa do Brasil. Além disso, projetamos vários garotos da base, como o Tiago, o Wangler, o Marcos Paulo, que ninguém conhecia e, hoje, estão prontos para jogar. O segundo argumento foi que o clube precisa se preparar para a Série C e este era o momento para trocar de treinador. Planejam um período de adaptação para o novo técnico.
Pioneiro: Lançar jogadores da base não era um objetivo proposto pelo clube?
Porto: Foi uma situação que não havia sido proposta, mas foi a solução para trabalhar com um orçamento pequeno e promessas de um investimento bom só para a Série C. Um terço do plantel que eu tinha era júnior e o investimento para o Gauchão foi de R$ 180 mil. Foi um dos menores investimentos dos últimos anos, metade do ano passado.
Pioneiro: Há algum motivo que explique a queda de rendimento no segundo turno?
Porto: O Caxias festejou demais. Com a prorrogação da passeata, as comemorações da conquista do turno se estenderam muito. Todos festejaram, direção, jogadores e comissão técnica, em consenso. Com certeza, para alguns atletas, a festa não acabou com a passeata. Depois de uma sequência de jogos desgastantes, jogando no limite da pressão, eles extravasaram.