A economia de Caxias do Sul cresceu 8,3% em setembro de 2024 na comparação com o mesmo mês de 2023. Os destaques ficam para a indústria, com elevação de 7,3%, e serviços, com alta de 15,3%. Por outro lado, o comércio caiu 0,3% no recorte temporal. Os dados foram divulgados pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) na manhã desta terça-feira (12).
Já ao comparar setembro com agosto deste ano, Caxias teve queda de 2,4%, sendo que indústria e comércio retraíram 3,5%, enquanto que os serviços tiram leve aquecimento de 0,2. Essa retração na comparação com mês anterior não ocorria desde maio.
Conforme o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC, Tarciano Mélo Cardoso, a queda na indústria entre setembro e agosto de 2024 se deve a menos dias trabalhados no nono mês do ano, redução na capacidade instalada, compras e vendas. Por outro lado, afirma que a elevação entre setembro de 2024 com 2023 são números reais e não sazonais:
— Esse declínio em setembro era esperado em razão de menos dias úteis, mas quando se compara com o ano passado, houve incremento, com números bem interessantes. 2024 é um crescimento real que observamos dentro das indústrias e são vários setores que vêm crescendo de forma harmônica, não tem um dado específico ou sazonal que pode ter criado esse número, é crescimento mesmo — acredita o economista.
O diretor aponta ainda que a economia local está com uma tendência de fechar o ano de forma positiva, com projeção de 5%, o que, segundo ele, é superior ao Rio Grande do Sul e ao Brasil.
— O Rio Grande do Sul obviamente afetado pelo que aconteceu com as enchentes. E na economia local temos um viés bem positivo para fechamento do ano, durante todo o exercício do ano tivemos números bem representativos, com exceção de maio. E o cenário nacional também vem trazendo um cenário positivo acima de 3% — destaca.
Gabriel Bertelli, gerente do hotel Swan, localizado no centro de Caxias, percebeu mudanças em setembro de 2024 na comparação com o mesmo mês do ano passado. Segundo ele, no período em 2023 a taxa de ocupação era de 49%, enquanto que em setembro deste ano foi de 69%. A maior clientela é de São Paulo.
— Isso para Caxias, se considerar 2023, é uma ocupação muito boa, porque Caxias tem o histórico de ocupação alta durante a semana e baixa aos finais de semana, e isso daria em uma média de 40% a 50% de ocupação, e neste ano estamos batendo em quase todos os meses, fora maio, nos 70% de ocupação — explica Bertelli.
O hotel conta com 120 quartos, com diárias que variam entre R$ 300 e R$ 500 — em épocas de feiras os valores mudam. Segundo o gerente, a alta em setembro deste ano se deve, principalmente, com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre — foi reaberto em 21 de outubro — e muitas pessoas usaram a cidade da Serra como ponto de chegada e partida, por ter o Aeroporto Hugo Cantergiani.
Mesmo com a reabertura do aeroporto em Porto Alegre, o Swan percebe que a taxa de ocupação tem se mantido. Ele destaca que eventos como a Mercopar, em outubro, e agora o Campeonato Brasileiro de Basquete Master têm auxiliado neste processo.
— Tivemos um mês de maio muito ruim, mas no acumulado do ano vamos superar nossas metas com bastante folga, principalmente porque nosso percentual de ocupação aumentou muito e teve um pequeno aumento na diária média — finaliza o gerente.
Outros dados da economia
Na análise do indicador acumulado do ano, comparando os nove meses de 2024 com o mesmo período de 2023, houve um incremento de 14,8% no setor de serviços, 4,7% na indústria e 2,1% no comércio.
O resultado geral do indicador é de 7,3%. O indicador acumulado em 12 meses apresentou um crescimento de 5,2%. O setor de serviços apresentou um aumento significativo de 15,5%. Os setores comércio e indústria também mostraram crescimento, embora em menor escala, com variações de 1,2% e 0,8%, respectivamente.
Sem datas no comércio
A quase ausência de datas comemorativas em setembro — a única foi a Semana Farroupilha, que movimenta a economia em um nicho mais específico —, a elevada taxa de juros, as incertezas econômicas e políticas e os efeitos dos eventos climáticos foram algumas das razões para que o comércio encerrasse o mês com queda de -3,5% em relação a agosto deste ano, conforme aponta a CDL. Também ocorreu retração de 0,34% com igual período de 2023.
Por outro lado, o setor ainda registra elevação de 2,13% no acumulado do ano, assim como alta de 1,20% nos últimos 12 meses. Dessa forma, o gerente Administrativo Financeiro da CDL, Carlos Cervieri, aponta que o Dia das Crianças, em outubro, a Black Friday, tradicional promoção de novembro, e o Natal, em dezembro, devem contribuir para um resultado positivo nos últimos meses do ano.
Já o assessor de Economia e Estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness, opina que o comércio caxiense vem apresentando sinais de recuperação ao longo dos últimos meses.
— De uma maneira geral, o consumo no Brasil tem se mantido, que é o que está puxando o crescimento (da economia). Nosso crescimento provavelmente vai fechar em 3% para a economia brasileira. Ele está calcado no consumo, o que nos deixa feliz e nos denota uma ponta de preocupação, porque o investimento, a produção, a oferta não se movimentam nos últimos meses, e quando você tem isso pode ter um surto de crescimento, mas para o ano que vem (pode ter) uma elevação nos níveis de preço — estima Ness.
Alerta nas exportações
Em setembro, o desempenho das exportações se manteve quando é feita a comparação com agosto, enquanto que as importações caíram: foram 61,43 milhões de dólares em exportações e 45,64 milhões de dólares em importações, resultando em um saldo na balança comercial de quase 16 milhões de dólares. Mesmo assim, o campo do mercado externo tem sido uma preocupação corriqueira entre os especialistas da economia caxiense na CIC.
Em todo o ano de 2022, a cidade exportou 776 milhões de dólares. No ano passado, foram 722 milhões de dólares. Já em nove meses de 2024 foram 672 milhões de dólares, o que gera preocupação, conforme análise de Tarciano Cardoso. Segundo o especialista, no cenário local não há grandes perspectivas de melhora para os próximos meses.
— Caxias está no topo da Serra, com dificuldades logísticas extremas, e ficou pior com a enchente. Perdemos praticamente 100% da malha ferroviária no Rio Grande do Sul, ou os acessos pelo menos. Vias áreas também ficamos com uma questão caótica aqui nos últimos períodos, agora está sendo resolvido. Talvez em um médio prazo, funcionando o porto (de Arroio do Sal), o aeroporto (de Vila Oliva) entrando em operação, e a questão terrestre das vias, que pega a Rota do Sol, que pode ligar ao Litoral, talvez a gente tenha uma melhora no custo Brasil — analisa o economista.
Mercado de trabalho*
Pelo quarto mês consecutivo, Caxias do Sul registrou dados positivos no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foram 715 vagas de emprego geradas no município em setembro (um saldo de 8.041 contratações e 7.326 demissões). O setor da indústria foi o responsável pelo maior número de contratações, com 501 novas vagas.
Um reflexo dos dados é visto na oferta de vagas de emprego no município. Na última sexta-feira (8), por exemplo, apenas a agência caxiense da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS/Sine) estava com quase mil ofertas de trabalho.
Das vagas, 502 eram de mais uma edição do EmpregarRS, um feirão de empregos. No mesmo dia, um atacarejo realizava ação semelhante no Centro de Caxias. A coordenadora do Sine em Caxias, Zenaira Hoffmann, crê que a grande oferta se dá por um aquecimento na economia visto após a chuva de maio.
— Muitas pessoas chegaram e consequentemente todos os serviços aumentaram, redes de supermercados, logística, limpeza e segurança tiveram um significativo aumento de oferta de vagas aqui na FGTAS/ Sine Caxias do Sul — afirma Zenaira.
A professora de Ciência Econômicas e coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, descreve que duas perspectivas podem explicar o aumento da oferta de vagas. A primeira é o período do ano, em que há um crescimento de postos de trabalho temporários — em que muitas vezes os contratados acabam efetivados.
Já a segunda, como descreve a especialista, é que existe uma "euforia" de aquecimento da economia, que surge com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) — mesmo que com gastos por parte do governo federal que podem não ser produtivos para o país (a professora esclarece que o PIB resulta do aumento de investimentos e aumento de gastos do país, independentemente de como sejam feitos).
— Isso dá um impulso. É o que os economistas chamam de voo de galinha. Sobe rápido e cai rápido, dá um pulo e cai. Então, esse fato está acontecendo em âmbito de Brasil e isso pode também, tendo em vista o próprio desempenho do setor da indústria e comércio, os dados de Caged e de Caxias do Sul, influenciado a geração desses postos de trabalho, grande parte deles pode ser contratos temporários — analisa Lodonha.
*Com Bruno Tomé
Como é calculado o desempenho da economia
Três grandes grupos compõem o cálculo que gera o desempenho econômico de Caxias do Sul, mas cada um com um peso diferente: indústria (53,4%), comércio (17%) e serviços (29,6%).